A mais recente notícia inócua que o Malafaia utiliza para acobertar seus próprios podres revelação “polêmica” sobre filmes Disney aconteceu na semana passada, quando, em entrevista à revista Attitude, o diretor Bill Condon declarou que a nova versão do clássico A Bela e a Fera terá “a primeira cena exclusivamente gay” dos filmes do estúdio. Os envolvidos seriam o vilão Gaston e seu capacho, LeFou. Não se sabe ainda o que uma cena “exclusivamente gay” quer dizer exatamente, mas imagino que LeFou vai acabar se declarando para o bonitão (como se elogiar seu “queixo másculo” e “pescoço grosso” em uma canção já não fossem o suficiente…), para não deixar sombra de dúvida que seus sentimentos pelo galã da vila vão bem além da mera amizade e admiração.
Acontece que não é de hoje que a Disney molha o pezinho na piscina LGBT. Sim, talvez o LeFou da versão live-action de A Bela e a Fera venha a ser o primeiro personagem explicitamente gay do estúdio. Mas o que não falta em suas animações são personagens que sinalizavam com força que são homossexuais, ou que acabaram sendo adotados pela comunidade LGBT como metáforas para suas próprias batalhas. Confira a seguir os principais:
Fera
A figura trágica da Fera, que conquistou as crianças do mundo, é decorrência direta da batalha que Howard Ashman, um dos compositores das canções do filme, travou contra a Aids. Ele é o autor das letras das canções dos filmes A pequena sereia, A bela e a fera e Aladdin. Ashman recebeu seu diagnóstico soropositivo em 1988, enquanto trabalhava em A pequena sereia. Segundo a revista Attitude,
A Disney há décadas desenvolvia A bela e a fera. Mas havia uma versão específica em produção durante os anos 1980.
Assim que completou A pequena sereia, o estúdio mostrou essa versão para os compositores Alan Menken e Howard Ashman. Ashman havia acabado de descobrir que tinha Aids. Foi ideia sua transformar a animação em um musical e fazer da Fera um dos personagens principais; até então, o roteiro havia dado atenção apenas para a história de Bela.
Para Ashman, em particular, a Fera era uma metáfora para a Aids. A Fera tinha uma maldição, e essa maldição havia trazido pesar para todas as pessoas que o amavam. Mas havia essa possibilidade de um milagre, uma maneira de se acabar com a maldição. Esse propósito era algo muito concreto para ele.
Depois da primeira exibição de A bela e a fera, em 10 de março de 1991, os animadores visitaram Ashman no hospital. Ele pesava 40 quilos, havia perdido sua visão e mal conseguia falar. O produtor Don Hahn lhe contou que o público havia amado o filme. O letrista morreu 4 dias depois, aos 40 anos. Ashman recebeu três indicações póstumas ao Oscar de Melhor Canção em 1992 pelas canções desse filme. Seu parceiro, Bill Lauch, recebeu a estatueta pela canção “Beauty and The Beast” em seu lugar.
Gaston
O grande vilão de A bela e a fera vem escapando linda da saraivada de críticas da qual a pintosa LeFou vem sendo alvo, como todo bom macho discreto no sigilo que se preze. Mas qualquer pessoa com o mínimo de compreensão das dinâmicas no mundo gay em cinco minutos saca qual é a do Gaston. Ele tem um corpo de Barbie peluda que para os gays é um dos “modelos de perfeição” (como também declama LeFou em sua canção). O que não falta é mulher caindo em cima dele (TRIGÊMEAS lindas e loiras, só pra começar), mas ele as despreza porque almeja Bela, a única mulher que, no fundo, ele sabe que não vai dar em nada (ufa!). Durante todo o filme ele espanca e depois afaga LeFou, um exemplo clássico de relacionamento abusivo. “Não há igual a Gaston”? Muito pelo contrário, já vi muitos.
Timão e Pumbaa
Era uma vez dois homens que viviam juntos num lugar distante, lindo e tropical. Um dia eles encontram um órfão abandonado, que decidem adotar. A família vive feliz e contente até que, já adolescente, o pimpolho se apaixona por uma mulher e seus pais não sabem lidar muito bem com isso. Basicamente essa é a trama que envolve os personagens Timão e Pumbaa, quando acolhem o protagonista Simba na segunda metade de O rei leão. Sério, “Can You Feel The Love Tonight” começa e termina, basicamente, como um grande lamento de um casal prestes a ver seu ninho ficar vazio.
Ratcliffe
Por muito tempo a Disney insistiu em jogar todos os significantes mais clichês da homossexualidade em seus vilões, talvez para ensinar às crianças que gente “do bem” constrói uma família normativa. Um dos maiores exemplos disso é o governador Ratcliffe, que enfrenta o oceano Atlântico para colonizar a Virgínia em Pocahontas. Trejeitos afeminados, biquinho, bigodinho, lacinhos nas tranças e um cachorrinho de madame… A sutileza aqui passou longe.
Scar
Na mesma leva dos vilões pintosos, aqui está Scar, o leão que nunca conseguiu uma fêmea para formar sua própria alcateia, tem um ressentimento mal-dissimulado de seu irmão viril, e, por alguma razão, mesmo depois de subir ao trono continua por ANOS sem escolher uma parceira com a qual gerar um herdeiro. Me ocorre também agora que o antro das hienas lembra muito a domingueira dA Loca.
Úrsula
Úrsula é, sem dúvida, a vilã mais interessante da Disney (beijo para Cruela Cruel). A bruxa que consegue fazer Ariel entrar num dos piores negócios das animações (“vou realizar seu desejo, mas se você não conseguir agarrar o príncipe eu vou ficar com sua alma, e só pra deixar tudo mais difícil você vai ficar muda”) tem seu visual inspirado pela drag queen Divine, musa do subversivo cineasta John Waters. Quem aprovou a versão “matrona de Miami” da personagem foi, sim, o mesmo Howard Ashman de A bela e a fera. Ashman foi o roteirista da adaptação da história de Ariel para a Disney, e era fã do diretor de Hairspray e da drag queen que interpretava a mãe de Tracy na versão original do filme.
Ariel
Mas Úrsula não é tudo que A pequena sereia tem a oferecer para o imaginário LGBT. A própria protagonista, Ariel, foi adotada por inúmeras pessoas trans como uma metáfora para sua própria realidade: alguém que nasce num corpo com o qual não se identifica, capaz de praticamente qualquer coisa para obter o corpo que corresponde a seus anseios. Além disso, “Part of your world”, a canção em que a sereia expressa como quer fazer parte de um mundo do qual é excluída, tem uma mensagem com a qual a maioria dos LGBTs já se identificou em algum momento da vida.
Flor
No mundo dos bichinhos animados, maneirismos mais suaves e cílios muitas vezes são os marcadores do gênero feminino. Eu fiquei muitos e muitos anos da minha infância sem perceber que o delicado gambazinho Flor, do longa Bambi, não era menina. A interpretação padrão do personagem é que trata-se de um exemplo animado de criança viada. Na última parte do filme, no entanto, ele encontra uma gambazinha para namorar. Fachada? Não acredito. Acho, isso sim, que é um belo exemplo de que masculinidade não precisa ser sinônimo de brutalidade.
Dumbo
Esse é outro personagem que ressoa com a história de inúmeras pessoas LGBT. Dumbo é um elefante que é ridicularizado e ostracizado por suas orelhas gigantescas. A única personagem que o ama incondicionalmente e nunca deixa de ter fé no elefantinho é sua mãe (infelizmente, nem todos têm a mesma sorte). No final da história, é com essas orelhonas que ele alça voo. A mensagem para pessoas queer de todas as idades: o mundo vai tentar rebaixar alguém por ser diferente, mas essa característica é o que torna você especial. Ser LGBT é seu superpoder.
Elsa
Assim como Dumbo, a princesa Elsa de Frozen é dona de uma habilidade maravilhosa que é forçada a esconder desde pequena. Ela vive no armário durante toda a infância, até que, já adulta, cansa de fingir ser quem não é e passa a viver plenamente sua verdade. Não é à toa que “Let It Go”, a canção em que a princesa decide revelar quem é ao mundo (“Livre estou, livre estou / Eu saí pra não voltar / Não me importa o que vão falar”), tornou-se um hino LGBT. Fugindo das tradições Disney, Frozen termina sem que Elsa se amarre a um príncipe; os fãs da animação estão em campanha para que, na já anunciada continuação Frozen 2, a princesa arranje para si uma namorada.
Esqueceram de falar do Bambi, um clássico
Vocês também precisam se lembrar do Clássico infantil “O Touro Ferdinando” que também debate claramente a temática LGBT.
Faltou o Jaffar e o Iago!
Ahh amei essa matéria ❤
Fiquei na dúvida se eu já sabia ou não que o Flor era macho, mas certamente na infância achava que era fêmea hehehe