“Saída pela esquerda!”. Era assim que o Leão da Montanha (originalmente, Snagglepuss) anunciava que estava prestes a fugir dos caçadores que o perseguiam nos desenhos da Hanna-Barbera. Quem sente saudades do personagem dos anos 1960 pode ficar contente: ele voltará à ativa em histórias em quadrinhos, publicadas pela DC Comics nos Estados Unidos. Longe das florestas, ele agora será um dramaturgo gay nos anos 1950.
O responsável pela nova versão do personagem será o roteirista Mark Russel, criador de outras adaptações de séries da Hanna-Barbera para as HQs, como Os Flintstones, Os Jetsons e Manda-Chuva. Em entrevista ao site HiLoBrow, ele explica que pretende reimaginar o Leão da Montanha como um dramaturgo gótico e gay do sul dos Estados Unidos. “Não precisei fazer muito esforço [para chegar nesse conceito]. Eu o vejo como uma versão trágica de Tennessee Williams; o Dom Pixote seria alguém tipo o William Faulkner, e os dois moram na Nova York dos anos 1950. Marlon Brando, Dorothy Parker e socialites que viviam na Nova York dessa época vão aparecer na história.”
O Leão da Montanha é considerado um dos personagens dos desenhos animados que mais claramente vivia no armário. “Os desenhos foram feitos numa época em que não se podia reconhecer a existência da homossexualidade, mas é bastante óbvio”, afirma Russel. “É um passo natural, então, apresentar o personagem num contexto em que todo mundo sabe que ele é gay, mas ele ainda tem que viver no armário. E com isso abordar a cena cultural dos anos 1950, especialmente na Broadway, onde todo mundo era gay, ou trabalhava com alguém que era gay, mas ninguém podia falar a respeito – e como é ter que produzir cultura cercado por esse silêncio.” Confira abaixo uma página da história.
Em suas adaptações dos desenhos animados da Hanna-Barbera para as histórias em quadrinhos, Russel utiliza os personagens clássicos para tecer críticas cheias de ironia ao mundo em que vivemos. Fred Flintstone, Judy Jetson & cia são reimaginados com traços bastante distintos dos que tinham na TV, e são colocados em situações mais adultas. Os Flintstones, por exemplo, têm que lidar com situações que na pré-história são novas, como a monogamia.
Uma prévia de oito páginas da nova série do Leão da Montanha será publicada na revista Suicide Squad/Banana Splits Annual, que chega às bancas em março, com uma história em que o personagem é intimado para depor perante o Comitê sobre Atividades contra a América, órgão censor da cultura nos anos 1950. A série terá início em outubro.
Dava muita pinta
Anacrônico e enfadonho.
Bem apropriado ele ser um dramaturgo porque na versão original o bordão dele era “Exit, stage left!” (algo como “Saída, palco a esquerda!”), uma linguagem de teatro, e acho que o próprio personagem sonhava em ser ator.