Ontem os noticiários foram tomados por manchetes que o mundo em geral, e a população LGBT em particular, esperam há décadas: “Cientistas britânicos podem ter encontrado a cura para o HIV”, anunciou a revista Exame; “Pesquisa britânica pode estar perto de descobrir cura para o HIV”, alardeou O Globo; “Homem britânico pode ser a primeira pessoa curada do HIV”, afirma o Hypescience. Dá a impressão de que logo mais o fantasma do HIV como um mal incurável vai acabar, e a Aids vai em breve virar uma DST tão preocupante quanto a herpes. Bem, a realidade é outra. Apesar dos novos estudos anunciados essa semana serem muito promissores, ainda não se sabe se seu resultado é realmente tão positivo – e, mesmo que seja, ele vai demorar um bom tempo para ser utilizado pela população em geral.
Vamos começar colocando os fatos em sua real proporção. A notícia verdadeira renderia uma manchete bem menos sedutora: “Resultados parecem positivos em primeiro paciente a testar tratamento experimental”. O tratamento em questão está sendo avaliado por um estudo britânico chamado RIVER Trial (RIVER aqui sendo a sigla para Research in Viral Eradication of HIV Reservoirs, ou “Pesquisa da Erradicação de Reservatórios Virais do HIV”), realizado em conjunto por vários centros de pesquisa do Reino Unido.
O que esse novo tratamento está tentando fazer é eliminar os vírus HIV que se mantêm escondidos no corpo mesmo quando o paciente soropositivo está fazendo tratamento antirretroviral. Hoje, se alguém que foi diagnosticado com HIV tomar seus remédios assiduamente, o número de cópias do vírus HIV em seu corpo vai cair até chegar em níveis tão baixos que não será mais detectado em exames de HIV – situação em que se diz que o paciente está com a carga viral indetectável. Isso não quer dizer que ele está livre do HIV. O vírus continua presente no corpo, dormente dentro de células. Se o paciente parar de tomar sua medicação, o vírus logo voltará a se multiplicar em seu organismo e seus exames voltarão a apontar a presença do HIV.
O estudo RIVER está experimentando uma nova tática, chamada de “kick and kill” (“expulsar e matar”). A ideia é oferecer uma droga usada no tratamento de câncer, chamada vorinostat, para pacientes que já estão fazendo tratamento antirretroviral. Essa substância ativa os vírus dormentes no corpo, tirando-os de seus esconderijos – o “expulsar”. É necessário então eliminar esses vírus, o que é feito com duas vacinas que ensinam o organismo a reconhecer e destruir esses vírus recém-ativados – a metade “matar” da tática.
O estudo teve início em dezembro de 2015, e vai contar com 50 pacientes. Até o momento, o RIVER só conseguiu recrutar 39 dos 50 voluntários de que necessita. Desses 39, apenas um terminou o tratamento. Os resultados desse primeiro voluntário (que permanece anônimo) não apontaram a presença do vírus. E essa é a verdadeira notícia que foi tão inflada ontem. Mas temos que lembrar que ele continua tomando medicação antirretroviral, e ainda será acompanhado pelo estudo por cinco anos até que se tenha a certeza de que o HIV realmente foi eliminado de seu organismo. “Vamos realizar exames genéticos extremamente detalhados para procurar por vírus HIV dormentes em suas células imunológicas”, afirmou o professor John Frater, da Universidade de Oxford, à BBC. Ou seja, ainda não há certeza absoluta de que o tratamento tenha dado resultado.
Mesmo que o resultado seja positivo (e torcemos para que seja), isso não garante que esse tratamento será adequado para todos. Os voluntários desse estudo são todos pacientes que contraíram o HIV recentemente, o que significa que seus reservatórios de vírus ainda são pequenos, e que seu sistema imunológico ainda não foi abalado pela doença. Esses são os casos mais simples. Posteriormente ainda será necessário conferir se esse tratamento, se bem-sucedido nesses casos “mais fáceis”, será eficaz com pessoas que são portadoras do HIV há muito tempo.
E se (dedos cruzados!) a terapia “kick and kill” mostrar-se realmente eficaz nesse primeiro estágio de pesquisa, ainda será necessário aguardar mais alguns anos para que a população em geral possa se beneficiar desse tratamento. “Esse é um estudo de fase 1 ou 2, realizado com poucas pessoas”, aponta Ricardo Vasconcelos, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Se ele mostrar resultados positivos, será necessário fazer um teste de fase 3, com milhares de pessoas, para que ele se mostre realmente eficaz e seguro. A urgência para que se encontre um tratamento contra o HIV pode acelerar um pouco os prazos, mas eu não esperaria nada para antes de, no mínimo, oito anos”.
Resumindo, há uma luz no fim do túnel, mas ainda há muito túnel a ser percorrido. Até lá, vamos continuar com as práticas que já se mostraram eficazes na prevenção e combate ao HIV: uso de preservativo, PrEP (tomar Truvada como forma de prevenção, previsto para ser oferecido pelo Ministério da Saúde até o final do ano), PEP (tomar o coquetel de antirretrovirais logo após de uma situação de risco para evitar que o vírus HIV se instale no organismo) e, em caso de diagnóstico soropositivo, fazer o tratamento antirretroviral até que a carga viral torne-se indetectável – afinal, quem chega a esse nível de carga viral não transmite HIV.
Há razões para ficar feliz? Sim. A cura do HIV está logo ali, virando a esquina? Definitivamente não.
Boa tarde
A existência dessa doença é um imenso gerador de stress e medo tanto pra quem tem como.pra quem não tem ,mas pensa nela a qualquer possibilidade de contágio, mesmo em.situações não sexuais ou de drogas ,a aids precisa ser debelada pois abala as estruturas psicológicas das pessoas o tempo todo ,e quem.de fato.está seguro até quanto a manipulação de objetos em laboratórios e hospitais? ou em um acidente?viver entupido.de remédios seja para esta ou outra doença será a sina da humanidade?