Traduzido do artigo de Alex Hopkins para o site Gays.com
Mais uma vez eu sobrevivi ao dia mais desprezível do ano: o dia dos namorados. Pode guardar para você os chocolates carésimos, os cartões cafonas e todas as outras bobagens comerciais associadas a essa tradição hétero melosa. Eu, por minha vez, vou me aconchegar em casa com uma taça grande de vinho, tirar os sapatos e relaxar na frente da TV.
Nós solteiros tentamos com todas as forças ignorar essa data, mas é impossível escapar de toda a pressão social que menospreza aqueles que não fazem parte de um casal. Se o seu humor está particularmente vil (como o meu, esse ano), é fácil cair numa espiral de negatividade avassaladora, e convencer-se que as coisas vão ser assim para sempre; que nunca se encontrará “a pessoa certa” que, dizem, todos nos merecemos; e que – o pensamento mais horrível de todos – se esperou demais para se tentar estar num relacionamento recompensador, ou seja, se está condenado a ser a tia solteira da paróquia até chegar o dia de se bater as botas.
Será que há uma data-limite, depois da qual, se ainda solteira, a pessoa está fadada a permanecer assim para sempre? Só quando se cai numa visão negativa, me disse um amigo de confiança, que encontrou seu marido aos 38 anos e tem amigos que conheceram seus parceiros a longo prazo quando já passavam dos 40 anos. Tudo depende da sua atitude. E no entanto tornou-se claro, conforme conversei com mais e mais homens, que as coisas não se tornam mais fácil no mundo dos relacionamentos conforme se amadurece.
Paul Brown, agora com 62 anos, já esteve em vários relacionamentos, mas agora está solteiro há vários anos. Ele acredita que o preconceito pela idade é um grande problema entre os gays. “Cabe a cada um erguer-se acima disso e manter a qualquer custa a crença de que há uma pessoa para cada um no mundo”, afirma. “Eu me recuso a acreditar que esse lado da minha vida acabou. Cada pessoa que surgiu na minha vida chegou quando eu menos esperava, quando eu não estava ativamente procurando alguém ou não estava me preocupando com isso. Ainda pode acontecer. Mas também é importante lembrar que estar solteiro não torna ninguém inferior às outras pessoas.”
Essa afirmação que Paul Brown faz a respeito dessa sufocante pressão social para que estejamos em um relacionamento é crucial – e certamente algo que também me faz sofrer. Paul Hallam, 63 anos, um ano a mais que Brown, também pondera sobre isso: “Eu não vejo qualquer razão por que alguém deva almejar a ser ‘a metade de um casal’, apesar de desejar muita felicidade para aqueles que gostam de estar nesse tipo de relacionamento. Eu já estive em relações que duraram alguns anos. Depois que nós não estávamos mais numa relação ‘de casal’, a maneira como eu me relacionava com os ‘ex-parceiros’ se desenvolveu de outras maneiras. Enquanto isso, relacionamentos que fugiam ao modelo de casal, e que eu jamais chamaria de simples amizades, perduraram e continuam a surgir. Estar ‘solteiro’ ainda é muitas vezes visto como algo indesejável ou triste… Mas isso não é necessariamente verdade.”
Com a idade vem a independência, e a apreciação do que se quer e se necessita na vida. Aos 20 anos, talvez nós fôssemos capazes de tolerar comportamentos inaceitáveis de um parceiro, mas isso torna-se mais improvável conforme se envelhece, e nós passamos a nos conhecer melhor e a respeitar as vidas que criamos. Collin Kelley, um poeta de 46 anos, acredita que isso é vital. “Eu tenho a esperança de que alguém pode aparecer em meu caminho”, afirma, “mas quanto mais velho eu me torno, menos disposto a abrir mão do que eu gosto. E eu também me recuso a ‘me conformar’ a estar com alguém apenas para não ficar sozinho. Se eu não puder encontrar alguém e sentir o relâmpago do amor, então eu vou permanecer solteiro.”
E, no entanto, coisas maravilhosas e empolgantes ainda podem acontecer quando se permanece aberto a novas pessoas e novas vivências. “Eu nunca esperava conhecer um parceiro novo, e muito mais jovem, aos 54 anos”, confidencia Jonathan Loudan. “Foi intenso e surpreendente me apaixonar e sentir mais uma vez aquela alegria toda já com mais de cinquenta anos. Agora já acabou, e ao mesmo tempo que me pergunto quando é que a situação pode se repetir, eu sinto que, ‘bem, mesmo se isso não acontecer novamente, pelo menos a última vez foi boa’.”
Curioso, como as matérias aqui no Lado Bi se complementam. Estava lendo as matérias da Jogadora de Rugbi que foi pedida em casamento e também sobre a necessidade de expor isso na internet. É complicado porque, se por um lado estamos sendo vistos e tudo mas ao mesmo tempo reforça essa ideia de que o ideal é quando se está em par, como mostra essa matéria aqui.
Com 31, eu já admito não estar mais a procura de ninguém. OK, se acontecesse seria maravilhoso, mas se não acontecer, estou bem e vivo, obrigado. Não vejo a necessidade de estar com alguém, mas não descarto a possibilidade. Mas é fato, se não for pra acrescentar, mantena distância.