A Marvel Comics está realmente disposta a tornar seu universo de super-heróis cada vez mais diverso (viva!). A revista Time anunciou que, após o evento Guerra Civil II, Tony Stark deixará de ser o Homem de Ferro e passará sua armadura para uma nova personagem, Riri Williams, uma garota negra de 15 anos.
Riri já foi apresentada aos leitores em maio, em Invincible Iron Man #9. Ela é um prodígio da tecnologia, estudante do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que foi capaz de recriar por conta própria a armadura do Homem de Ferro – e foi expulsa da universidade por causa disso. “Para distrair-se de tudo que está acontecendo em sua vida”, conta para a revista Time Brian Michael Bendis, roteirista responsável por Civil War II, “ele vai ao encontro dessa jovem que está voando pelo país numa armadura que ainda não está bem finalizada, e tenta descobrir o que ela quer.”
Os fãs já repararam que essa nova versão do Homem de Ferro (que, provavelmente, vai adotar um nome heroico diferente sem o “homem”) está em posição de destaque nas artes promocionais do próximo evento do universo de quadrinhos da Marvel, Divided We Stand, que, segundo o editor-chefe Axel Alonso, estabelecerá a nova realidade dos personagens da empresa daqui para frente.
Vale lembrar que Riri não é a primeira negra a vestir a armadura do Homem de Ferro. James “Rhodey” Rhodes já ocupou o lugar de Stark e depois adotou o nome Máquina de Combate. Também é bom apontar como a Marvel vem introduzindo a diversidade em vários de seus personagens clássicos: Miles Morales, um garoto negro e latino, veste o uniforme do Homem-Aranha; Kamala Khan, de origem paquistanesa, é a nova Ms. Marvel; Jane Foster empunha o mjolnir como a versão feminina de Thor; e vários de seus personagens são LGBT, como Estrela do Norte, Hulkling, Wiccano, e, mais recentemente, o Homem de Gelo.
Confira abaixo a entrevista que Bendis concedeu à Time:
Como você teve a ideia para a personagem Riri Williams?
BENDIS Uma das coisas que ficou na minha cabeça quando eu estava trabalhando em Chicago há uns dois anos, em um programa de TV que acabou não indo ao ar, foi quanto caos e violência há por lá. E a história dessa jovem brilhante, cuja vida foi marcada por tragédias que poderiam ter facilmente acabado com sua vida – nada mais que violência de rua aleatória – e conseguiu ir para a faculdade me inspirou muito. Achei que essa seria a versão mais moderna de um super-herói ou super-heroína que eu já tinha ouvido. Eu guardei essa ideia por um tempo até que eu tivesse o personagem certo e o lugar certo.
Como estamos, lentamente e, espero, muito organicamente, adicionando esses novos personagens ao Universo Marvel, parecia natural que esse tipo de violência inspiraria uma jovem heroína a se erguer e tomar uma atitude. Para mim era muito empolgante o conceito de que ela utilizaria sua sagacidade científica, suas habilidades naturais, que ainda estão em estado bruto mas tão além das que Tony Stark tinha naquela idade.
O que já vimos dela nos quadrinhos do Homem de Ferro até agora?
Na edição mais recente do Homem de Ferro, Tony está em seu laboratório falando sozinho, e já está ciente de que algum estudante do MIT conseguiu reproduzir uma de suas armaduras mais antigas, por si só, em seu dormitório. Ele imediatamente fica sabendo que ela existe.
Como foi a recepção dessa personagem até agora (antes desse anúncio)?
Felizmente, graças ao meu envolvimento na criação de Miles Morales e Jessica Jones e alguns outros personagens, Riri Williams está sendo bem recebida mesmo pelos fãs mais ranzinzas. Há fãs que dizem “mostre pra gente coisas novas”, e há os que dizem “não façam nada diferente do que eu lia quando era criança”. Então, quando se apresenta novos personagens, você sempre tem gente paranoica com a possibilidade de que possamos arruinar suas infâncias.
Eu já trilhei esse caminho com Miles Morales, Jessica Jones, Maria Hill. Eu sabia que estava em boas mãos com Mike Deodato e outros artistas, que estão ajudando a visualizar a Riri.
O elenco diverso de personagens da Marvel vem causando alguma controvérsia entre alguns subgrupos de fãs.
Acho que tem gente que não percebe como alguns comentários online soam racistas. Não quero dizer que se você tem críticas, você é racista, mas quando alguém escreve “Por que precisamos da Riri Williams quando já temos o Miles?”, no mínimo soa estranho. Eles são indivíduos, assim como o Capitão América e o Ciclope são indivíduos. Tudo que eu posso fazer é explicar meu personagem, e quem sabe eles vão perceber com o tempo que esse tipo de pensamento não é lá muito progressista.
Mas isso ocorre cada vez menos. Desde que Miles chegou às bancas, e Kamala Khan, e a Thor mulher… Havia uma parte do público se arrastando pelo deserto, procurando um oásis de representatividade, e agora ele se encontra aqui. Daí você vai para a internet e é recebido por essa onda de amor.
Acho que a coisa mais importante dessa personagem é que ela foi criada num cenário orgânico. Nós nunca fizemos uma reunião e decidimos “precisamos criar essa personagem”. Ela foi inspirada pelo mundo ao meu redor e por não ver esse tipo de pessoa representada o suficiente na cultura popular.
Por que levou tanto tempo para transformar os Vingadores, de uma equipe de caras predominantemente brancos, nesse conjunto mais diverso de personagens?
Quando se conversa com qualquer autor mais antigo, descobre-se que essa é a coisa que eles gostariam de ter feito mais – refletido o mundo a seu redor. Acontece que essa não era a posição em que o mundo se encontrava naquela época. Agora, quando se tem uma jovem que chega para você e diz como ela está feliz por ser representada nesse universo, você sabe que está indo para a direção certa.
Eu não quero estragar nenhuma surpresa para os fãs –
Muita gente vai ficar chateada porque eles acham que sabem como vai acabar a Guerra Civil II, depois disso tudo que a gente conversou. Mas eu posso dizer que não é só porque você está escutando o que acabamos de dizer, que você sabe qual vai ser o final de Guerra Civil II. Nós não vamos revelar o final antes da hora de jeito nenhum.
O que leva Tony Stark a essa situação de abandonar a armadura?
Estamos no meio de uma trama bastante importante para Tony Stark – na verdade, a convergência de três tramas. Seu melhor amigo morreu, sua empresa está entrando em colapso e ele está descobrindo quem são seus pais biológicos, tudo ao mesmo tempo. Esse é um momento estressante para um personagem que funciona da maneira que Tony funciona, com o tipo de carência que o Tony tem.
Tony também é mestre em não dar atenção para as coisas que são mais importantes e ficar se distraindo com coisas dos Vingadores. Como isso tudo vai se dar quando Tony não está mais vestindo a armadura? Você vai ter que descobrir até o final de Guerra Civil II. Isso tudo abre um caminho para Riri Williams, alguém que Tony vai encontrar e com quem vai passar a interagir muito em breve nos quadrinhos.
Como eles vão se conhecer?
Para distrair-se de tudo que está acontecendo em sua vida, Tony vai ao encontro dessa jovem que está voando pelo país numa armadura que ainda não está bem finalizada, e tenta descobrir o que ela quer.
É meio difícil voar por aí sutilmente vestindo uma armadura de Homem de Ferro.
Dá pra imaginar que Tony tem um alerta para “armadura de Homem de Ferro” em seu Google Alerts.
Ele também está ciente de que essa jovem está ultrapassando-o com relação à velocidade em que ela conseguiu fazer isso. Pode ser que o cérebro dela seja um pouco melhor que o dele. Ela enxerga as coisas de uma perspectiva diferente que torna sua armadura única. Ele não consegue deixar de pensar que talvez deveria comprar seus talentos.