Traduzido do artigo de Posey Gruener e Bill Radke para a rádio KUOW
Essa é uma história de amor e guerra; de amor perdido e amor novamente encontrado.
Em 2004, Nayyef Hrebid (à direita, na foto) trabalhava como intérprete para os fuzileiros navais norte-americanos no Iraque, e Betu Allami (esquerda) era um soldado no exército iraquiano.
O hospital geral de Ramadi havia sido tomado por rebeldes. Hrebid e Allami faziam parte de uma missão com o objetivo de retomar o hospital. Essa era uma missão perigosa, numa cidade perigosa, num momento perigoso da guerra.
À noite, depois que os estresses do dia haviam terminado, os dois homens se encontravam num refúgio para se recuperarem. Eles comiam uma refeição, depois sentavam-se no quintal e conversavam por horas.
Hrebid lembra que essas conversas ajudaram-no a manter-se são durante uma época difícil.
“Porque, você sabe, a gente vê pessoas mortas. A gente luta. Então a gente conversa sobre nossa vida e nosso passado, sobre como nos sentimos, sobre onde gostaríamos de estar no futuro”, explica Hrebid. “Isso era algo muito lindo naquele momento difícil.”
Nenhum dos dois era abertamente gay, mas eles sabiam que gostavam um do outro. Depois de apenas quatro dias, Allami disse para Hrebid: “eu te amo”. Hrebid lhe deu um beijo em resposta. Allami recorda-se que ficou tão feliz que não conseguiu comer por dois dias.
Mas eles estavam no Iraque, onde ser gay é um problema. Se eles fossem pegos, eles poderiam ser condenados a 15 anos de prisão, ou pior.
“Ser gay no Iraque é muito perigoso”, lamenta Hrebid. “Significa perder sua vida. Você passa a ser a vergonha da família. Perde-se a família, perde-se os amigos, perde-se quase tudo. É por isso que se tem que encontrar outras maneiras de ser gay por lá, algo apenas entre você e, quem sabe, o outro.”
Por quase cinco anos Hrebid e Allami mantiveram seu amor em segredo. Às vezes amigos lhes ajudavam a se encontrar. Mas eles não podiam amarem-se abertamente.
Em 2009 a vida de Hrebid entrou em risco por outra razão. Ele tornou-se o alvo de militantes iraquianos por causa de seu trabalho como tradutor.
“Eles começaram a escrever nossos nomes nos muros das ruas; eu não podia mais encontrar minha família, toda minha vizinhança sabia que eu trabalhava com os americanos, eu passei a ser chamado de traidor”, recorda-se.
Com o auxílio de um capitão do exército norte-americano, Hrebid conseguiu asilo e passou a viver nos Estados Unidos. Ele se mudou para Seattle em 2009. Mas ele teve que deixar Allami no Iraque.
Allami afirma que ficou feliz por saber que Hrebid estava em segurança e podia finalmente ser abertamente gay. “Eu, no entanto, continuei a viver no Iraque. E agora eu estava sozinho, era tão difícil”, conta.
“Eu me senti muito culpado por ter que deixá-lo para trás”, confessa Hrebid.
Os dois mantiveram-se em contato constante, por telefone, por Skype ou outros meios. Hrebid passou anos tentando encontrar uma maneira de trazer Allami para Seattle, para que os dois pudessem viver juntos.
Por causa do histórico militar de Allami, era muito difícil conseguir permissão para que ele entrasse nos Estados Unidos. Nessa época a vida do soldado também se complicou, muito. Um parente descobriu que Allami é gay, e Allami passou a temer por sua vida.
Com o auxílio de amigos, Hrebid conseguiu transportar Allami para Beirute, no Líbano, onde estaria seguro. Depois Hrebid arranjou uma forma levar Allami até Vancouver, no Canadá. Hrebid pôde, então, passar a visitar seu amor novamente.
Os dois viveram em lados opostos da fronteira e encontravam-se todas as semanas. Em fevereiro de 2014 os dois casaram-se no Canadá, numa cerimônia pequena.
No início de 2015, finalmente, o casal conseguiu uma consulta com o departamento de Imigração norte-americano. Hrebid lembra-se claramente do dia.
“Esse foi um dos maiores dias da minha vida. Nós fomos lá juntos, eu estava carregando pilhas de papeis, fotos e cartas para comprovar nosso relacionamento. A entrevista durou apenas 10 minutos. Ela fez perguntas muito específicas sobre como nós nos conhecemos, a quanto tempo nós estávamos juntos, e que tipo de conexão nós temos. Depois disso ela disse ‘você foi aprovado para obter um visto de residência aqui nos Estados Unidos'”, relembra Hrebid.
Ele foi pego de surpresa e começou a chorar e gritar imediatamente. “Eu perdi a compostura. Eu me descontrolei mesmo, porque finalmente isso estava acontecendo. Nós conseguiríamos morar juntos”, confessa. “Eu só queria acordar de manhã e vê-lo na minha frente. E, quando eu fecho os olhos, que seu rosto fosse o último rosto que eu vejo antes de dormir.”
Os dois casaram-se na península Olímpica em agosto de 2015, no que chamam de “casamento dos sonhos”. Hoje eles vivem em Capitol Hill, em Seattle. Depois de mais de uma década vivendo longe um do outro, eles estão gratos por – finalmente – conseguirem compartilhar o mesmo teto e a mesma cama.
“Nós temos um lar”, comemora Allami, “um apartamento, mas…”
Hrebid completa. “… para nós, é como se fosse um palácio.”
Bela história.
Linda historia, digna de filme de Hollywood. É tão difícil as pessoas entenderem que para a felicidade a saída do armário é a melhor alegria .
Gente… Que história! Estou simplesmente sem palavras! *-*