Traduzido do artigo de James Michael Nichols para o site Huffington Post e o projeto Let Love Define, em parceria com a ONG RaiseAChild, dedicada a encontrar novas famílias para crianças cujos pais biológicos não estão capacitados para criá-las
Literalmente de um dia para o outro Dustin Jolly e Kyler Katez deixaram de um casal sem grandes preocupações, que ainda não estava pronto para se assentar, e passaram a ser os pais de cinco filhos, quando tornaram-se os guardiões legais dos sobrinhos e sobrinhas de Dustin. Quatro anos mais tarde, enquanto deliciam-se naquilo que apelidam de “A Família Sol, Lá, Si, Dó do século 21″, a grande pergunta é: quem resgatou quem?
A mãe das crianças é a irmã de Dustin, que sofreu com um problema de vício em drogas até tornar-se incapaz de cuidar de seus filhos, cujas idades vão dos 7 aos 13 anos. Uma ligação feita por profissionais da escola em que estudavam, preocupados com o bem-estar dos irmãos, deu a Dustin e Kyler apenas 24 horas para tornarem-se pais instantâneos.
“Nós fizemos a única escolha possível – a única que sentíamos, em nossos corações, que era a certa. Nós tínhamos que tomar conta dessas crianças”, disse Dustin.
Juntos há dez anos depois de haverem se conhecido em Spokane, Washington, Dustin, 33, e Kyler, 32, haviam se mudado para Palm Springs, Califórnia, e haviam se tornado empreendedores na Internet. Eles viviam em um apartamento e, como explicou Dustin, “nos divertíamos e fazíamos tudo aquilo que jovens de 20 anos devem fazer, curtindo muito. Nós éramos duas crianças grandes”.
Ele continuou, “a gente achava que ter filhos seria algo bacana quando a gente fosse um pouco mais velho. A gente achava que seria demais adotar crianças quando a gente tivesse uns 35 anos. Até lá, a gente ia aproveitar a vida e ver o que acontecia. A vida aconteceu, e a gente sabia que teria que segurar o rojão porque essas crianças precisavam da gente. Claro, a vida virou uma montanha-russa, e, claro, alguns dias são melhores que outros, mas a gente não trocaria a vida que temos hoje por nada”.
A família instantânea de Dustin e Kyler inclui Ty, de 13 anos; Matilda, de 12; Marie, de 11; Mia, de 10, e Jason, o caçula, de 7 anos. Esses são pseudônimos que as crianças escolheram para si mesmos, já que seus nomes reais não podem ser utilizados porque ainda não foram formalmente adotados por Dustin e Kyler.
Sempre cientes da vida às vezes instável que as crianças tinham em casa, Dustin e Kyler sempre tentaram manter-se próximos de seus sobrinhos e sobrinhas, especialmente quando a mãe deles mudou-se do estado de Washington para a cidade de Lake Elsinore, Califórnia, próximo de onde moram.
“Sempre tentamos ir além do que se espera de tios, passando o máximo possível de tempo com eles e levando-os em passeios, mas a situação chegou num ponto em que tivemos que tomar as rédeas e cuidar deles. Nove meses depois da gente ter se mudado para Palm Springs, recebemos o telefonema da escola”, lembra-se Dustin.
Dustin e Kyle correram para Lake Elsinore e descobriram que a situação estava grave, e que a irmã de Dustin estava no fim da linha.
“Foi difícil. Quando a gente entrou no recinto, os rostos das crianças se acenderam, e a gente sabia o que tinha que fazer. A gente não podia conceber que eles fossem separados”, recorda-se Dustin.
Eles retornaram para Palm Springs com os quatro irmãos mais velhos, um cachorro, um gato e dois lagartos, e entulharam a nova família dentro do apartamento, o que obrigou Dustin e Kyler a tomarem algumas decisões rapidamente.
Eles se mudaram para uma casa, e depois para uma casa maior. Dustin e Kyler colocaram seus negócios em segundo plano e arranjaram empregos na Apple. Eles alistaram as amigas transgênero Erica e Brandy para serem suas babás, e a vida logo passou a girar em torno da lição de casa, listas de tarefas, pulos na piscina e aquilo que os pais instantâneos chamam de “o caos maravilhoso de se ter uma família”.
Mas uma peça desse quadro de família feliz estava faltando. A irmã de Dustin havia retornado para Washington, levando consigo seu filho mais novo, quando os outros se mudaram para Palm Springs. Preocupadíssimo com o bem-estar do garoto, Dustin descobriu onde estavam, e mais uma vez sua irmã pediu sua ajuda.
“Quando eu o encontrei, ele me disse ‘eu sinto tanto a sua falta, tio!’, e correu para os meus braços”, relembra Dustin, segurando as lágrimas. “Ele estava tão feliz de encontrar seus irmãos e irmãs, e eles estavam tão alegres por vê-lo. Fazia seis meses que estavam separados, e finalmente estavam juntos, a família inteira.”
Dustin afirma que ele e Kyle tentam ser honestos e diretos com as crianças quando se trata da mãe deles. “Nós frisamos que nada do que aconteceu é clpa deles, e que ela os ama, mas não consegue tomar conta deles. Os mais velhos, principalmente, têm umas histórias bem assustadoras para contar, então para nós é muito importante que agora eles sejam apenas crianças.”
“Às vezes a gente perde o sono, imaginando o que teria acontecido”, continua. “O que teria acontecido se a gente não tivesse pegado eles pra criar? Aonde eles estariam? Será que estariam passando frio e fome? Será que eles sequer estariam todos juntos? Agora eles não têm que se preocupar com nada além de serem crianças.”
E, hoje, eles são crianças felizes com pais que estão criando-os para que sejam responsáveis, respeitosos e cuidadosos com os sentimentos de seus irmãos.
“Eu tenho a impressão que antes eles tinham que competir por tudo, especialmente pela atenção, e isso fez com que eles tendam a brigar bastante uns com os outros. A gente se concentra em nos darmos bem um com os outros, em termos compaixão e cuidarmos uns dos outros. Cada um tem suas tarefas para fazer. Todo mundo ajuda a manter a vida funcionando. Às vezes rola algum solavanco, mas a vida está sempre funcionando”, ri Dustin.
Por terem dois pais gays e suas babás, Brandy e Erica, as crianças estão também sendo criadas para tornarem-se bem-resolvidos e tolerantes, aponta Dustin.
“O lance dos dois tios gays e tudo mais não chega a apitar de verdade no radar deles. A gente não é nada além de seus pais, que os amam, cuidam deles, e lhes dão o que precisam. Eles sabem que não é a família na qual eles nasceram, mas sim a família que formamos”, completa.
O futuro dessa família inclui o casamento de Dustin e Kyler, que já haviam assinado uma união civil em Washington, e a adoção formal das crianças.
“Nossa vida sem dúvida é diferente do que imaginávamos quando começamos a viver juntos. Se nós sacrificamos alguma coisa, isso nos é recompensado multiplicado várias vezes, na forma de um abraço ou um sorriso. Nós tínhamos uma vida incrível antes, e agora nós temos uma ainda melhor”, comemora Dustin.
[…] Por Marcio Caparica, do Ladobi […]