Pegue um ator notoriamente conhecido pela imagem de galã, pela esposa linda, pelo “vício em sexo” e pela pecha de cafajeste. Agora junte outro que não consegue ser feio mesmo que se esforce, astro de filmes de ação, e talentos para atuar (e físicos) reconhecidos. Embrulhe os dois em figurinos de trinta anos atrás e ponha os dois para se pegarem na frente das câmeras. Eis o filme Behind The Candelabra, produzido para o canal de TV a cabo HBO, que estreia dia 19 (sábado) aqui no Brasil.
O filme acompanha o relacionamento entre Liberace, o pianista mais famoso, cafona e enrustido dos EUA, e Scott Thorson, um garotão de 17 anos. Não é uma história com final feliz: o longa é baseado no livro de mesmo nome que Thurson publicou alguns anos depois dos dois se separarem, tirando do armário alguém que, apesar de extremamente espalhafatoso, sempre jurou ao público que era hétero. O diretor é Steven Soderbergh, responsável por Sexo, Mentiras e Videotape, Erin Brockovich, Onze Homens e Um Segredo, Traffic e Magic Mike, entre outros.
Como que suas fãs passavam batido pela exuberância bichésima de Liberace não dá pra compreender muito bem hoje em dia, mas lembremos que foi a mesma época em que Elton John, George Michael (ainda parte do Wham!) e Freddie Mercury também eram considerados héteros pelo público em geral.
Liberace foi um prodígio que começou a tocar piano aos 4 anos. Adulto, tocou em bares, hotéis, fez participações em filmes, e em 1952, com 43 anos, conseguiu um programa de TV, que era retransmitido por mais estações nos EUA que o clássico I Love Lucy. Quanto mais dinheiro ele ganhava com seus shows, mais extravagantes ficavam suas roupas, sua casa e seus cenários. Ele sobreviveu a décadas de críticas musicais de suas performances kitsch – sua resposta era “eu choro o caminho inteirinho até o banco”.
O filme tem início em 1977, quando Liberace e Thorson se conhecem, e segue até a morte do pianista. Michael Douglas encarna os trejeitos de bicha velha de Liberace sem receios. Matt Damon em nenhum momento convence que é um adolescente. Mas encarna bem o papel de alguém que ao mesmo tempo que explora a carência do coroa, também é explorado por sua beleza (e Damon está lindo) e acaba perdendo a própria identidade para continuar no relacionamento.
Mas o maior barato do filme é finalmente ver um casal gay sendo gay. Não há o menor constrangimento em mostrar os dois personagens principais em sua intimidade: eles tomam banho juntos, se beijam a qualquer momento, veem TV no mesmo sofá, e brigam. Discussões comuns entre casais gays, como “só eu sou passivo nesse relacionamento” ou “você disse que a gente podia abrir o relacionamento e agora vem com ciúmes”, são exibidas com naturalidade – algo ainda inconcebível nas nossas novelas #eroneniko. O roteiro inclusive faz uso disso para relatar ao espectador o passado de Liberace, que adora contar sua história para o namorado depois que transam – mais uma vez, algo que é absolutamente normal entre qualquer casal.
Os grandes estúdios juram que a razão por que não quiseram produzir Behind The Candelabra não era tanto pela gayzice do roteiro, mas sim porque Liberace não interessava a ninguém. Pode ser, mas acho difícil – mesmo os filmes de temática gay que chegam aos cinemas, como Brokeback Mountain e Milk, não mostram tanta sinceridade física entre os casais. E não é questão da eroticidade de cenas de sexo, mas sim de mostrar o afeto entre o casal gay com verdade – e não apenas num beijo/transa/banho de rio por desencargo, rapidinho, pra quem quiser fechar o olho não ver, e depois seguir o resto do filme “no sigilo”. Azar – Behind The Candelabra é o filme de maior audiência da história da HBO. “Ousadia” recompensa.
Nota nerd: podem falar muito do Matt Damon e como ele tá gostoso nesse filme, mas o mais gostoso do elenco todo é Scott Bakula, cujo personagem apresenta Thorson a Liberace (depois de catar o loirinho). Para não-trekkers, Bakula, entre outros papéis, interpretou o capitão Jonathan Archer no seriado Star Trek: Enterprise, que também fez bom uso de seu sex-appeal entre 2001 e 2005. O capitão continua batendo um bolão.
Concordo que este o filme retrate bem um relacionamento homossexual mas gostaria de destacar que, pelo menos no cinema, isto não é nenhuma novidade. Bom, novela não é um formato de mídia que me interessa muito, então não tenho muito a dizer sobre o assunto. O que posso dizer que uma novela é um produto (cultural mas ainda assim produto) como qualquer outro. Portanto se os personagens gays não estão devidamente representados, a melhor forma de protesto é o boicote. Meus amigos, assistir a novela diariamente para depois postar no facebook que não gostou não adianta de nada. Posso garantir que se houvesse uma campanha para os gays deixarem de assistir a novela eles seriam retratados de outra forma.