A luta pelo casamento igualitário está tomando força na Austrália. Previsivelmente, os conservadores de lá estão se incomodando com a possibilidade de que homossexuais tenham os direitos que sempre lhes foram garantidos. Como crianças birrentas que resolvem ir embora com a bola, um casal cristão lá da terra dos cangurus prometeu que, se gays, lésbicas e trans puderem se casar legalmente, eles vão se divorciar. “Casamento” não vai ter mais o significado que tinha quando trocaram alianças, argumentam.
Nick Jensen, que trabalha para um grupo de ativismo cristão, publicou há duas semanas um artigo na revista Canberra CityNews em que expõe seu raciocínio tortuoso:
Casamento é a união de um homem e uma mulher ante a comunidade sob os olhos de Deus. E o casamento de qualquer casal é importante para Deus, mesmo que esse casal não reconheça o envolvimento ou a autoridade de Deus nele. Eu e minha mulher nos recusamos a reconhecer a legislação governamental quanto ao casamento caso sua definição inclua casais homoafetivos. (…) Quando assinamos nossa certidão de casamento há dez anos na Igreja Batista de Tuggeranong, nós compreendíamos que o estado estava sancionando o casamento como era definido no momento, como uma instituição fundamental da sociedade – e tudo que isso implicava. Se esse não for mais o caso, então nós não queremos mais estar associados com essa nova definição. O casamento é sagrado, e o que realmente é “casamento” seguira sendo apenas o que sempre foi.
Nick afirma, no entanto, que não pretende se separar de sua esposa Sarah – eles se divorciariam, mas continuariam vivendo juntos, criando seus filhos, e usufruindo de todas as benesses legais a que maridos e mulheres têm direito legalmente, já que o governo australiano as estende a casais coabitantes.
A birra do casal quanto à possibilidade de que LGBTs tenham uma certidão de casamento igualzinha à deles já rendeu um fruto, pelo menos: outro morador de Canberra, Jesse Mount, criou um evento no Facebook para comemorar o divórcio de Nick e Sarah quando a Austrália passar a reconhecer o casamento igualitário. Com a data (um tanto otimista) de 1o. de setembro, ele já conta com mais de 180 mil confirmações até o momento. Jesse diz na descrição do evento:
Eu convido a todos que apoiam o casamento igualitário a virem celebrar o DIVÓRCIO de Nick & Sarah Jensen! Eles decidiram que permanecerem casados num país onde é legal um homem se casar com outro homem ou uma mulher com outra mulher, é simplesmente horrível demais. Eles preferem se divorciarem, e eu acho que nós todos deveríamos apoiá-los e celebrar sua decisão quando esse dia finalmente chegar. Nós estamos torcendo para que eles não voltem atrás em sua decisão quando centenas e centenas de LGBTs e apoiadores dos direitos LGBT chegarem para comemorar a separação desses cidadãos de mente tacanha.
Uma amiga do casal havia convidado os dois para seu próprio casamento, mas decidiu desconvidá-los depois dessa demonstração de mesquinharia. Anne Haggar, que esteve presente no casamento dos Jensen, declarou em texto para o site news.com.au:
Eu não quero que vocês cheguem perto do meu casamento. Vocês e seus pontos de vista não são bem-vindos, porque vocês estão certos: a instituição de que nós vamos fazer parte não é a mesma em que vocês pensam que estão. (…) Estou certa de que todos que já estão casados ou noivos conhecem exatamente essa sensação, a alegria de declarar e celebrar seu amor com familiares e amigos. Tenho plena certeza de que Nick e Sarah também se lembram dessa sensação – e essa é uma alegria que Nick decidiu que deve ser negada explicitamente a algumas pessoas. Isso me ofende, e ofende praticamente todas as pessoas que eu conheço.
A maior ironia dessa história é que o protesto de Nick e Sarah Jensen sequer é possível: a lei australiana apenas concede o divórcio a casais que estão separados e morando em residências diferentes há pelo menos um ano. Mas os dois já deixaram claro que continuarão dividindo o mesmo teto, então…
Mas a melhor resposta talvez seja a que o blogueiro (e pai) Rob Watson publicou no site LGBTQNation:
Caros Sr. e Sra. Jensen,
Fiquei triste ao ouvir sobre sua decisão de se divorciar caso o casamento igualitário se torne legal na Austrália. É bastante perturbador que vocês são capazes de descartar tão displicentemente algo pelo que outros lutaram tanto para conquistar.
Eu até entendo. Vocês tinham algo que fazia que vocês se sentissem acima dos outros, fazia que vocês se sentissem especiais e parte de uma elite. Mas isso nunca foi verdade.
Aqui nos EUA permite-se que assassinos condenados casem-se dentro do presídio, até mesmo pessoas que mataram suas famílias, como os irmãos Menendez. As pessoas com permissão para se casarem não são tão santas ou especiais quanto vocês pensam.
De qualquer maneira, essas pessoas aparentemente, na opinião de vocês, estão acima das pessoas que vocês não querem que se casem – pessoas LGBT.
Em sua declaração de sua decisão de se divorciar, vocês deixam claro que querem controlar as “regras”, ou vocês não vão mais querer participar do jogo.
Eu passei por uma situação parecida com um de meus filhos que, quando era novo, se recusava a participar de jogos a não ser que eles seguissem as regras que ele mesmo inventava. Demorou um pouco, mas eu finalmente consegui mostrar para ele que as coisas que realmente valem a pena não são aquelas que nos dão uma “vitória” não importa o que aconteça, mas sim aquelas que expandem a alegria e o amor exponencialmente.
As regras não valem nada se não se baseiam em princípios. Para que as coisas realmente tenham valor, entre esses princípios devem estar igualdade, justiça, inspiração, carinho e desenvolvimento positivo.
Vocês estão “caindo fora” não por causa de algo que afeta seu próprio casamento ou sua própria família, mas porque outra família pode vir a ter a oportunidade de ter segurança, honra e crescimento.
Sua lógica não faz sentido, não tem compaixão, nem faz com que alguém se torne melhor. As atitudes que vocês estão propondo são, numa palavra… infantis.
Essas atitudes não têm qualquer base na Bíblia, que permite o divórcio apenas em casos de adultério. Elas não têm qualquer base na história, já que o casamento tradicional tinha tendências à poligamia, como vocês temem que pode ser a consequência das mudanças que hoje acontecem no casamento.
Suas atitudes também refletem erros quanto à intenção daqueles que querem se casar. Vocês declararam que isso tornaria “o casamento… desligado dos filhos, [ele se tornaria] apenas uma questão de amor”. Isso não faz o menor sentido.
Famílias LGBT têm, e querem continuar a ter, filhos. Muitas vezes esses filhos foram resgatados de situações de risco de vida ou outras situações terríveis.
O desgastado argumento de que “todas as crianças merecem pais de biologias específicas” não tem qualquer valor para crianças que dariam qualquer coisa apenas para serem alimentadas, queridas, e dadas a oportunidade de deixarem de serem negligenciadas ou abusadas.
Muitos, muitos casais que hoje se casam não pretendem ter filhos.
Eu realizei o casamento de um homem e mulher adoráveis, ambos em seus 60 anos. Os dois desmaiariam na hora se ouvissem sua afirmação de que a união entre eles tem por base o fato de que eles teriam que ter filhos. Eles se casaram “apenas por amor” e têm sido uma inspiração por causa disso: hoje a esposa permanece firme ao lado de seu marido, que está corajosamente lutando contra um câncer de pulmão.
Casais LGBT não estão se unindo para irritá-los. Eles não têm qualquer intenção de afetar seu casamento de qualquer maneira. Eles lutaram muito para conseguir esse direito, porque é algo de grande valor em suas vidas.
Semana passada eu realizei o casamento de dois homens lindos. O significado desse casamento ficou claro para todos quando o primeiro noivo apareceu, levado por sua mãe. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Era evidente que esse momento era um ponto alto em sua vida, que ele estava transformando-se numa definição maior de si mesmo e de sua identidade como parte de uma família.
Se essa família é apenas ele e seu marido, ou se crianças entrarão nessa família, eu não sei. Isso não é problema meu.
Nem é problema de vocês.
Se vocês escolherem se divorciarem por causa do que esse jovem conseguiu para si e para sua vida, isso é direito de vocês. Assim como ele não jogou em cima de vocês a culpa por ter se casado, vocês também não devem jogar em cima dele a culpa por vocês se divorciarem.
E vocês escolherem se divorciar porque outros conquistaram algo que vocês valorizam em sua vida, vocês não estão tomando uma atitude em prol do casamento. Vocês não estão tomando uma atitude em prol do amor. Vocês não estão tomando uma atitude em prol da família. Vocês estão tomando uma atitude em prol de seus próprios egos feridos.
É hora de vocês crescerem.
A pessoa faz um depoimento desse e quer falar de AMOR, FAMILIA E EGOS FERIDOS ? sério mesmo ? Cada um tem o direito de ter sua opinião sobre algo, mas querem se divorciar, por causa do relacionamento alheio ? Aquelas promessas que fez frente a bíblia sagrada e o pastor ? “Na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe”. Essa promessa não somente entre o casal, foi uma promessa perante Deus. Casamento não é só um papel que vc assina e “desassina” , é um compromisso sério. E cada um tem que cuidar da sua própria família, colocar mais amor no coração e começar seguir mais o que está na bíblia, aprender mais com Jesus Cristo. O problema é que esse tipo de gente lê a Bíblia e filtra o que é favorável pra elas , acham que sabe de tudo e sai por aí falando baboseiras. Mas esse casal aí não tem palavras, são cheios de promessas e promessas, mas não cumpre o compromisso !
Eu já me juntei ao evento do divórcio dos dois.
Seria bom que esse tipo de gente fosse esterelizada também.
[…] Fonte: LadoBi […]
Maravilha essa ultimo texto!!!
É isso mesmo: alguns héteros estão mordidos porque não se sentirão privilegiados…
Nossa que samba foi esse último depoimento… palmas!!!!