Traduzido do artigo de Danielle Owens-Reid e Kristin Russo para a revista Advocate
Quer dizer então que seu filho saiu do armário e contou para você que ele (ou ela) faz parte da população LGBT! Talvez você esteja se sentindo feliz que ela (ou ele) abriu essa parte de sua vida para você, mas é também bem provável que você tenha uma porção de questões e preocupações, ou não saiba bem o que fazer agora.
Sair do armário pode ser meio espinhoso, e todos nós – pais e filhos – gostaríamos de corrigir algumas das reações e respostas que ocorreram naqueles primeiros momentos do processo. Nós condensamos os conselhos do livro que escrevemos, This Is A Book For Parents Of Gay Kids (“Esse é um livro para pais de jovens gays”), nas 10 dicas a seguir, para que você faça seu melhor para garantir que seu filho (ou filha) sinta seu apoio, seu amor e seu carinho.
- Não faça de conta que nada aconteceu. Seu filho contou que é gay, lésbica, bissexual, transgênero, ou qualquer uma das muitas variações da população LGBT. Para muitos pais, essa pode ser uma mudança mental difícil. Pode ser que ninguém no seu círculo mais íntimo compreenda bem o que você está passando. Você também pode se sentir culpado por não conseguir aceitar imediatamente a identidade de seu filho. A gente entende. No entanto, não permita que esses sentimentos criem uma situação em que você ignora o tópico por completo. Perdoe-se por seus sentimentos conflitantes, claro, mas não deixe que essas preocupações imediatas sufoquem o fato de que seu filho acabou de revelar para você uma parte muito importante de sua vida. Fique consciente de seus sentimentos, mas também reconheça a coragem dele. Pergunte como ele está se sentindo, conte que você está lidando com algumas partes desse processo, e – como vamos abordar no próximo item – converse com ele, de maneira carinhosa, sobre o que está se passando em sua cabeça.
- Faça perguntas. A sexualidade ou identidade de gênero de seu filho podem ser novidade para você, então faz todo sentido que você tenha dúvidas! Muitos pais sentem que não têm onde buscar respostas, mas a primeira coisa que você deveria saber é que há uma fonte excelente de informações em sua própria casa. Muito provavelmente seu filho enfrentou muitas dúvidas quando compreendeu a própria identidade, então o lugar em que você pode mais facilmente encontrar várias das respostas para suas indagações é direto com ele. Pergunte se tem algo em específico que ele faz questão que você saiba ou compreenda (como, por exemplo, se algum termo o ofende), ou se há algum livro que ele gostaria que você lesse, ou programas de TV ou filmes que você poderia assistir. Pergunte se ele tem algum amigo com quem ele pode conversar sobre seus problemas, e como as coisas são na escola dele (acontece bullying? Como a escola lida com a homossexualidade? A educação sexual ensinada lá inclui práticas homossexuais?) Pergunte tudo que você sentir à vontade para conversar com ele, e depois, para encontrar as respostas para questões que você não quer abordar com ele ou que ele não quer responder, busque outras fontes!
- Não diga “Eu sempre soube”. Talvez você sempre tenha suspeitado que seu filho era gay ou transgênero, ou talvez você tenha percebido o afeto do seu filho por por alguém do mesmo sexo antes mesmo que ele se desse conta do que estava acontecendo, ou reparou alguns comportamentos que ele preferia e começou a presumir algo sobre sua identidade de gênero… e pode ser que você tinha razão o tempo todo. Isso não quer dizer que ele percebeu isso no mesmo momento em que você, ou que aquilo que você observou teve uma correlação direta com a maneira como ele descobriu sua identidade. O que é importante ter em mente é que seu filho percorreu um caminho bem específico até chegar num ponto em que ele se sentiu confortável para dividir isso com você. Quando você diz que “sempre soube”, pode parecer que você está fazendo pouco caso dessa jornada, e pode fazê-lo questionar sua aparência e comportamento de maneiras que talvez venham a ser muito prejudiciais. Então permita que ele se torne dono da própria história perguntando como é que ele veio a saber que era gay, ao invés de contar para ele como é que você percebeu!
- Discuta sobre contar para outras pessoas. Existe a possibilidade de que você se sinta confortável para contar para a sua família estendida sobre a identidade sexual de seu filho, mas existe também a possibilidade de que seu filho ainda não tenha chegado nesse ponto em seu processo de sair do armário. Pode ser que ele queira contar para a família toda, mas não se sente preparado para que seus amigos saibam; talvez ele esteja pronto para que outras pessoas saibam disso, mas sinta que é importante que seja ele quem divulga a informação. Também é possível que ele queira que todo mundo saiba, mas você não se sinta preparado para falar sobre isso! As combinações aqui são inúmeras, mas o que importa é: você tem que discutir isso com seu filho antes. Você não tem como saber o que ele pensa a respeito se você não perguntar, e vice versa. Sejam honestos com os sentimentos um do outro, e saiba que quase sempre há uma maneira de se chegar num acordo. Se você precisar de algumas semanas para se acostumar com a ideia da família inteira ficar sabendo, é questão apenas de especificar quanto tempo você precisa e explicar por que ele é necessário; se seu filho precisa de um pouco de tempo, esteja disposto a concedê-lo.
- Não faça suposições. Pode ser muito, muito fácil começar imediatamente a fazer suposições sobre o que a identidade sexual de seu filho significa sobre sua pessoa. Ouça bem: não faça suposição NENHUMA. Não faça suposições sobre o que ele vai começar a vestir, que lugares ele vai começar a frequentar, ou de quem ele está a fim. Ao invés de ficar supondo, repita o passo 2: pergunte. É claro que provavelmente você não vai conseguir respostas para tudo, mas perguntar é sempre melhor que ficar imaginando e bloquear completamente essa conversa. A sexualidade e/ou identidade de gênero de seu filho não influi em todas as escolhas e preferências dele – é apenas uma faceta de uma identidade muito complexa!
- Converse sobre sexo seguro. A maior parte das escolas não discutem satisfatoriamente o sexo seguro, ponto, quanto menos sexo seguro para a população LGBT. Mesmo se a escola em que seu filho estuda está na vanguarda desse assunto, a maioria dos jovens presta mais atenção no que seus pais têm a dizer sobre sexo (mesmo que estejam escondendo o rosto com as mãos o tempo inteiro ou revirando os olhos). No frigir dos ovos, sexo seguro é sexo seguro, não importa o gênero das pessoas envolvidas! O que é importante é se informar sobre todas as maneiras de se praticar sexo seguro, e então encontrar uma maneira de levar essa informação a seu filho.
- Não se adiante. Se você acha que seu filho é LGBT mas ele não disse nada ainda, tenha em mente que provavelmente ele não contou isso para você porque ele não se identifica como LGBT, ou porque ele ainda não está preparado. Se ele não tocou no assunto, é quase sempre melhor permitir que ele tenha tempo e espaço para compreender melhor a si mesmo. Esse tipo de compreensão, então, permitirá que ele se torne mais confortável para compartilhar essa parte de sua vida com você, o pai. Muitas vezes quando um pai questiona “Você é gay?”, o filho, num momento de pânico, responde “Não! Eu não sou!”. Isso faz com que, mais tarde, o momento de sair do armário se torne muito mais difícil. Faça sua parte criando um ambiente acolhedor em seu lar, em que não há dúvidas sobre seu apoio à população LGBT, e assim ele vai saber que, quando chegar o momento, seu amor continuará o mesmo.
- Considere a questão de gênero. Se sua filha quer namorar outras meninas, isso não quer dizer que ela quer ser homem, pai, mecânico, ou se casar de terno e gravata. Pode ser que ela venha a querer fazer alguma dessas coisas – ou todas – mas você não deve enquadrá-la em qualquer tipo de estereótipo de gênero por causa de sua identidade sexual. O mesmo vale para a identidade de gênero: se seu filho contou que é transgênero, isso não significa que você sabe o que ele vai querer vestir, quem ele vai querer namorar, ou que tipo de carreira ele vai seguir! Pais tendem a ficar bem confusos com questões de gênero e sexualidade, mas a maneira mais fácil de compreender essas coisas é lembrar-se de que cada pessoa é única, não importa sua identidade de gênero ou sexualidade. A sexualidade de seu filho não determina sua identidade de gênero, e sua identidade de gênero não determina sua sexualidade – ponto final.
- Não tente encontrar um culpado. A sexualidade e a identidade de gênero jamais são “culpa” de ninguém. Não é sua culpa, nem culpa da sua ex-mulher, nem do grupo de amigos de seu filho, nem daquela nova igreja inclusiva que seu filho começou a frequentar – não é culpa de ninguém. Pensar em termos de culpa ou tentar acusar alguém como o responsável sugere que essa parte de seu filho é “algo ruim” que “aconteceu” com ele. Isso simplesmente não é o caso. Nossas identidades são complexas e têm raízes muito profundas – elas não são moldadas exclusivamente pelas ações das pessoas à nossa volta, são específicas de cada um e são formadas por incontáveis fatores. Além do mais, o simples fato de que seu filho está compartilhando essa parte de sua vida com você e outras pessoas é algo extremamente positivo.
- Diga que o ama. Dizer isso nunca, nunca é demais. Mesmo que seu filho revire os olhos e saia andando, diga isso de novo. E de novo. Ele está escutando – pode acreditar, porque os filhos dizem aos psicólogos que escutam. No fim das contas, sair do armário não acontece perfeitamente para quase ninguém – somos todos humanos, afinal, e dizemos e fazemos coisas das quais depois nos arrependemos. A única coisa que temos para sempre, no entanto, é um ao outro. Lembre-o disso o tempo todo.
DANIELLE OWENS-REID e KRISTIN RUSSO são co-fundadoras da organização para jovens LGBT Everyone Is Gay e do site voltado para familiares de pessoas LGBT, The Parents Project. Encontre-as no Twitter: @everyoneisgay e @parentsproject.