Barack Obama grava discurso para abertura dos Gay Games

Enquanto no Brasil a presidência tenta se manter em cima do muro, afagando gays e ungindo evangélicos, nos EUA o presidente deixa claro seu apoio à população LGBT

por Marcio Caparica

Jogo político. Ele existe, os eleitoráveis têm que tentar amealhar a maior quantidade de votos, e assim num mundo ideal se cria situações em que alcança-se um meio-termo que agrade a todos – ou desagrade a todos igualmente, paciência. Nos EUA, onde o jogo político transformaria em farinha qualquer um dos políticos em nosso país, o jogo político já chegou a níveis de evolução tão avançados que fica difícil acreditar que qualquer político abra a boca sem ter antes ensaiado o que está prestes a dizer com cinquenta assessores. Os experts em opinião pública estão atentos o tempo todo para sentir para onde o vento vai soprar, e assim garantir a próxima eleição. Portanto, não há sinal melhor de que a igualdade entre a população LGBT e a população HT é o futuro que ver o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, transmitir uma mensagem de apoio durante a abertura dos Gay Games, que acontecem esse ano em Cleveland, Ohio.

“Eu sei que alguns de vocês vêm de lugares em que sair do armário é um ato de coragem e desafio, e às vezes até um grande risco pessoal”, ele diz no vídeo, exibido na cerimônia de abertura que aconteceu no dia 9 de agosto. “Saibam que os Estados Unidos estão a seu lado e apoia seus direitos humanos, assim como nossos atletas estão a seu lado durante esses jogos. Afinal de contas, o ideal dos Estados Unidos é que não importa quem você seja, qual seja sua aparência, de onde você vem, ou quem você ama, você pode conseguir o que quiser se tentar. É isso que nós somos, e é isso que nós nos esforçamos constantemente para ser.”

Enquanto isso, aqui no nosso país, com as eleições começando a pegar fogo, os políticos se viram do avesso para agradar os eleitores evangélicos, e daí quando se lembram que a população LGBT existe fazem um afago que não seja público demais. Nossa presidente compareceu na inauguração do fraudulento Templo de Salomão (e, no caso dos paulistanos, nosso governador e nosso prefeito também), a mansão nababesca e ilegal onde Edir Macedo agora reside. Mas continua tão omissa quanto antes quando o assunto são os direitos de gays, lésbicas e trans. Vai discursar para um público da Assembleia de Deus para tentar roubar votos do Pastor Everaldo. Uma declaração gravada que fosse em apoio a homossexuais e trans? Difícil.

Em sua campanha no Facebook, nossa presidente dá um jeitinho de colocar a constituição levemente de escanteio para glorificar o princípio religioso de seu governo, colocando seu rosto e suas aspas com destaque para quem quiser ver:

 

Quando, três dias depois, se ligaram que de repente os gays não curtiram tanto o fervor da candidata, jogaram um post no domingo à noite sobre uma campanha contra violência de gênero, em que se fala o mínimo sobre homossexuais, sem o rosto nem a voz de Dilma.

Antes de dizerem que temos problemas com evangélicos: não temos. Evangélicos que têm problemas com gays. Se evangélicos ficassem em seus templos rezando e cuidando de suas vidas e deixassem gays, lésbicas, trans, travestis e todos os outros viverem a vida como querem, não nos importaríamos nem um pouco com o tempo que os candidatos gastam com o povo ungido. O problema é que eles ativamente agridem e oprimem a população LGBT, e fazem esforços políticos para que não tenhamos os mesmos direitos que a eles são garantidos. Quando os candidatos eleitoráveis se esforçam tanto para agradar essa parcela da população, a comunidade LGBT tem que ficar em alerta.

Por enquanto, nos resta torcer para que os políticos aqui saquem que no momento quem realmente entende das tendências é Obama. E sigam seu exemplo. A transcrição de seu discurso para os Gay Games está a seguir.

Olá a todos! Sejam bem-vindos aos Gay Games 2014. E para os milhares de atletas, técnicos, familiares e espectadores ao redor do mundo, bem-vindos a Ohio e aos Estados Unidos da América. Desde 1982, os Gay Games dão a atletas gays, lésbicas, bissexuais e transgênero e seus apoiadores de todo o globo uma oportunidade de se reunirem para competir, celebrar e inspirar pessoas. Tem sido impressionante ver o sucesso dos Jogos Gays ao longo dos anos. Nós também vimos os EUA mudarem nesse tempo. Mesmo desde 2006, a última vez em que os Gay Games aconteceram nos EUA, na minha cidade natal, Chicago, nós avançamos muito em nosso compromisso de promover os direitos igualitários para as pessoas LGBT daqui e de todo o planeta. Eu tenho orgulho da trajetória do meu governo e dos cidadãos que nos pressionaram para que houvesse justiça. Eu sei que alguns de vocês vêm de lugares em que sair do armário é um ato de coragem e desafio, e às vezes até um grande risco pessoal. Saibam que os Estados Unidos estão a seu lado e apoia seus direitos humanos, assim como nossos atletas estão a seu lado durante esses jogos. Afinal de contas, o ideal dos Estados Unidos é que não importa quem você seja, qual seja sua aparência, de onde você vem, ou quem você ama, você pode conseguir o que quiser se tentar. É isso que nós somos, e é isso que nós nos esforçamos constantemente para ser. Nós também somos um país que adora uma boa competição, então vamos começar esses jogos! Boa sorte para os atletas, divirtam-se em Cleveland, e força Time USA!

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Um comentário

Pedro Dias

Não há muito como comparar Obama e Dilma. Haja vista a realidade de cada país, a forma como a comunidade gay é organizada politicamente lá e aqui, a proporção desta comunidade… n questões. Concordo com as incoerências da campanha Dilma, mas se faltou coragem em se posicionar pró Gay sobrou em defender a invasão desumana de Israel em Gaza, que Obama omitiu completamente. Quem se omite na morte de 500 crianças, sendo que poderia ter papel importante para evitar isto, para mim, não tem moral no discurso gay friendly.

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