A resistência aos remédios antirretrovirais está crescendo pelo mundo todo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou ontem um relatório com o resultado de uma pesquisa que fez em 11 países da África, da Ásia e da América Latina. Nele, revela que, em 6 desses países, mais de 10% das pessoas que começaram o tratamento antirretroviral recentemente eram portadoras de vírus HIV resistentes aos medicamentos que são usados com maior frequência no tratamento.
Os países que ultrapassaram esse limiar de 10% são Argentina, Guatemala, Namíbia, Nicarágua, Uganda e Zimbábue. Os pesquisadores apontaram que o aumento de vírus HIV resistentes é maior em países do sudeste e do leste da África. A recomendação da OMS é que esses países repensem suas estratégias de tratamento.
As variantes de HIV resistentes aos medicamentos antirretrovirais surgem quando alguém que já iniciou o tratamento deixa de tomar seus remédios regularmente. Quando isso acontece, os vírus que estavam sendo contidos pelos remédios voltam a se multiplicar no corpo do paciente. Com isso o vírus pode sofrer mutações, e para o azar do paciente, pode acontecer de uma dessas mutações ser resistente aos antirretrovirais que estava tomando. O tratamento então vai ter que ser alterado, para que outras drogas controlem o HIV.
O Brasil não está na lista, mas pode entrar em breve caso a política pública de combate ao HIV não retorne á excelência que um dia já teve. Denúncias de falta de medicamentos antirretrovirais em postos de vários estados do país tornam-se cada vez mais comuns – ao ponto da UNAIDS publicar, na semana passada, um puxão de orelha sobre a precarização do tratamento dos soropositivos no Brasil. São situações como essa que podem efetivamente fazer com que os casos de HIV resistentes ao tratamento aumentem também por aqui. Vale também lembrar que, ao contrário da tendência mundial, a quantidade de novos casos no Brasil vem aumentando: o total de novas infecções a cada ano no Brasil aumentou em 3% entre 2010 e o ano passado. No mundo, essa taxa sofreu contração de 11%.
A OMS estima que há 36,7 milhões de pessoas hoje que vivem com o HIV ao redor do mundo – 19,5 milhões delas com acesso a terapias antirretrovirais. A Unaids avalia que em 2015 havia 830 mil pessoas vivendo com HIV no Brasil, e que o número de mortes relacionadas à AIDS por aqui foi de cerca de 15 mil pessoas em 2015. Um estudo realizado em maio estima que uma pessoa de 20 anos que contraia HIV hoje, se tiver acesso às terapias antirretrovirais adequadas, tem uma expectativa de vida de 78 anos, quase igual à das pessoas que não são portadoras do vírus.