Não vamos medir palavras: ele é o criador do símbolo mais importante da cultura LGBT ocidental. Gilbert Baker é o designer que transformou o arco-íris na bandeira que representa tudo aquilo que não era heteronormativo (muito antes do termo existir!). Hoje, 2 de junho, o dia em que seria seu 66º aniversário, ele está sendo homenageado para o mundo inteiro ver com um lindo Google Doodle.
Esse ano também é notável porque Baker faleceu recentemente, no dia 31 de março. Sua marca no imaginário coletivo permanece – por mais que muitos cristãos fundamentalistas reclamem que “os gays roubaram o símbolo da aliança”, o arco-íris tornou-se símbolo de homossexuais, bissexuais e transexuais. Mas de onde veio a ideia, e qual é seu significado, exatamente?
Até o final dos anos 1970 usava-se o triângulo rosa para representar gays. Esse era o símbolo que os nazistas utilizavam em campos de concentração para marcar aqueles que haviam sido presos por serem homossexuais ou qualquer outro tipo de “desvio sexual”. Organizações LGBT como a Act Up (fundada durante o início da crise da Aids para lutar por qualquer tipo de solução contra a epidemia) empregavam o triângulo numa tentativa de se apropriar desse ícone tenebroso de violência contra sua própria comunidade.
Mas nem todo mundo curtia a ideia. “Esse foi um símbolo criado pelos nazistas, imposto sobre nós”, explicou o próprio Baker numa entrevista em 2009. “Sua origem era terrivelmente negativa, ligada a assassinato e ao Holocausto.” Então Baker, um costureiro autodidata (que começou a experimentar com as agulhas para se vestir como David Bowie) bolou a bandeira do arco-íris em 1978.
Baker recebeu essa missão diretamente de Harvey Milk, o primeiro representante político eleito abertamente gay dos EUA. Nascido em 1951, na cidade norte-americana de Chanute (Kansas), ele entrou no Exército aos 19 anos e foi enviado a São Francisco (Califórnia) em pleno auge do movimento pelos direitos civis, das mulheres, assim como de reivindicação da homossexualidade. Foi durante sua militância que ele se tornou amigo de Milk.
“Eu não tive a menor sombra de dúvida sobre como deveria ser nossa bandeira”, declarou Baker posteriormente. “O arco-íris nos cai como uma luva. É algo natural. Ele nos conecta a todas as cores – todas as cores da sexualidade, toda a diversidade em nossa comunidade.”
Consta que Baker tingiu manualmente o tecido da bandeira original, com oito cores, no sótão de um centro comunitário gay de San Francisco. Cada cor tinha um significado: rosa representa o sexo; vermelho, a vida; laranja, a cura; amarelo, o sol; verde, a natureza; tuquesa, a magia; azul, a serenidade; e roxo, o espírito. “Esses eram os significados em 1978, uma coisa bem hippie”, explicou Baker.
Não demorou muito o número de cores da bandeira LGBT caiu para seis. A primeira cor a ser excluída foi o rosa, porque na época era difícil conseguir tingir tecidos dessa cor em escala industrial. Os organizadores da Parada do Orgulho Gay de San Francisco em 1979 decidiram em seguida derrubar o turquesa. Eles queriam que as pessoas desfilassem pelas ruas em fileiras iguais, cada uma de uma cor, e é muito mais fácil organizar seis faixas ao longo de uma rua (duas fileiras de três cores em cada metade da via) do que dividir o espaço em sete.
Mesmo com os ajustes, Baker teve orgulho de sua criação até seus últimos dias. “Unidos estamos transformando nosso mundo, nosso planeta, de um lugar cheio de violência e guerra em um lugar de amor, diversidade e tolerância”, afirmou em 2009. “É por isso que estamos aqui. Esse é o grande arco-íris, que vai de antes de mim até muito depois que eu me for.”
Gilbert Baker morreu dormindo em março. Ele vivia em Nova York há mais de 20 anos.