Elas nem lançaram seu primeiro videoclipe ainda, e já contam com 900 mil seguidores no Weibo, o Twitter chinês. Katy Perry tem um milhão. Exibindo cortes de cabelo curtos, roupas folgadas e visual andrógino, as integrantes do grupo Acrush encantam uma legião de fãs, que se referem a elas como “maridos”,o termo usado pelas adolescentes chinesas para se referir aos ídolos pop que são tão lindos que são dignos de casamento.
A nova sensação do pop chinês foi criada por Zhou Xiaobai, um empresário de 28 anos. “Esse é um grupo que milita pela liberdade e não se deixa colocar em caixinhas”, ele declarou em entrevista ao site Quartz. O Acrush faz parte da emergente cena musical adolescente que está surgindo na China, fortemente influenciada pelo J-pop e K-pop. A letra A de seu nome se refere a Adonis, o deus da mitologia grega considerado a epítome da beleza masculina.
Mulheres que se vestem de maneira tradicionalmente masculina vêm se tornando cada vez mais aceitas na China. Isso se deve em grande parte à estrela pop Li Yuchun, considerada a criadora do visual unissex no país. Em 2005 ela foi a vencedora do programa de calouros Super Girl, dando origem a uma série de outras cantoras de visual andrógino no mercado chinês – nenhuma tão bem sucedida como a original. O Acrush é o primeiro conjunto a surfar nessa onda.
Empresários chineses há anos tentam formar um conjunto como o Acrush, mas não conseguiam encontrar mulheres dispostas a se arriscarem com essa empreitada num país ainda tão conservador como a China. Zhou vasculhou o país de março a setembro do ano passado em busca de candidatas para seu projeto, e depois de dois meses de treinamento, escolheu as cinco mulheres que tentaria transformar em estrelas pop: Lu Keran, An Junxi, Peng Xichen, Min Junqian e Lin Fan.
Zhou toma sempre o cuidado de não utilizar palavras como “garoto” ou “garota” quando apresenta sua banda. Sempre que fala sobre alguém do Acrush, usa o termo neutro meishaonian, que significa “jovem atraente”. Isso dá margem de sobra para que suas fãs, em geral garotas entre 13 e 25 anos, as chamem de “maridos”, como fazem com figuras como Justin Bieber. “As fãs gostam mais do Acrush do que das outras boy bands”, afirma Zhou, “porque as cinco conseguem compreendê-las melhor, algo essencial para interações pessoais. Eu peço para que elas respondam todas as mensagens que recebem no WeChat e no Weibo. Elas precisam demonstrar gratidão para as fãs.”
Lu, a líder do Acrush, tem 21 anos e confessa que recebe cartas de amor de suas fãs. “Mas é claro que eu não gosto delas assim”, completa. Ela admite que não tem permissão para discutir sua orientação sexual, ou a de suas colegas de grupo. Ela afirma que já usava cabelo curto desde antes de entrar na banda, quando começou a praticar esgrima aos dez anos. Isso fez com que frequentemente as pessoas conferissem se era menina mesmo antes de entrar em banheiros públicos: muitos pensavam que ela era um menino.
O Acrush faz parte de uma indústria musical que ganhou força na China nos últimos anos. O empurrão que a cena precisava veio com o sucesso do conjunto The Fighting Boys, formado por três rapazes lindos e comportados que cantam músicas sobre lição de casa e patriotismo. A Zhejiang Huati Culture Communication Co. Ltd, responsável pela boy band de meninas, adota o mesmo sistema de produção industrial que acontece na Coreia do Sul: seus empresários estão constantemente procurando jovens artistas por todo país, que, depois de algum tempo de treinamento, são escalades para fazerem parte de uma boy band ou girl group. Nos próximos meses a companhia vai lançar mais outras três bandas formadas por garotas, afirma Wang Tianhai, diretor da empresa.
Não importa se o estilo do grupo é andrógino ou sensual, todos os gerenciados pela Zhejiang Huati são associados à marca Fantasy Football Confederation – o nome oficial do Acrush é “FFC-Acrush”. Por causa disso, todes artistas têm que aprender a jogar futebol, e demonstrações de seus talentos esportivos fazem parte de seus shows. A intenção, explica Wang, é mostrar que seus astros são “saudáveis e repletos de energia positiva”. A atenção que o governo chinês tem dado ao futebol também ajuda a explicar as decisões do empresário.