Como não nos cansamos de dizer, hoje em dia ser diagnosticado como soropositivo não é mais uma sentença de morte como já foi no auge da epidemia do HIV. Se o paciente seguir seu tratamento adequadamente, sua vida será tão longa e produtiva quanto pessoas que não contraíram o vírus. Existe uma complicação que pode acontecer, no entanto, quando não se leva a sério o tratamento antirretroviral: a resistência do HIV aos medicamentos.
No momento em que uma pessoa é infectada pelo HIV, ela entra em contato com vários tipos do vírus, e logo aquele que é mais apto para se multiplicar se espalha pelo organismo, tornando-se o tipo predominante no corpo do novo soropositivo.
O HIV é um vírus que se replica muito rapidamente (se a pessoa não estiver sob tratamento, ele pode chegar a produzir 10 bilhões de cópias de si mesmo por dia), mas tende a cometer “erros” nesse processo de se copiar. As cópias “malfeitas” do vírus são as chamadas mutações. A imensa maioria das mutações do HIV são bem mais fracas que o original, incapazes de infectar outras células CD4 e, portanto, de se reproduzir. Como são mais fracas, também não conseguem competir com o tipo predominante de HIV, que está fazendo a festa no organismo da pessoa que ainda não começou a se tratar.
Depois de feito o diagnóstico, o soropositivo começa a tomar antirretrovirais, e os medicamentos começam a controlar o HIV em seu corpo. O objetivo do tratamento é reduziro número de cópias do vírus circulando no sangue que o paciente fica com a carga viral indetectável. Enquanto a pessoa tomar seus remédios segundo a recomendação de seu médico, a história para por aqui.
Acontece que às vezes a pessoa não toma sua medicação como devia, o que dá margem para que o número de cópias do HIV volte a crescer em seu organismo. E daí pode acontecer o azar de, nessa nova fornada de vírus, surgir alguma mutação resistente aos medicamentos que o paciente estava tomando.
Quando o paciente voltar a tomar os remédios que lhe haviam sido receitados, mais uma vez as drogas vão começar a eliminar o tipo predominante de vírus. Acontece que agora também existe aquela mutação resistente ao medicamento. Sem competição e sem remédio que a contenha, essa mutação vai começar a se multiplicar e se multiplicar e se multiplicar… Até se tornar o novo tipo predominante no paciente. É quando se diz que o paciente desenvolveu resistência aos medicamentos.
Depois que a resistência é descoberta, o infectologista certamente vai receitar outros tipos de antirretrovirais que, somados aos anteriores, sejam capazes de controlar esse tipo de HIV resistente que o paciente desenvolveu. Caso o tratamento seja seguido à risca, se tudo der certo a situação volta ao ideal: carga viral indetectável. Mas se o paciente voltar a não tomar seus medicamentos como deveria, o ciclo pode se repetir e ele pode desenvolver mutações resistentes também ao novo medicamento.
Enquanto não for controlada, esse HIV com mutação pode ser transmitido de uma pessoa para outra – nos Estados Unidos, estima-se que 20% das novas infecções pelo HIV são de mutações resistentes a um ou mais medicamentos antirretrovirais. Essa é uma das razões por que, mesmo entre dois soropositivos, é importante usar preservativo: uma pessoa que segue seu tratamento como deveria pode acabar entrando em contato com o vírus resistente do outro soropositivo, e acabar tendo que mudar os medicamentos que toma para controlar essa nova variante que agora também está em seu organismo.
Fontes
Ocfemia, C.; Kim, D.; Ziebell, R, et al. “Prevalence and Trends of Transmitted Drug Resistance-associated Mutations by Duration of Infection among Persons Newly Diagnosed with HIV-1 Infection: 5 States and 3 Municipalities, US, 2006 to 2009.” 19th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI). Atlanta, Georgia. March 7, 2012; poster abstract #730.
De Meyer, S.; Vangeneugden, T.; Van Baelen, B, et al. “Resistance profile of darunavir: combined 24-week results from the POWER trials.” AIDS Research Human Retroviruses, March 2008; 24(3):379-88.
World Health Organization (WHO). “HIV Drug Resistance Fact Sheet.” Geneva, Switzerland; April 11, 2011.
Taniguchi, T.; Nuritdinova, D.; Grubb, J.; et al. “Transmitted drug-resistant HIV type 1 remains prevalent and impacts virologic outcomes despite genotype-guided antiretroviral therapy.” AIDS Research Human Retroviruses. March 5, 2012; 28(3):259-264.
Kuhn, L.; Hunt, G.; Technau, K; et al. “Drug resistance among newly diagnosed HIV-infected children in the era of more efficacious antiretroviral prophylaxis.” AIDS. April 30, 2014; 8: 1673-1678.
National Institutes of Health (NIH). “Guidelines for Use of Antiretroviral Agents in HIV-1-Infected Adults and Adolescents.” Bethesda, Maryland; October 11, 2013.
Olá, boa noite.
Gostaria de saber o que acontece quando uma pessoa com soro positivo, para de tomar o remédio retroviral, para tomar batida de babosa?
Já faz uns três meses que parou de tomar o retroviral!
O que acontece é que essa pessoa está arriscando a própria saúde pra… TOMAR BABOSA. Deus do céu.