HIV-infected H9 T-cell

Resistência do HIV a medicamentos: o que é e como acontece

O soropositivo que não toma medicamentos antirretrovirais como deveria pode acabar dando margem para que surjam em seu corpo mutações do HIV resistentes às drogas que lhe haviam sido receitadas

por Marcio Caparica

Como não nos cansamos de dizer, hoje em dia ser diagnosticado como soropositivo não é mais uma sentença de morte como já foi no auge da epidemia do HIV. Se o paciente seguir seu tratamento adequadamente, sua vida será tão longa e produtiva quanto pessoas que não contraíram o vírus. Existe uma complicação que pode acontecer, no entanto, quando não se leva a sério o tratamento antirretroviral: a resistência do HIV aos medicamentos.

No momento em que uma pessoa é infectada pelo HIV, ela entra em contato com vários tipos do vírus, e logo aquele que é mais apto para se multiplicar se espalha pelo organismo, tornando-se o tipo predominante no corpo do novo soropositivo.

O HIV é um vírus que se replica muito rapidamente (se a pessoa não estiver sob tratamento, ele pode chegar a produzir 10 bilhões de cópias de si mesmo por dia), mas tende a cometer “erros” nesse processo de se copiar. As cópias “malfeitas” do vírus são as chamadas mutações. A imensa maioria das mutações do HIV são bem mais fracas que o original, incapazes de infectar outras células CD4 e, portanto, de se reproduzir. Como são mais fracas, também não conseguem competir com o tipo predominante de HIV, que está fazendo a festa no organismo da pessoa que ainda não começou a se tratar.

Depois de feito o diagnóstico, o soropositivo começa a tomar antirretrovirais, e os medicamentos começam a controlar o HIV em seu corpo. O objetivo do tratamento é reduziro número de cópias do vírus circulando no sangue que o paciente fica com a carga viral indetectável. Enquanto a pessoa tomar seus remédios segundo a recomendação de seu médico, a história para por aqui.

Acontece que às vezes a pessoa não toma sua medicação como devia, o que dá margem para que o número de cópias do HIV volte a crescer em seu organismo. E daí pode acontecer o azar de, nessa nova fornada de vírus, surgir alguma mutação resistente aos medicamentos que o paciente estava tomando.

Quando o paciente voltar a tomar os remédios que lhe haviam sido receitados, mais uma vez as drogas vão começar a eliminar o tipo predominante de vírus. Acontece que agora também existe aquela mutação resistente ao medicamento. Sem competição e sem remédio que a contenha, essa mutação vai começar a se multiplicar e se multiplicar e se multiplicar… Até se tornar o novo tipo predominante no paciente. É quando se diz que o paciente desenvolveu resistência aos medicamentos.

Depois que a resistência é descoberta, o infectologista certamente vai receitar outros tipos de antirretrovirais que, somados aos anteriores, sejam capazes de controlar esse tipo de HIV resistente que o paciente desenvolveu. Caso o tratamento seja seguido à risca, se tudo der certo a situação volta ao ideal: carga viral indetectável. Mas se o paciente voltar a não tomar seus medicamentos como deveria, o ciclo pode se repetir e ele pode desenvolver mutações resistentes também ao novo medicamento.

Enquanto não for controlada, esse HIV com mutação pode ser transmitido de uma pessoa para outra – nos Estados Unidos, estima-se que 20% das novas infecções pelo HIV são de mutações resistentes a um ou mais medicamentos antirretrovirais. Essa é uma das razões por que, mesmo entre dois soropositivos, é importante usar preservativo: uma pessoa que segue seu tratamento como deveria pode acabar entrando em contato com o vírus resistente do outro soropositivo, e acabar tendo que mudar os medicamentos que toma para controlar essa nova variante que agora também está em seu organismo.

Fontes

Ocfemia, C.; Kim, D.; Ziebell, R, et al. “Prevalence and Trends of Transmitted Drug Resistance-associated Mutations by Duration of Infection among Persons Newly Diagnosed with HIV-1 Infection: 5 States and 3 Municipalities, US, 2006 to 2009.” 19th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI). Atlanta, Georgia. March 7, 2012; poster abstract #730.

De Meyer, S.; Vangeneugden, T.; Van Baelen, B, et al. “Resistance profile of darunavir: combined 24-week results from the POWER trials.” AIDS Research Human Retroviruses, March 2008; 24(3):379-88.

World Health Organization (WHO). “HIV Drug Resistance Fact Sheet.” Geneva, Switzerland; April 11, 2011.

Taniguchi, T.; Nuritdinova, D.; Grubb, J.; et al. “Transmitted drug-resistant HIV type 1 remains prevalent and impacts virologic outcomes despite genotype-guided antiretroviral therapy.” AIDS Research Human Retroviruses. March 5, 2012; 28(3):259-264.

Kuhn, L.; Hunt, G.; Technau, K; et al. “Drug resistance among newly diagnosed HIV-infected children in the era of more efficacious antiretroviral prophylaxis.” AIDS.  April 30, 2014; 8: 1673-1678.

National Institutes of Health (NIH). “Guidelines for Use of Antiretroviral Agents in HIV-1-Infected Adults and Adolescents.” Bethesda, Maryland; October 11, 2013.

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2 comentários

Loren Calistro

Olá, boa noite.
Gostaria de saber o que acontece quando uma pessoa com soro positivo, para de tomar o remédio retroviral, para tomar batida de babosa?
Já faz uns três meses que parou de tomar o retroviral!

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