7 teorias bizarras para as causas do lesbianismo

Desde que o mundo é mundo que há homens que não conseguem entender como mulheres podem viver sem eles. Confira algumas das teorias mais esdrúxulas já inventadas para o lesbianismo

por Marcio Caparica

Traduzido do artigo de Anna Pulley para o site AlterNet

O sexo lésbico confunde pessoas desde os tempos mais primórdios. Já nos tempos históricos mais antigos criava-se teorias para se tentar explicar por que uma mulher poderia preferir se envolver dessa maneira com outras mulheres – das mais amenas (quem sabe sua mãe não comeu muito aipo?) às curiosas (alinhamentos planetários) às completamente sem sentido (saliências no útero formavam um pseudopênis). Confira a seguir as teorias mais bizarras já inventadas para se justificar o lesbianismo, e as “curas” que eram recomendadas.

1. Coceira nos lábios vaginais

Em “Mulheres lésbicas e quase lésbicas árabes medievais”, do Journal of the History of Sexuality, Amer Sahar faz menção a Galeno, um médico grego do século 2 d.C., que buscava compreender por que sua filha era lésbica. Então ele examinou as partes íntimas da filhota, como qualquer um faria, e concluiu que sua sexualidade se devia a “uma coceira entre os grandes e pequenos lábios”. Essa coceira, concluiu, só poderia ser aliviada quando os lábios vaginais de uma mulher se esfregavam nos de outra.

Bem, doutor, já que você insiste…

2. Vapores quentes

Nessa mesma levada, o filósofo muçulmano al-Kindi, do século 9, ponderou se a culpa não era apenas dessa coceira, mas também de vapores: “o lesbianismo se deve a um vapor que, quando condensado, gera calor e coceira nos lábios vaginai, e só se dissolve e torna-se mais frio por meio da fricção e do orgasmo”.

Ter orgasmos com outra mulher é a cura? Acho que dá pra aceitar. Mas por que o sexo com homens não seria capaz de reduzir esse “calor”?

“Quando a fricção e o orgasmo acontecem, o calor transforma-se em frio porque o líquido que a mulher ejacula durante a relação lésbica é frio, enquanto o mesmo líquido, quando proveniente da união sexual com homens, é quente. O calor, no entanto, não pode ser extinto com mais calor; pelo contrário, seria aumentado, já que precisa ser tratado com seu oposto. Assim como o frio é repelido pelo calor, o calor também é repelido pelo frio.”

Vamos dar graças aos céus pelas mulheres “frígidas”, neam?

3. Aipo

Ainda no século 9, em outro lugar, e mais uma vez de acordo com o artigo de Sahar, médicos no mundo islâmico pensavam que o lesbianismo era um “estado congênito causado pelo consumo de certos alimentos pela mãe que, quando transmitidos durante a amamentação pelo leite materno, conduzem a coceiras labiais e lesbianismo pelo resto da vida.”

E quais seriam esses alimentos que provocariam a coceira nos lábios vaginais? De acordo com o médico Yuhanna ibn Masawayh, também conhecido como John Mesué, o lesbianismo “acontece quando a mãe que está amamentando come aipo, rúcula, trevos, e as flores da laranjeira. Quando ela come essas plantas e amamenta sua filha, elas afetarão os lábios vaginais da criança e gerarão uma coceira que o bebê levará para o resto da vida.”

Aipo, rúcula e flor de laranjeira. Não é à toa que tantas mulheres queer são veganas.

4. O pênis de seu irmão

Em Gay, Straight, and the Reason Why (“Gay, hétero e o porquê”), Simon LeVay discute as teorias psicoanalíticas em torno das raízes da homossexualidade, apoiando-se em, quem mais, Sigmund Freud. As ideias de Freud (muito resumidas) sobre o desejo homossexual preocupavam-se em maior parte com os garotos, que, considerava, desenvolvem uma fixação sexual por suas mães entre os 3 e os 5 anos de idade (o famoso complexo de Édipo). Os garotos que não conseguem livrar-se da fase edipiana, pensava, compravam uma passagem sem escalas para Viadópolis.

Quando Freud tentava explicar a sexualidade feminina, suas teorias tornavam-se ainda mais esquisitas. Ele escreveu que as meninas também passam por uma fase de fixação edipiana por suas mães, mas depois que percebiam que a mãe não tem pênis, a garota passa a ter fixação por seu pai, e a mãe torna-se uma rival. Na descrição de um caso de homossexualidade feminina, Freud escreve que o nascimento do irmão mais novo da garota, “fortemente impressionada” por seu pênis, havia feito com que ela se tornasse homossexual. Freud escreveu sobre a menina: “não foi ela quem gerou a criança, mas a rival que odiava inconscientemente, sua mãe… Furiosamente ressentida e amargurada, ela se afastou de seu pai, e de todos os homens.”

Você odeia sua mãe! E você não ficou grávida, então tem uma raiva esquisita… do seu irmão. Portanto, ADEUS PARA SEMPRE, HOMENS. Pênis jamais lha causarão qualquer tipo de impressão novamente. Ou se uma impressão for feita, que seja fraca! Tão fraca quanto essa teoria besta.

5. As forças ocultas e as más influências

Esse artigo inteiro mais parece um texto de quinta série, e eu tenho certeza que foi escrito por alguém que mal sabe falar inglês, mas das razões mais bizarras ali listadas para que uma mulher “vá para o lesbianismo”, é difícil superar o vudu e a influência das amigas.

“Na África, há tantas mulheres que buscam o vudu para ganharem dinheiro, e geralmente algumas das exigências é que façam sexo com mulheres e sigam as regras, então elas decidem fazer sexo com outras mulheres. A maioria dessas mulheres são ricas e seduzem garotas para esses atos.”

Em caso de dúvida, culpe as bruxas. Afinal, elas vivem cercadas de gatos. Mas e quem não se envolve com as forças ocultas?

“Muitas mulheres acabam se tornando lésbicas por influência de amigas que as levou a isso. Por causa da pressão das amigas, elas sucumbem ao lesbianismo e tornam-se viciadas a esses atos. Geralmente quando perdem a virgindade com esse ato, torna-se difícil livrar-se porque a percepção que ela tem é que essa é a cópula normal, até que ela encontre um homem que lhe mostre a diferença.”

Graças a ideias absurdas como essas, é tristemente comum lésbicas serem submetidas a “estupros corretivos”.

6. “Uma saliência na abertura do útero”

Um famoso cirurgião italiano da era medieval, Guilherme de Bolonha, atribuiu o lesbianismo a “uma saliência que emana da abertura do útero e aparece do lado de fora da vagina, como um pseudopênis”. Em The Construction of Homosexuality (“A construção da homossexualidade”), David Greenberg ironicamente faz a seguinte observação sobre a hipótese de Guilherme: “Obviamente essa noção não é proveniente da observação clínica”.

Seja como for, o formato e o tamanho da genitália feminina desde sempre são frequentemente vigiados, transformados em motivo de vergonha e até alterados cirurgicamente para se adequarem às normas culturais. De acordo com In Bed with the Romans (“Na cama com os romanos”), de Paul Chrystal, a mutilação genital feminina na Roma Antiga era comum, e realizada para impedir que uma garota se masturbasse ou para extinguir “o desejo por penetração gerado por um clitóris anormalmente grande”.

7. Astrologia

Claudio Ptolomeu, um matemático, astrônomo e geógrafo do século 2, mais conhecido por seu modelo geocêntrico para explicar a estrutura do universo, também tinha algo a dizer sobre a preferência sexual. Segundo ele, tudo era influenciado pela astrologia, ou “a configuração dos corpos celestes”. Numa nota de rodapé em The Construction of Homosexuality, consta que Ptolomeu acreditava que certos alinhamentos planetários poderia levar a “afeminação” e “depravação”, e também transformar pessoas em “violadoras de mulheres” e “corruptoras de jovens”.

Já deu pra perceber o padrão aqui? Vegetais, bruxaria, astrologia – as lésbicas adoram isso tudo. Quem sabe, ao tentar nos curar de nossas paixões bestiais, esses teóricos tenham acabado por, acidentalmente, reforçá-las. Ou, pelo menos, nos deram uma desculpa pra dizer que é tudo por causa de um Mercúrio retrógrado.

Agora me passa um aipo, que eu estou sentindo uma coceira.

Apoie o Lado Bi!

Este é um site independente, e contribuições como a sua tornam nossa existência possível!

Doação única

Doação mensal:

Um comentário

Juliana Priscila

Matéria sensacional!!!!!!! Muito boa mesmo, apesar das loucas teorias rs

Comments are closed.