Efrat Tolkowsky: “devemos buscar a igualdade entre mulheres e homens dentro do movimento LGBT se quisermos avançar”

Em entrevista exclusiva, a dirigente da Parada LGBT de Tel Aviv desse ano discute a situação das mulheres dentro da comunidade LGBT e como o lema desse ano, "Mulheres para variar", pode ajudar também mulheres hétero

por Marcio Caparica

Mundo Bi“Mulheres, para variar”. Esse foi o tema desse ano da Parada do Orgulho LGBT de Tel Aviv. Organizado desde meados dos anos 1990, o evento que inicialmente era um evento tímido tornou-se um dos principais acontecimentos da agenda anual de Tel Aviv, e é visto pela prefeitura como uma de suas maiores fontes de renda, digna de investimentos para que se torne cada vez maior. A comunidade LGBT da cidade, no entanto, não deixa de se envolver na organização e na mensagem do evento. Desde o ano passado os organizadores da Parada vêm tentando utilizar o sucesso da celebração para conscientizar o mundo dos grupos menos prestigiados dentro da própria comunidade LGBT. Ano passado o foco foi dado às pessoas transexuais. Esse ano, com o slogan “Women for a change”, a atenção foi dada às mulheres.

A intenção é tentar mudar a imagem padrão que se projeta dos LGBTs, que ainda é em grande parte a de um homem gay (e em geral branco, e em geral sarado, e em geral com pouca roupa). Lésbicas e mulheres bissexuais ainda têm que lutar para serem ouvidas dentro do próprio movimento. Não é raro que suas representantes sejam colocadas de escanteio, como aconteceu há dois anos com a rapper Luana Hansen (confira seu relato no Lado Bi do Rap) ou esse ano, no festival Preparadx. Isso também acontece em Israel, mas os militantes queer locais estão fazendo um esforço consciente para tentar alterar essa situação.

Como parte desse plano, escolheu-se a economista Efrat Tolkowsky como dirigente da Parada do Orgulho LGBT de Tel Aviv. Tolkowsky atua como professora universitária, consultora de grandes bancos e líder comunitária. Aos 50 anos, ela aceitou o desafio de tentar colocar as mulheres num nível de igualdade com os homens nas celebrações desse ano. Confira a seguir a entrevista que ela deu, por e-mail, ao LADO BI.

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LADO BI As mulheres foram  o tema da Parada do Orgulho LGBT de Tel Aviv esse ano. Por que, na sua opinião, é tão comum que, em todas as comunidades LGBT do mundo, as lésbicas (sejam cis ou trans) acabem ficando em segundo plano?

efratEFRAT TOLKOWSKY Essa é uma ótima pergunta. Não tenho certeza que a mesma resposta possa ser aplicada às mulheres cis e trans. As mulheres trans têm que enfrentar questões próprias ligadas a sua identidade de gênero, o que torna suas lutas bastante diferentes das lésbicas cisgênero. Quanto às lésbicas cisgênero, sua posição em segundo plano ainda reflete, infelizmente, a posição das mulheres na sociedade em geral. O movimento LGBT está agora em sua segunda geração, e, depois de progredirmos bastante quanto à igualdade em geral, é hora de olharmos para nós mesmos e buscarmos a igualdade interna, se quisermos avançar mais juntos.

O que vocês esperavam conseguir colocando as mulheres como foco da Parada?

Nossa principal realização foi conhecer e melhorar o funcioamento interno da comunidade LGBT, para que tenhamos maior igualdade em eventos futuros. Isso já aconteceu, e essa é uma mudança que vai permanecer. Pessoalmente, eu queria que o público se conscientizasse de como as mulheres na comunidade LGBT são diversas.

É muito comum, no Brasil, que gays não gostem de mulheres em geral, e de lésbicas em particular – e acabem por reproduzir as atitudes sexistas das quais eles mesmos são vítimas. Isso também acontece em Israel?

Sim, mas acho que isso está mudando. Esse tipo de aversão vinda de alguns gays ainda é comum, mas vejo que há cada vez mais gays que pensam de forma diferente. É um fenômeno cultural, que tende a mudar conforme a cultura como um todo muda. Sempre haverá alguns gays que têm aversão por mulheres e vice-versa. O que importa é quem consegue estabelecer o tom da conversa.

Você acha que a atenção dada às mulheres na Parada é capaz de melhorar, de alguma forma, a vida das mulheres heterossexuais em Israel?

Acredito que sim. Por exemplo, eu sei que há empresas que não patrocinam equipes de basquete feminino porque esse é um “esporte lésbico”, e não querem que isso seja associado a sua imagem. Se a imagem das lésbicas melhora, isso também vai melhorar. Melhorar a representatividade das lésbicas e mulheres bissexuais é uma maneira de melhorar a representatividade das mulheres como um todo.

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