(JAMES CIMINO) Todas as vezes que fanáticos religiosos e ignorantes em geral tentam desqualificar as relações homo, bi ou transexuais, é comum que usem contra nós LGBTs o argumento da promiscuidade.
É uma forma de bestialização, de nos reduzir ao comportamento selvagem, como se fôssemos animais regidos por nossos desejos 24 horas por dia e que, por isso, não somos merecedores de direitos básicos do ser humano como… a vida. Em última instância, é muito semelhante ao que os colonizadores católicos usaram para justificar o extermínio de índios e a escravidão dos negros, ou o que Hitler usou contra os judeus: bestialize, demonize e depois mate.
Acontece que eu tenho uma notícia a dar: segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), toda pessoa que teve mais de dois parceiros por ano é promíscua. Sim, você leu direitinho. Apenas mais de dois por ano. Mas se isso é abstração estatística demais para você, o jornalista argentino Bruno Bimbi, ativista LGBT e autor do livro Casamento igualitário, escreveu um texto com casos mais próximos da nossa realidade que vão te ajudar a vestir esta linda carapuça. Leia:
* * *
A maioria dos meus amigos heterossexuais conhece todos os puteiros de Buenos Aires, e suas mulheres (exceto vocês que estão me lendo aqui, não se preocupem) são cornas. Quando um dos meus amigos me disse que tinha ido pela primeira vez a um clube de suingue e começou a descrever em detalhes sua nova aventura, eu não pude me aguentar:
“E depois vocês dizem que nós que somos promíscuos, haha!”
Eu estava namorando naquele momento e não precisava de ninguém mais além do meu namorado — e isso não significa que é bom, mau, melhor ou pior.
Continuando, então perguntei ao meu amigo:
“Mas no clube de suingue você não tem que ir com sua mulher? Como você a convenceu?”
“Não, idiota. Como vou levar a mãe dos meus filhos a um lugar desses? Você está doido? Eu paguei uma prostituta e chegamos a um acordo: lá dentro todo mundo faz o seu, mas ela tinha que dizer que era minha namorada.” Sua “namorada” acabou na cama com outra que dizia ser a “mulher” de alguém. Meu amigo estava doido pra participar.
“Eu a amo, você sabe. Ela é a mulher da minha vida. Mas homem precisa de variedade, sabe?”, me disse outro amigo, como que me pedindo desculpas por chifrar a própria mulher, enquanto me explicava por que estava pegando uma colega de trabalho, uma “mina” que ele conheceu no aniversário de um outro amigo e a ex-namorada do ensino médio…
Agora imaginem: eu morro de rir quando ouço que nós gays é que somos promíscuos.
Algumas coisas não se podem negar. Em muitas baladas gays há um quarto escuro (o dark room), túnel, corredor, banheiro ou qualquer local destinado única e exclusivamente ao sexo. Em Buenos Aires, nós pagamos a entrada da boate para dançar um pouco e, antes que a noite entre em decadência, já estamos lá. A pista de dança começa a esvaziar e, lá onde é escuro e ninguém conhece ninguém pelo nome, é testosterona chamando testosterona.
Estive centenas de vezes em discotecas hétero e não conheço nenhuma que tenha túnel. Talvez haja alguma, mas seria uma raridade.
No entanto, também é um fato que a maioria das discotecas gays sem dark room são quase que exclusivamente gays: há homens que procuram homens, uma lésbica ocasional, um melhor amigo ocasional, uma outra irmã, um hétero curioso…
Já as discotecas gays de Buenos Aires que têm túnel estão cheias de homens e mulheres heterossexuais. Mais e mais, a tal ponto que não se sabe quem pode ser abordado. E há casais gays próximos a casais héteros, compartilhando o mesmo espaço para foder, sem nenhum problema. Pagam entrada para isso, inclusive. Às vezes alguém do outro grupo toma umas a mais e decide ver como é o “outro lado”, mas isso é oooooutro assunto. O “túnel” da boate Amerika, a maior discoteca gay de Buenos Aires, é todo um experimento sociológico, sobretudo desde que mudou de lugar e deixou de ser exclusivo para homens. Se você nunca viu… só vendo.
Mas depois de um tempo, eu cheguei à conclusão de que entre um homem gay e um homem heterossexual há menos diferença do que muitas pessoas pensam. Eles veem a loira peituda e os hormônios explodem. Vemos um boy com corpo de jogador de futebol e queremos comer. Eles pensam em sexo. Nós pensamos em sexo. Eles sabem que, se eles se aproximarem da loira peituda com muita determinação, talvez terminem mal — mesmo que a loira esteja morrendo de vontade. Nós sabemos que se o outro cara estiver morrendo de tesão, a conversa vai se limitar a “tá de carro ou pegamos um táxi?”.
A diferença, no final, é que as mulheres são ensinadas desde meninas a resistir aos impulsos sexuais dos homens, como se ceder fosse perigoso e sujo. As coisas mudaram muito no século passado, mas ainda há uma barreira significativa, que custa atravessar. É parte do ritual que, a eles, tanto incomoda quanto tranquiliza. Elas mostram que não são “fáceis”. Eles fazem de conta que as respeitam e querem mais do que sexo. Elas fingem acreditar neles. Simulação, sexismo, cerimonial e protocolo. Hoje é mais fácil do que uma geração atrás, mas ainda continua a ter uma diferença entre homens e mulheres heterossexuais. Entre dois homens é mais fácil. Não há necessidade de fingir: nós dois queremos a mesma coisa e queremos que o outro saiba.
“Eu não gosto das meninas fáceis. Não me casaria com uma que se entrega de bandeja”, me disse um amigo outro dia, o mesmo que conhece todos os clubes de suingue da cidade.
Mesmo que esteja desesperado para levar uma mina para a cama, se ela concordar sem hesitar, ele perde o respeito por ela. Ela precisa resistir e, depois de muito trabalho, ser convencida.
E eles dizem que elas é que são as malucas!
É certo que nós gostamos de variar de camas, tanto héteros quanto gays. Para nós é mais fácil, porque nossos potenciais alvos de caça também estão lá tentando caçar, basta cruzar os olhares. A famosa promiscuidade gay nada mais é que do que promiscuidade masculina.
Mas nós gays também queremos, às vezes, fazer a Susanita [personagem amiga da Mafalda]. Nós nos apaixonamos e fazemos coisas que pensávamos que jamais faríamos, como escrever cartas de amor ou levar flores para o nosso namorado. Coisas que meus amigos heterossexuais também fazem com suas namoradas. E quando nos apaixonamos, nós temos ciúmes, somos fiéis, ficamos com ciúme, somos infiéis, temos ciúme de novo. E queremos passar o Natal juntos, jantar na casa de seus pais e tirar férias em uma praia quase vazia, rodeada de verde, e sonhar que ficaremos juntos para sempre, nos casar, ser felizes e comer perdizes e todas essas coisas. Às vezes, apesar de todas as pedras no caminho à contramão, temos alguma coisa. E então nós não precisamos ir para os dark rooms — ou quem sabe podemos ir juntos, qual é o problema?
É igual o amor e o sexo, para héteros e gays. Somos mais parecidos do que a maioria das pessoas pensa. Mas claro, vamos admitir que nossa estrada não está nas mesmas condições que a dos heterossexuais, mesmo que nos últimos tempos tenha melhorado muito, pelo menos na Argentina. A autopista heterossexual vem com papai e mamãe recebendo a futura nora em casa com uma macarronada.
“Passamos juntos o réveillon?”; “Não posso, vou passar com meus pais. Eu gostaria que você viesse, mas eles não sabem”; “Se você quiser, pode vir para a festa, mas você é meu amigo, tá?”; “Quando chegarmos ao bairro, disfarça”.
Ainda me lembro de uma noite na casa do meu amigo. No apartamento que ele dividia com o namorado por dois anos ou mais. Era seu aniversário. “Se você quer vir com o seu namorado, tudo bem, mas não seja óbvio. Os amigos dele não sabem. Oficialmente, eu sou um parceiro com quem ele divide o aluguel”, disse. E lá estava meu amigo, morrendo de vontade de beijar o namorado em seu aniversário. E os amigos dele sabiam, obviamente! E se cagavam de rir. A cama de casal era indisfarçável.
Alguns, apesar de tudo, conseguem. Aguentam firmes os olhares dos outros até que desapareçam ou os desafiam com olhares mais fortes, orgulhosos, ou mantém uma rotina de disfarces e enganos que lhes permita preservar sua intimidade dos preconceitos das outras pessoas. Outros continuam de rolê pela noite, eternamente jovens. E há aqueles que se rebelam contra os dois padrões: o armário e a monogamia, formando casais abertos, trios, múltiplas relações etc.
“Ele sabe que eu transo com outros e eu sei que ele faz isso também, mas a regra é que não contemos nada um ao outro.”
“Nunca duas vezes com o mesmo. Nunca trocar telefone. Namorado tenho um, o resto é diversão.”
“Nós fomos na boate, pegamos um cara e levamos para casa.”
“Nós somos fiéis às regras de lealdade que se estabelecem entre nós dois.”
Qual é o problema?
Muitos dos meus amigos heterossexuais não fazem essas coisas com suas mulheres para duas razões: Porque ela é “a mãe de seus filhos”, devendo, portanto, ser uma santa — seja o que for que isso signifique — ou porque ela nunca aceitaria. Pelo menos é isso que eles acreditam. Ou pelo menos é a esperança que têm. Porque eles gostariam que elas aceitassem, mas se elas aceitassem, eles não bancariam. Então eles olham para os outras que estão dispostas a fazer o que, para a esposa, é proibido — segundo eles. Bando de malucos!
Eles dizem que nós gays somos promíscuos. Eu acho que somos apenas os homens que não precisam fingir.
© Bruno Bimbi. Publicado originalmente no blog Tod@s, do canal TODO NOTÍCIAS.
Olha, eu sou lésbica e vivi muito no meio, de longe, por experiência, digo que gays são promíscuos mesmo. A promiscuidade em muitos é bestial mesmo. O pênis rege tudo, gays em sua maioria são estupidamente falocêntricos, conheci muitos que se relacionavam com o pênis e não com a pessoa…pênis, tamanho, forma…qdo mucho…qdo ereto. Ficava chocada. Homem tem mais testosterona, um hormônio que aumenta muito a libido. A testo é muito forte neste sentido..e num meio cheio de machos como ouvi de muitos..” rabos e paus não têm limites”. É isto mesmo…vi em locu.
Eu ja fiz um estudo para meu curso de filosofia sobre o comportamento dos gays e um dos tópicos foi sobre isso, a troca de parceiros entre os gays. Fiz pesquisa de campo e comprovei junto aos meus professores doutores – todos contra o preconceito e a favor dos direitos gays – que os homens gays são sim mais promíscuos. A questão não é comparar com os homens héteros. Isso é argumento para diminuir o peso sobre a imagem dos gays. É como dizer: se eles fazem, nós podemos fazer também.
o que eu vou escrever não é uma opinião sobre o artigo, que digamos:é ótimo, mas eu penso que a diferença entre nós gays e héteros é; eles são machistas e nós não!
O texto é bem explicativo, e bom para que as pessoas heterossexuais entendam de vez que somos humanos e iguais . Porém… sim… existe monogamia entre gays . Somos algo muito raro porém existimos …. NÃO VIVEMOS DE MENTIRAS NEM DE CONVENIÊNCIA. É REAL E LIVRE…NÃO QUER CONTINUAR NESSA RELAÇÃO CAI FORA …é só sair… sem demagogia e com muito papo e transparência, SENTIU BALANÇADO por outro vamos conversar, vamos esclarecer o que é isso para cada um, se é real ou apenas uma descontentamento ou fuga de um dia infeliz, um dia em que tudo deu errado e agente começa a se culpar e culpar os mais próximos pela nossa tristeza …já parou pra pensar!? Muitos casais traem largam e depois choram por esse ato impulsivo e sem muita crítica e critério… Se prometeu FIDELIDADE …cumpra … cristal quebrado , mesmo colado … não é o mesmo … Curtimos muito essa exclusividade de parceria em meu relacionamento . Ser gay não apenas ser ”sexual” … a Monogamia envolver o amor, a cumplicidade a entrega total do companheirismo sem medo de se ferrar. VEJO UMA FALTA DE COMPROMISSO DOS GAYS COM TUDO E TODOS… Exigimos direitos …mas e os nossos deveres… não estão claros …até por que querendo ou não somos invisíveis na sociedade atual . Será que esse medo não tem haver com o medo de compromissos… Eu sei … que a cumplicidade, o amor e o companheirismo podem existir fora da monogamia também…mas não vejo casais em relacionamentos abertos terem o que temos E nem estar 15 anos juntos como nós, DIGO junto …. quando falo junto é pra tudo ! Alegria e desgraça ! Não abandono meu parceiro em um hospital sábado a noite pra ferver e fazer sexo como já vi acontecer, porque ponho meu egoísmo na frente ! A questão é … POR QUE EU NECESSITO DE SEXO EM EXCESSO E COM VÁRIAS PESSOAS !? ESCAPE DA MINHA REALIDADE? COMPULSÃO COMO EM DROGAS ? FALTA DE CONFIANÇA? PROBBLEMAS DE ACEITAÇÃO NA SOCIEDADE … isso se aplica aos HETEROSSEXUAIS também com certeza …deveríamos discutir menos a promiscuidade e mais sua causa… é como um gordo na obesidade… EU PRECISO DE COMER ? ESTOU VERDADEIRAMENTE COM FOME !? OU ESTOU COMENDO MINHA ANSIEDADE OU INFELICIDADE ! Será que eu sei o que realmente gosto no sexo !? Vivemos uma superexposição e supervalorização do que é apelativo sexualmente ….tentam mexer com nosso lado primitivo e que não exige muito do intelecto o tempo todo … basta a nós tentar peneirar e não nos confundir … Vejo muito gay triste dizer … vou me acabar na balada … isso inclui drogas e sexo com estranhos …como se fosse um pacote mágico de felicidade vendido e vangloriado na mídia … será que a felicidade está nisso mesmo ? A tristeza é parte da vida como a felicidade …por que nos obrigamos a ser ou ao menos parecer felizes !? Pra quem é esse teatro!? Lidar com a tristeza é parte fundamental da vida …
EU E MEU PARCEIRO , Estamos envolvidos e conectados a tudo que o outro precisa e necessita em nossa relação , seja pra um dia triste ou um câncer , damos espaço quando precisamos … viajamos e vamos a casa de amigos sozinhos … mas nosso relacionamento esta acima de amizades , parentes e as outras pessoas … AFINAL DE CONTAS IREMOS SER UMA FAMILIA … os amigos complementam mas não tem poder de decisão em nada mas são importante e especiais … por isso são poucos e bem escolhidos …ESTOU RELATANDO MINHA REALIDADE para justificar que EXISTE SIM MONOGAMIA. Cansei de escutar gays chorando por não terem um relacionamento… mas quando estão em um não são nem verdadeiros nem compromissados com que firmam com o parceiro . Beleza acaba ! Nosso corpo deteriora ! dinheiro acaba ! Mas o que temos dentro do cérebro é indestrutível a não ser que uma doenças degenerativas as tirem de nós … Digo com toda convicção isso … Quando tiver 70 anos de idade vai estar na balada cheio de drogas e com tanta plástica para tentar recriar os tempos de juventude perdidos com futilidades sejam sexuais ou materiais !? Quais são os laços que criaram !? Provavelmente não teremos parentes vivos … e ai !? Vejo os gays cada dia mais fúteis e ligados a coisas temporárias …sem compromisso com um futuro nem que seja próximo. Me preocupo muito … são pessoas ótimas perdidas nesse mundo de falsas eternas oportunidades … conduzidas por muita droga sexo e baladas… VOLTO AO PONTO … qual nossos deveres nessas sociedade !? Conosco e com ela !?
SER GAY é sim quase um terceiro sexo… somos livres dos conceitos sociais conferidos ao masculino e feminino… somos criadores de nossas regras uma vez que nem temos uma função social criada pela sociedade que ainda nos descrimina e nos esconde ou camufla de ”homens ” ou o amigo gay,legal e descolado …mas que ainda não esta inserido no contexto social completo pois não nos encaixamos no formato heterossexual social de dividir a sociedade . Penso que acima de sermos animais sexuais, somos SERES PENSANTES , o único animal na terra a construir e destruir por vontade própria… então não é justo dizer que apenas o impulso sexual conduz a nossa existência terrena ENQUANTO GAYS . Somos gays por ”APENAS FAZERMOS SEXO COM UMA PESSOA DO MESMO SEXO”? OU … EXISTE UM FATOR NO NOSSO CÉREBRO QUE NOS DIFERENCIA E NOS LEVA A SERMOS E PENSARMOS COMO HOMOSSEXUAIS !? Esse assunto mais parece uma rede ou teia de aranha …quanto mais se fala …maior fica … ME DESCULPEM os que não concordam … mas é SÓ minha opinião ….
Gostei do que escreveu… Vida longa ao seu relacionamento…
Estupendo! Nunca vi tanta verdade em um texto…
Alguns vão dizer que são promíscuos porque gostam e que não tem nenhum problemas por trás disso … ok ! Sejam felizes…. desejo que sejam felizes em toda sua totalidade possível … mas pra mim e os que vivem como eu vivo …não funciona nem funcionaria … repeito e desejo muito o melhor sempre a vocês, afinal de contas … o legal e mais bonito do mundo é sua PLURALIDADE ! Este meu texto em haver com o fato de afirmarem que monogamia não existe no texto do Bruno Bimbi… deu um ar de chacota pra os que têm esse tipo de relação … Grande abraço !