Traduzido da matéria de Ellen Friedrichs para o site Everyday Feminism
Quando eu estava na faculdade, eu contei pela primeira vez para minha família que estava saindo com uma garota.
Nós estávamos jantando com meus dois irmãos mais novos, e depois de mais um comentário sobre um de meus colegas de escola, um deles disse “Será que todos os seus amigos são gays agora?”. Eles não eram, mas eu convivia com uma turma bem queer, e eu achei que seria esquisito não mencionar minha própria situação romântica. Então comentei.
Mas, apesar de não ter problemas em contar com quem eu estava saindo, eu não tinha um rótulo – nenhum momento tipo “pessoal, eu sou lésbica!” ou “Eu sou bi!” para compartilhar.
Isso aconteceu porque, em parte, eu estava no processo de descobrir minha posição com relação a essas coisas todas.
E, apesar de eu não ter utilizado essa palavra, muitos se referem a esse estágio como “questionar”.
Mas sabe quem não questionou nada? Minha mãe. Ela não me perguntou nada sobre a pessoa com quem eu estava saindo, muito menos como eu me identificava. Ela apenas resmungou algo neutro sobre como eu estava ocupada com a escola, e então nós voltamos a papear sobre a última disputa de atletismo do meu irmão e a palestra que ela ia fazer no dia seguinte.
A não-resposta da minha mãe foi horrível. Não havia nada da raiva, da negação, ou dos sermões que muitas pessoas têm que suportar. Mas parecia que ela estava fazendo pouco caso e, consequentemente, tudo ficou bem desconfortável.
Nem toda interação familiar precisa ser confortável, mas quanto mais os pais compreenderem sobre o que significa estar em dúvida sobre sua orientação sexual, melhor poderão apoiar seus filhos quando a questão surgir.
Então aqui estão algumas coisa que os pais deveriam saber.
1. O que significa questionar sua orientação sexual?
Questionar se refere a pessoas que sentem-se incertas sobre sua orientação sexual. Algumas pessoas questionam-se se são queer. Outras questionam se são héteros. Também é comum perguntar-se se você tem uma orientação sexual qualquer.
Muitos presumem que questionar é algo que as pessoas fazem no processo de descobrir qual é sua identidade no mundo LGBTQIA+. Mas pesquisas já determinaram que não é assim.
Por exemplo, um estudo publicado no Journal of Sex Research em 2011 descobriu que, como nós presumimos que a heterossexualidade é o padrão, é muito mais comum para homens que acabam por identificarem-se como gays ou bissexuais passarem por um processo de questionamento.
No entanto, questionar ainda é uma experiência muito comum para homens que acabam por identificarem-se como heterossexuais.
Citando o estudo, “Mais de 50% dos homens que identificam-se como ‘exclusivamente heterossexuais’ indicaram já terem questionado sua orientação sexual.”
Outro estudo publicado na mesma revista descobriu um fenômeno similar entre mulheres. Ele registra que, numa pesquisa entre mulheres que identificam-se como heterossexuais, a grande maioria “identificavam-se propositalmente como heterossexual depois de contemplar as outras possibilidades.”
Como esses dois estudos demonstram que questionar a orientação sexual é uma experiência bastante comum, não espanta que tantos adolescentes coloquem em dúvida sua orientação sexual juntamente de tantas outras questões em suas vidas.
2. Qual é a diferença entre ser bissexual e ter a sexualidade fluida?
A sexualidade não tem que ser algo rígido por toda a vida. Mas quando se trata da pessoa com quem nos relacionamos, qualquer mudança pode ser vista como uma declaração enorme sobre nossa identidade.
Em quase todas as áreas da vida, nós aceitamos que as pessoas podem ter experiências diversas, diferentes interesses, e variar seus gostos ao longo da vida.
No entanto, quando se trata da orientação sexual, parece que esperamos que as pessoas tenham desde o início respostas claras para esse que é um dos aspectos mais complexos da experiência humana.
Como resultado, muitas vezes confundimos aspectos diferentes da sexualidade. Isso acontece frequentemente quando alguém se questiona com relação à bissexualidade e à sexualidade fluida. Apesar de essas duas coisas parecerem para alguns serem a mesma coisa, na verdade elas são bem diferentes.
Ser bissexual é uma orientação sexual separada que se refere a ter interesse por pessoas de seu próprio gênero e por pessoas de outros gêneros.
Por outro lado, pessoas que são sexualmente fluidas em geral sentem que sua atração sexual depende de cada situação, e muda de acordo com um parceiro em particular, o meio em que estão, e o momento de suas vidas.
Como explica o dr. Dylan Selterman em Science of Relationships,
O nível de fluidez sexual de cada pessoa é uma variável separada que opera juntamente da orientação sexual. Algumas pessoas são altamente fluidas, outras são menos… Se você perguntar a pessoas que se identificam como heterossexuais, mas fizeram sexo com alguém do mesmo gênero, descobrirá que essa experiência não as torna necessariamente “bissexuais”, mas as torna sexualmente fluidas.
Como nós muitas vezes confundimos esses dois conceitos, não chega a surpreender que muitas vezes supomos que o interesse por alguém do mesmo gênero é um sinal da orientação sexual, quando na verdade é algo bem diferente.
Mas quando algo muda, é comum se questionar qual é a razão dessa mudança acontecer e para onde ela vai levar.
3. O que é orientação sexual, se não depende dos atos sexuais?
Claro que sexo pode ser parte da orientação sexual, mas com certeza não é a única parte relevante para pessoas jovens, nem a mais importante.
No entanto, muitos pais sexualizam desnecessariamente seus filhos que apresentam dúvidas sobre sua sexualidade.
Isso acontece porque muitas pessoas, erroneamente, associam a orientação sexual exclusivamente com fazer sexo, apesar de que a orientação sexual é algo muito complexo, que envolve desde a autoconcepção de alguém, aos interesses românticos, à identidade.
Além disso, o jovem pode estar tentado descobrir se se encaixa em identidades como assexual, agênero ou transgênero, e o sexo com outra pessoa pode não ser a questão mais importante nesse processo de identificação.
Também é comum acreditar-se que para alguém ter certeza que não é heterossexual, essa pessoa precisa fazer sexo com um parceiro do mesmo gênero.
O resultado disso é que muitos pais presumem que seu filho começou a questionar sua identidade sexual depois de fazer sexo com alguém do mesmo gênero.
E, apesar de que fazer sexo pode com certeza provocar vários questionamentos na vida de um jovem, muitas pessoas já se questionam quanto a sua orientação sexual muito antes de jamais entrarem em relações sexuais com outra pessoa.
Nós nunca questionamos que uma criança heterossexual sabe que curte alguém do outro gênero apesar de nunca ter tido uma experiência sexual, e no entanto é muito comum colocar em dúvida a orientação sexual de uma criança quando ela se identifica como queer.
3 maneiras de apoiar um jovem que começa a questionar sua orientação sexual
Agora que você já aprendeu o básico sobre o questionamento sobre orientação sexual, você pode estar se perguntando: como posso apoiar meu filho que está passando por isso? Aqui vão três maneiras:
- Não diga que o questionamento de um jovem “é só uma fase”. Ouvir que quem você é “não passa de uma fase” ou que quando você se tornar adulto você vai deixar de se sentir de certa maneira pode ser péssimo. No entanto, quando um adolescente questiona sua sexualidade, essa é a mensagem mais comum. O que importa se no fim das contas seu filho não se identificar como queer? Não há necessidade nenhuma de trazer um fato do passado e lhes dizer “eu te disse”! É perfeitamente normal que os jovens questionem os mais variados aspectos de sua identidade. Além disso (e isso deveria ser óbvio), tirar sarro de um jovem por causa da “fase em que gostavam de One Direction” é muito diferente de tirar sarro de alguém por causa de sua “fase bissexual”.
- Vigie sua própria homofobia. Às vezes a homofobia (tanto aquela que você admite ter, como aquela que você prefere não reconhecer) pode tingir sua reação para o questionamento de um adolescente e fazer com que um pai se preocupe que essas dúvidas são o primeiro passo para que o jovem se declare queer. Se isso estiver acontecendo, tente encontrar a raiz de seu desconforto e pergunte a si mesmo qual é o motivo para ele existir, antes de procurar seu filho. Aqui estão algumas ferramentas para ajudar os pais com isso:
Deixe de ver a orientação sexual como uma escolha (e, caso a pessoa seja queer, como se fosse uma má escolha).
Se você fizer parte de um grupo religioso que se posiciona fortemente contra LGBTs, abandone-o. Se essa opção não for possível, pesquise por conta própria o que sua religião realmente diz sobre orientação sexual. A maioria das crenças homofóbicas têm por base interpretações de textos, não o âmago da religião.
Considere quais aspectos da vida queer lhe causam maior desconforto, e então examine-os. Será que sua hostilidade não tem por base estereótipos negativos? Faça a lição de casa, e é bem provável que que você vai descobrir que muitos dos pontos de vista mais comuns estão errados!
Procure apoio. Isso pode ser feito tanto na busca de um psicoterapeuta com um ponto de vista favorável a LGBTs, ou organizações de apoio mútuo. Muitos pais já passaram por isso, você não precisa reinventar a roda.
- Quando seu filho se tornar sexualmente ativo, tente não entrar em pânico. Não presuma que um adolescente que está questionando sua orientação sexual e é sexualmente ativo estará automaticamente fazendo sexo com um monte de gente, ou arriscando-se sexualmente nesse processo. Tente ajudar a manter seu filho ou filha sexualmente seguro permitindo que ele faça perguntas. Possibilite que ele ou ela use métodos anticoncepcionais e pratique sexo seguro. Leve-o a consultas médicas. E, sim, permita até que eles tenham privacidade sexual com seu parceiro em casa. O sexo adolescente por si só não é perigoso, mas as condições em que muitos adolescentes fazem sexo com certeza podem ser!
Para algumas pessoas, a orientação sexual é clara desde o começo. Para muitas outras, nem tanto.
Apesar de muitos jovens questionarem sua orientação sexual, muitos pais não se sentem confortáveis com esse processo. Portanto é importante compreender que questionar a orientação sexual é uma parte comum e normal da adolescência.
Pense assim: ninguém pensa que é estranho quando uma pessoa gosta muito de sorvete, depois abandone o sorvete por um tempo e encha a cara de chocolate.
Ninguém faz cara feia quando essa pessoa depois se pergunta se na verdade não prefere sorvete, compra um pote pequeno e decide que é gostoso, mas ainda gosta mais de chocolate. Nem vale a pena falar disso, certo?
No entanto, quando se trata da orientação sexual ou das mudanças de como alguém a vivencia, as reações são muito mais intensas.
Agora, claro, nossas orientações sexuais são muito mais complicadas que nossas sobremesas preferidas. Mas se fôssemos flexíveis com relação à identidade sexual da mesma maneira que somos flexíveis com tantos outros aspectos de sua identidade, suas vivências nesse processo de descobrir quem são no mundo seriam muito mais suaves.
Ellen Friedrichs é educadora da saúde, escritora e mãe. Já trabalhou no Museu do Sexo em Manhattan, desenvolveu um currículo para educação sexual em Mumbai, na Índia, e organiza programas de prevenção do HIV em South Bronx. No momento, ela comanda um programa de educação de saúde para o ensino fundamental e médio, e ensina sexualidade humana no Brooklyn College. Confira outros textos de sua autoria.
oque esta em jogo ai é a higiene pessoal de cada um como mãos sujas bocas maus tratadas anus e vagina sem estarem lavadas etc.etc.etc……………….