O agente britânico James Bond, com permissão para matar, é mundialmente conhecido principalmente por causa da série de filmes que vêm ganhando as bilheterias desde 1962. Mas suas origens vêm da literatura: o personagem foi criado pelo escritor Ian Fleming. O que nem tanta gente sabe é que os romances protagonizados pelo agente 007 continuam a ser produzidos: um novo título acabou de ser lançado no Reino Unido, escrito pelo autor Anthony Horowitz.
O livro chama-se Trigger Mortis (trocadilho com rigor mortis), e chegou às prateleiras essa semana. Durante entrevista para o jornal britânico Telegraph, o escritor contou o que está fazendo para que um personagem tão simbólico do machismo do século 20 continue relevante no novo milênio. Entre os ajustes feitos na nova trama, está a presença de um novo personagem, gay, que entre outras coisas chama a atenção do espião para seus costumes, digamos, antiquados.
“Um dos desafios em se escrever esse livro era aquela atitude em que um homem heterossexual pode mudar a vida de uma mulher e deixá-la de pernas bambas”, desabafou Horowitz. “Isso é algo que, acho, seria contestado no século 21. Como permanecer fiel à criação e conceito originais, e ao mesmo tempo não ofender as pessoas de hoje em dia?”
Ele explica as manobras que fez para solucionar esse desafio no novo romance: “Bond fuma, fuma muito. O que eu faço é dar um empurrãozinho nele e coloco uma pequena referência a um artigo de jornal que ele vê, que o lembra que cigarros dão câncer. Eu também lhe dei um amigo gay muito sincero, que dá broncas nele e diz ‘Bond, dá licença, você vive no século 20, não na Idade Média’.”
“Quanto às mulheres, ele tem essa atitude carnal e condescendente com elas, que vai totalmente de encontro ao Bond dos outros livros”, continua. “O que eu fiz foi criar mulheres muito fortes. Ele é obrigado a se esforçar muito e tem suas atitudes desafiadas o tempo todo.” Em Trigger Mortis, a personagem Pussy Galore, amante de James Bond no livro e filme Goldfinger, retorna depois de sair do armário como lésbica.
A diversidade vem impregnando outros aspectos do império de James Bond. O cantor gay Sam Smith vai gravar “Writing On The Wall”, o tema do próximo filme de 007, Spectre. O ator David Oyelowo vai interpretar o papel de Bond na versão em audiolivro de Trigger Mortis – o que aumenta as esperanças de que um ator negro venha um dia encarnar Bond nas telas, apesar de Anthony Horowitz ter dispensado a ideia de o ator Idris Elba vir a dar vida ao espião no cinema por ser “malandro” demais.