“O que mais gosto na história da Nomi é que não é sobre sua transição”, diz atriz de “Sense8”

Jamie Clayton, que recentemente foi fotografada pegando o Keanu Reeves, mostra que seus predicados vão além de sua identidade de gênero

por James Cimino

Sabem aquela atriz transgênero que tá pegando o Keanu Reeves? Então, ela tem nome. É Jamie Clayton. E ela também tem trabalho. Na série Sense8, da Netflix, ela interpreta Nomi, uma hacktivista (ativista e hacker) que tem uma namorada e que está enfrentando um câncer. Ah! Na série ela é transgênero também. E lésbica, que vocês já devem ter entendido.

Mas nem sua sexualidade ou sua identidade de gênero realmente importam muito para a história. E é exatamente isso que ela adora em seu personagem, conforme entrevista que deu para a gente aqui do Lado Bi em Los Angeles, na semana passada.

“O que eu mais gosto na história da Nomi [sua personagem, uma mulher lésbica e transgênero] é que ela não é sobre sua transição, e isso nunca foi feito antes. Ela é uma personagem completa, com uma namorada, um trabalho. E agora ela está lutando pela vida, pois foi informada que tem um câncer e que terá de fazer uma cirurgia no cérebro. E isso nada tem a ver com o fato de ela ser trans. Essa série é basicamente sobre empatia. E ela é tão lindamente editada, pois mostra pessoas diferentes passando pelas mesmas situações”, disse Clayton.

A declaração foi feita quando perguntamos se ela achava positiva a presença de tantos personagens diversificados que aparecem na série e que têm se tornado cada vez mais constantes nas tramas.

Quando perguntamos o que ela e uma das criadoras da série, a diretora e roteirista Lana Wachowski, que também é uma mulher transgênero, havia conversado sobre o personagem, Jamie novamente pontuou que o que a interessava mais em Nomi era saber coisas como “onde ela conheceu sua namorada” e “por que ela era tão a rica a ponto de querer pagar suas despesas médicas em dinheiro vivo”.

Como estávamos em uma rodada de entrevistas promovidas pelo canal, conversamos também com duas atrizes de Orange is the New Black e com o diretor brasileiro José Padilha, de Tropa de Elite, que estava lançando Narcos, sua estreia na Netflix.

Coincidentemente, as estrelas do canal acham que não foi apenas na forma de assistir a séries e filmes que o serviço de vídeos on-demand revolucionou o mercado do entretenimento. Para eles, em termos de conteúdo, esta plataforma também está investindo no pioneirismo, e a palavra chave do sucesso de é retratar a diversidade humana.

Sense8 | Trailer Nomi

“Acho que Orange is the New Black faz sucesso exatamente por causa disso [diversidade]. Curiosamente Sense8 também é da Netflix e eu acho que eles têm sido pioneiros no que diz respeito à representação do mundo como ele é na tela”, opinou a atriz Selenis Leyva, que interpreta a presidiária Gloria na série escrita por Jenji Kohan. “Outras produtoras e canais têm tentado fazer isso e, ao longo dos anos, temos ouvido essa palavra ‘diversidade’ o tempo todo. Mas, em geral, esses programas apresentam apenas um personagem diverso. E nós somos um programa sobre diversidade. Não apenas em termos de cores e etnias, como brancas, negras, latinas, mas também lésbicas, transgêneros. Estamos efetivamente cobrindo o mundo. É bom fazer parte da história. E, pela primeira vez, as mulheres estão sendo retratadas de uma maneira diferente, seja em frente ou atrás das câmeras…”.

Leyva é uma atriz de origem cubana e dominicana e, segundo ela, também é afro-latina. Ela falou sobre o assunto ao lado da colega de elenco Natasha Lyonne, a Nicki de OITNB. A série conta a história de uma mulher branca, de classe média alta, que vai parar em uma prisão feminina onde convive com pessoas de várias origens, etnias e orientações sexuais. Curiosamente nas duas últimas temporadas, o papel da protagonista Piper tem diminuído conforme as histórias das outras personagens têm aumentado.

Para Lyonne, que recentemente esteve no Brasil participando da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e que afirma ter se apaixonado pelo país, “o público está cada vez menos interessado em ver os mesmos tipos de programa que ele já viu milhões de vezes antes, com uma falsa visão idealizada do ser humano.”

“Acho que as pessoas que nunca tiveram voz passaram a não mais aceitar esse tipo de tratamento, porque juntos nós somos a maioria aqui”, completou.

Lyonne, inclusive, protagonizou uma polêmica com o repórter do CQC Rafael Cortez durante sua passagem pelo Brasil. Após ser questionada se sua beleza não atrapalhava na carreira, a atriz respondeu que Cortez estava sendo sexista.

Cortez faz entrevista exclusiva com atrizes de Orange Is The New Black

Questionada pelo Lado Bi se, apesar da diversidade nas telas, mulheres ainda têm de lidar com isso em sua profissão, limitou-se a responder que, hoje em dia, este tipo de tratamento diminuiu muito. “Acho que não temos que lidar nem com metade do que tínhamos antes, à medida que esse tipo de pergunta chata, tipo ‘como é ser mulher’ ou ‘como é ser bonita’, vai ficando cada vez mais ridícula”.

Mas boa mesmo foi a análise do diretor brasileiro José Padilha, de Tropa de Elite e Ônibus 174.

“Eu sempre ouvi nos festivais da América Latina em que fui o seguinte: ‘Vamos integrar a América Latina. Vamos fazer um produto que tenha atores brasileiros, argentinos, peruanos, mexicanos e chilenos. Quem fez isso foi a Netflix. É a primeira vez. E o nosso é bilíngue. Metade em inglês e metade em espanhol. Não se consegue fazer isso na TV aberta nem no cinema. Você só consegue fazer no modelo da Netflix ou no da Amazon. Na Netflix, como o modelo dela é com base no assinante, eu não preciso que todos os meus assinantes assistam a todos os programas. Eu posso arriscar. Então, o audiovisual autoral, e com dinheiro, está renascendo onde? Nas séries da TV americana. E agora a Netflix e a Amazon estão investindo em filmes. Ou seja, o cinema de autor está, na verdade, renascendo.”

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Um comentário

Tom

E por que será que nossas tv’s a cabo não estão tentando fazer o mesmo? Chega a ser constrangedor o nível das produções, principalmente Multishow. Um e outro canal de vez em quando ensaia fazer algo mais original, mas muito timidamente, se considerarmos o tamanho do publico brasileiro e os recursos artísticos.
E os artistas, por sinal, parecem mais interessados em fazer qualquer coisa que lhes renda “prestígio” comercial, do que fazer trabalhos que mereçam aplauso.

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