Roupas para gestantes costumam seguir sempre o mesmo estilo: muitos tons pastéis, decotes largos, flores, frufrus… Mas e quando você é uma lésbica bofinho, ou uma mulher que gosta de usar roupas de corte masculino? Ficar grávida torna-se não apenas um exercício de trabalhar com as mudanças que a gestação causa em seu corpo, mas também um esforço de abrir mão de parte de sua identidade. Foi com isso em mente que duas estilistas norte-americanas fundaram a Butchbaby & Co., uma linha de roupas de gestantes com cortes masculinos.
Vanessa Newman ainda estava na faculdade quando foi convidada para um evento LGBT na Casa Branca, em que pessoas trariam propostas de 30 segundos para melhorar a vida de LGBTs. Ela decidiu usar essa oportunidade para testar uma ideia que vinha maturando há tempos: uma linha de roupas andróginas para gestantes. Entre as 30 propostas lançadas naquele dia, a sua foi a única aplaudida.
Newman criou então coragem, trancou a faculdade, aliou-se a Michelle Janayea, uma amiga designer, e começou a trabalhar em seu projeto. O lema da Butchbaby & Co. é: “não mude apenas porque seu corpo está mudando”, e sua filosofia é que a gravidez e a maternidade devem ter uma ampla variedade de definições e identidades. A dupla ainda não divulgou imagens de suas criações, mas já adiantou que serão dividas nas categorias “trabalho”, “diversão” e “descanso”, com peças como calças jeans, camisas de botão, pulôvers, camiseta para amamentação, tops esportivos e cuecas samba-canção.
“Calças jeans são muito importantes, porque eu conheço muitas mulheres e pessoas que se identificam numa escala mais masculina e não gostam das calças que são feitas para mulheres”, Newman disse em entrevista à revista Fast Company. “Elas gostam de bolsos grandes com bastante espaço, porque não carregam bolsas consigo. Coisas como um corte reto nas pernas. Quanto ao top esportivo e as cuecas samba-canção, essas são coisas que muitas das mulheres em nossa comunidade preferem usar, mas não existem por aí para mulheres grávidas.”
A Butchbaby deve lançar uma campanha de financiamento coletivo ainda esse mês, e a meta é começar a vender as roupas online a partir de outubro. As estilistas também têm em vista manter suas criações numa faixa de preço acessível. “Como eu sou negra, eu sei que pessoas negras ganham menos direito de maneira desproporcional, e também ficam grávidas”, alerta Newman. “Eu quero que as pessoas saibam que é possível fazer roupas de qualidade com um bom preço.”
“A comunidade LGBT está sendo mais aceita, mas a maternidade ainda é algo apresentado de maneira muito heteronormativa”, Newman afirmou à revista Slate. “Vivemos numa sociedade em que as roupas são parte integral de como nos apresentamos e somos vistos.”
O estilo tradicionalmente feminino não cabe para todas as mulheres, principalmente para as bofinho. A.K. Summers, autora da HQ Pregnant Butch (“Bofinho gestante”, em tradução livre), conta como passou “nove meses travestida”. Apesar de não ter vontade de ficar grávida, ela queria ter filhos com sua esposa, cujo histórico familiar apontava para dificuldades com a infertilidade. “Nós tomamos uma decisão racional de que seria mais fácil que eu ficasse grávida”, lembra-se. “Eu resolvi carregar o time nas costas, tipo, tá, eu sou capaz de fazer qualquer coisa por dez meses. Foi algo calculado. Uma decisão do casal, assim como se mudar de cidade ou aceitar um salário mais baixo.”
“As pessoas costumam ter a ideia errada de que apenas a parte mocinha do casal fica grávida”, relatou Debra Guy, uma ativista de Charlottesville, Virginia. Durante sua gestação, Guy não se sentia confortável com a maneira como as roupas de gestante deixavam seu corpo exposto. “Durante meu último mês, eu ia só de camiseta para o trabalho, porque era o menos horrível que me servia. Consegui encontrar também umas calças cargo para gestante que ficavam meio esquisitas. Não foi meu momento mais fashion”.
Newman conta que não são apenas lésbicas que buscam informar-se sobre sua linha de roupas. “Já recebemos muitos e-mails de mulheres hétero que buscam algo mais confortável”. Vamos torcer para que a ideia se espalhe também aqui para o hemisfério sul, e que todas as mulheres possam livrar-se da caixinha cor-de-rosa em que as gestantes são colocadas.