5 respostas da Bíblia em favor do casamento igualitário

Apesar do casamento igualitário já ser uma realidade, muitos cristãos ainda usam a Bíblia para fundamentar seus próprios preconceitos. Veja como usar as Escrituras para argumentar também a favor da igualdade

por Marcio Caparica

Traduzido do artigo de Matthew Vines para o site Queerty

Muitos cristãos já mudaram sua opinião sobre a comunidade LGBT, mas não todos – e aqueles que ainda não o fizeram são capazes de fazer bastante barulho.

Essas pessoas podem ser seus pais, um colega de trabalho, ou um amigo de infância que publica um post nas mídias sociais afirmando que relacionamentos homoafetivos são errados. Aqui vão maneiras construtivas de responder a cinco dos argumentos mais repetidos…

1. Deus destruiu Sodoma e Gomorra por causa da homossexualidade, portanto com certeza vai julgar-nos assim também em breve.

Na verdade, Deus não destruiu Sodoma e Gomorra por causa da homossexualidade. De acordo com Gênesis 19, os homens de Sodoma ameaçaram fazer um estupro coletivo contra os mensageiros de Deus. Essa ameaça era uma questão de poder e humilhação, não de orientação sexual.

Além da Biblia jamais fazer a conexão entre o pecado de Sodoma e os relacionamentos homoafetivos, ela ensina explicitamente que o pecado de Sodoma foi algo completamente diferente. Está em Ezequiel 16:49: “O crime da tua irmã Sodoma era este: opulência, glutoneria, indolência, ociosidade; eis como vivia ela, assim como suas filhas, sem tomar pela mão o miserável e o indigente.”

É válido apontar que nossa sociedade pode ser acusada de todos esses tipos de pecados de opressão desde a colonização, da maneira brutal como tratamos os nativos à nossa prática da escravidão e da segregação. Os ensinamentos da Bíblia sobre Sodoma com certeza revelam alguns dos pecados de nosso país – mas o casamento igualitário não está entre eles. (Sequer é um pecado!)

2. A Bíblia prega que ser gay é uma abominação

Levítico 18:22 é o verso da Bíblia que mais frequentemente é citado pelos opositores do casamento igualitário: “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é uma abominação.” Mas o Levítico faz parte das leis do Antigo Testamento, e o Novo Testamento ensina que os cristãos devem viver sob a nova aliança, não sob a antiga.

Jesus disse em Mateus 5:17 que ele veio para cumprir as leis do Antigo Testamento, e o autor de Hebreus escreveu que a lei era “antiquada e envelhecida” e estava “certamente fadada a desaparecer” (Hebreus 8:13). É por isso que os cristãos de hoje aceitam em sua maioria coisas que no Antigo Testamento são chamadas de “abominação”, como cobrar juros em empréstimo (Ezequiel 18:13), fazer sexo durante o período menstrual da mulher (Levítico 18:19) e comer carne de porco (Deuteronômio 14:8).

3. A Bíblia prega que ser gay vai contra a natureza

Apesar do versículo do Levítico ser o que é citado com mais frequência, aquele que é o mais importante para muitos dos cristãos que não aceitam o casamento igualitário está no Novo Testamento. Em Romanos 1:26,27 o apóstolo Paulo condena o comportamento homossexual, descrito como vergonhosas, torpes e contra a natureza. “Não podemos aceitar algo que a Bíblia afirma que vai contra a natureza e é vergonhoso”, dizem muitos. Mas, na verdade, a maioria dos cristãos já fazem isso.

Matthew Vines

Matthew Vines

Paulo diz em 1 Coríntios 11:14 que um homem ter cabelo comprido é uma “desonra” que vai contra o que “ensina a natureza”. Mas a maioria dos cristãos que se opõem ao casamento igualitário não condenaria o cabelo longo dos homens. A Bíblia chega a elogiar o cabelo comprido dos homens no Antigo Testamento (confira Números 6:5, 2 Samuel 14:26 e 2 Reis 2:23). É por isso que a maioria dos cristãos interpretam “natureza” em 1 Coríntios como algo que se refere às convenções culturais da época de Paulo.

Se “natureza” na verdade significa “costumes” em 1 Coríntios 11, não poderia também significar “costumes” em Romanos 1? Há boas razões para que sim. No mundo antigo, as relações homoafetivas eram consideradas “contra a natureza” principalmente porque um casal do mesmo sexo violava as normas patriarcais de gênero tradicionais: os homens seriam passivos ao invés de ativos, e as mulheres tornariam-se dominantes ao invés de submissas. É uma convenção cultural tanto quanto as regras sobre o comprimento do cabelo.

Da próxima vez que alguém disser que não pode aceitar algo que a Bíblia diz ir contra a natureza, mostre-lhe 1 Coríntios 11:14 e pergunte: você agiria da mesma forma com relação ao cabelo comprido dos homens?

4. A Bílbia prega que “homossexuais” não vão ao Paraíso

Até 1946, nenhuma tradução da Bíblia sequer usava a palavra “homossexual”. Mas a partir da metade do século 20, muitas traduções de 1 Coríntios 6:9 e 1 Timóteo 1:10 foram alteradas para afirmar que “homossexuais” não haverão “de possuir o Reino de Deus”. Felizmente, muitos estudiosos do Novo Testamento vêm combatendo essas traduções nos últimos anos, de Dale Martin a James Brownson. Seu argumento é simples: a palavra “homossexual” não existia nem nas línguas modernas até 1869, nem existia naquela época o conceito de orientação sexual como o compreendemos hoje.

É perfeitamente possível que o apóstolo Paulo estivesse condenando algumas formas de comportamento homoafetivo em 1 Coríntios 6 e 1 Timóteo 1, mas os tipos de comportamento que eram mais amplamente praticados em sua época eram coisas como a prostituição, o sexo entre mestres e escravos, e a pederastia (sexo entre homens e garotos adolescentes). Casamento homoafetivo entre parceiros do mesmo status sequer era algo concebível para ele, portanto pensar que ele poderia estar condenando esse tipo de relacionamento não é correto.

Nem a palavra “homossexual” nem o conceito que ela representa existiam quando a Bíblia foi escrita, então simplesmente não é verdade que a Bíblia ensina que homossexuais não vão para o Paraíso.

5. Jesus definiu o casamento como algo entre um homem e uma mulher

Na verdade Jesus nunca definiu o casamento na Biblia. Em Mateus 19:3 alguns fariseus perguntam a Jesus se é permitido a um homem rejeitar sua mulher “por um motivo qualquer”, e Jesus diz que não. Ele responde à pergunta deles – uma pergunta especificamente sobre marido e mulher – dizendo que “o Criador fez o homem e a mulher” e que “não separe o homem o que Deus uniu.”

Jesus não estava sendo questionado quanto ao casamento homoafetivo. O que é de se esperar, já que ninguém falava sobre casamento homoafetivo no século 1. Mas, apesar de Jesus não se referir diretamente a relacionamentos homoafetivos, os princípios fundamentais de seus ensinamentos sobre o casamento podem ser aplicados aos casais homoafetivos de hoje. Tanto Mateus 19 e Efésios 5 ensinam que o casamento é fundamentalmente uma aliança que os cônjuges fazem e mantêm um com o outro, imitando o amor que Deus sente por nós.

Isso é algo que todos – heterossexuais, homossexuais, ou bissexuais – podem buscar em suas vidas.

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3 comentários

Allec

Sobre o que Paulo escreveu, foi tradução errônea.

A palavra original é Malakos (plural malakoi), aparece em outros textos bíblicos e significa, literalmente, macio, suave ao toque, mole, alguém “facil de lidar”, metaforicamente seria “moralmente fraco, ineficaz”. Raramente se é associado a “comportamentos homossexuais”.

Carlos

Sou contra todo o tipo de intolerância ou violência gratuita contra cidadãos, pela sua orientação sexual. Não sou de acordo com paradas gay. Contudo não desprezo todos os esclarecimentos sobre este assunto tão sensível e polémico. Conheço casos de casais homoafectivos com décadas no seu relacionamento. Perturbam alguém? Não!
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