Alan Turing é um dos casos mais famosos dos danos causados pela homofobia. Considerado o pai da computação, o matemático britânico teve um papel importantíssimo durante a Segunda Guerra Mundial: graças a seus esforços, os Aliados conseguiram decifrar as mensagens nazistas em código, virando o jogo em várias batalhas. Estima-se que seu trabalho reduziu a guerra em dois ou quatro anos, salvando milhares de vidas.
Calha que Turing também era homossexual numa época em que a homossexualidade era um crime no Reino Unido. Em 1952 ele foi condenado por atentado violento ao pudor contra um homem de 19 anos, e aceitou uma pena de castração química como alternativa à prisão. Cartas recentemente publicadas pelo jornal britânico The Guardian revelam as batalhas que o cientista travou com sua sexualidade durante o período entre sua condenação e sua morte, em 1954. O tratamento tinha a intenção de conter seus desejos homossexuais. Em carta enviada para Nick Furbank, Turing confidenciava:
Eu tive um sonho que indicava claramente que estou a caminho de ser hétero, mas eu não aceito isso com muito entusiasmo, desperto ou sonhando.
Ele também relata sobre a convivência com sua mãe:
Mãe está ficando aqui, e parece que estamos nos dando bem melhor. Eu a submeti a uma boa dose de instrução sexual e ela parece ter suportado isso bastante bem. Outra noite eu tive um sonho um tanto absurdo, no qual eu perguntava a minha mãe o que ela achava de eu ir para a cama com alguns homens, e ela dizia: “Ah, tudo bem, mas não saia andando por aí pelado como você fazia antes”.
Em outro trecho, Turing planejava suas férias na ilha grega de Corfu, e sonha com um relacionamento sério:
Espero me deitar no sol, falar francês e grego moderno, e fazer amor, apesar de que o sexo e a nacionalidade… ainda hão de serem decididos: na verdade, é bem possível que essa parte seja totalmente omitida. Eu desejo ter um relacionamento permanente e posso sentir-me inclinado a rejeitar qualquer coisa desse tipo que, por sua natureza, possa não ser permanente.
Essas cartas foram divulgadas pelo sobrinho de Alan Turing, sir Dermot Turing, que está para lançar um livro a respeito do tio entitulado Prof: Alan Turing Decoded. As cartas, acredita, confirmam o sofrimento por que o matemático passou em seus últimos anos de vida: “Ele estava fazendo psicoterapia, mas ao mesmo tempo seus hormônios foram eliminados… [Essa correspondência] confirma que ele vivia bastante perturbado, uma suposição histórica, agora confirmada.”
Turing morreu dois anos depois de sua condenação, envenenado por cianeto aos 41 anos, certamente um suicídio. Em 2009, o então primeiro-ministro britânico respondeu a campanhas online e pediu perdão em nome do governo pela “maneira deplorável como foi tratado”. Em 2013, a rainha Elizabeth perdoou seus “crimes” postumamente. Sua vida ganhou as telas do cinema no filme O Jogo da Imitação, estrelado por Benedict Cumberbatch.
E isso tudo aconteceu a ele, mesmo ele tendo o papel que teve na segunda guerra… imagina o que não acontecia a outros gays. Bah e isso da Rainha perdoar os “crimes” dele… piada né. A divida do Reino Unido com Alan Turing é eterna!