Instituições que ofereciam cura gay são punidas pela Justiça nos EUA e na China

Na ação movida nos EUA, júri considerou que as práticas eram "fraude ao consumidor"; na China a Justiça determinou que a terapia (que consistia no uso de eletrochoques nos pacientes) era "desnecessária" já que a homossexualidade "não requer tratamento"

por James Cimino

Enquanto no Brasil a bancada evangélica promove um debate sobre “cura gay” na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, com propostas risíveis como a “bolsa ex-gay” ou com argumento de que homossexualidade é moda (que nunca caiu em desuso, aliás), nos Estados Unidos e na China duas instituições são condenadas a indenizar homossexuais que foram submetidos a terapias que incluíam práticas vexatórias e até eletrochoques.

O primeiro caso aconteceu no Estado americano de Nova Jersey. Nesta quinta-feira (25), o júri condenou uma instituição judaica por violar a lei de defesa ao consumidor daquele Estado.

Segundo o Buzzfeed, a ação foi movida por três jovens e dois de seus pais contra a Jonah (Jews Offering New Alternatives for Healing, que em português significa Judeus Oferecendo Novas Alternativas de Cura).

O grupo prometia em seu programa uma terapia de conversão eficaz para “a doença mental da homossexualidade”, dizia a ação judicial, mesmo não havendo nenhuma evidência cientifica de que a homossexualidade possa ser mudada ou que seja uma doença mental. A ação também alegou técnicas brutais usadas nos clientes.

“Terapia de conversão e homofobia são baseados na mesma mentira: que os gays estão doentes e precisam ser corrigidos”, disse David Dinielli, principal advogado do caso, logo após o veredicto do júri. “Terapeutas de conversão, incluindo os arguidos neste caso, vendem curas falsas e podem prejudicar seriamente as pessoas inocentes que caem nesta armadilha.”

Michael Ferguson, Chaim Lavin, Ben Unger e Sheldon Bruck, que processaram instituição judaica que lhe aplicou terapia de "cura gay"

Michael Ferguson, Chaim Lavin, Ben Unger e Sheldon Bruck, que processaram instituição judaica que lhe aplicou terapia de “cura gay”

A acusação disse que os rapazes foram obrigados a ficarem nus como parte de sua terapia e, em um exercício, foram instruídos a lutar contra laranjas que representavam os testículos do outro. Em outro exercício, um cliente disse ele bateu uma efígie de sua mãe com uma raquete de tênis até que suas mãos sangrassem.

O júri condenou os acusados a pagarem mais de US$ 20 mil às vítimas.

O Estado de Nova Jersey proibiu a terapia de conversão em 2012, e o legislativo do Estado de Illinois aprovou uma proibição de terapia de conversão para jovens LGBT em maio. Proibições similares estão em curso na Califórnia, no Distrito de Columbia (onde fica a capital Washington, e no Estado de Oregon.

A administração Obama tomou uma posição contra a terapia de conversão em abril deste ano dizendo: “Há evidências científicas esmagadoras demonstrando que a terapia de conversão, especialmente quando ela é praticada em jovens, não é nem saudável nem eticamente adequada e pode causar danos substanciais“.

Eletrochoques

O caso ocorrido na China é ainda mais grave. O hoje ativista LGBT Yanzi Peng foi submetido a uma sessão de hipnose que precedeu a aplicação de eletrochoques em seu corpo. Ele havia procurado a tal “clínica” porque, naquele país, é costume entre as famílias procurar esse tipo de resolução quando um filho ou uma filha se revelam LGBTs.

Uma rede de TV de Hong Kong foi ao “consultório” do charlatão que aplicou a terapia de conversão em Peng para entrevistá-lo anonimamente. Ele disse que, para um gay ser curado, eram necessárias força de vontade e várias sessões. Obviamente as sessões são pagas, mais ou menos como funciona aqui com as igrejas evangélicas.

Sentindo-se ultrajado por ter sido submetido aos eletrochoques, Peng resolveu processar o terapeuta (que foi preso, mas liberado dois dias depois) e também o serviço de buscas chinês, o Baidu, por anunciar esse tipo de serviço.

A história completa de Yanzi Peng está no vídeo acima, em inglês.

 

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