Lisa Kudrow: “gays são biologicamente superiores, meio super-humanos”

Prestes a estrear a segunda temporada do seriado “The Comeback”, a atriz investiga o amor dos gays por sua desafortunada personagem

por Marcio Caparica

Lisa Kudrow conquistou fãs eternos pelo mundo inteiro ao longo dos dez anos em que viveu a avoada Phoebe Buffet no seriado Friends. Sua carreira após o seriado que a tornou famosa, no entanto, dificilmente estacionou, pelo contrário. Logo após abandonar o café Central Perk, Kudrow encarnou a personagem Valerie Cherish para o seriado de humor negro The Comeback, da HBO. Valerie era uma atriz decadente de meia-idade que, em busca de recuperar a fama, aceita ser a protagonista de um reality show que filma sua vida 24h por dia, registrando as situações constrangedoras e humilhantes às quais ela se submete enquanto tenta levantar sua carreira. O seriado durou apenas uma temporada, para a infelicidade de muitos gays norte-americanos que se identificaram com a protagonista. Dez anos depois, a HBO ressuscitou The Comeback, que vai iniciar uma segunda temporada dia 9 de novembro nos EUA. Confira a seguir a entrevista que Lisa Kudrow concedeu à revista PrideSource sobre a volta de Valerie Cherish.

Por que os gays gostam tanto de Valerie Cherish?

Eu também estava me perguntando isso – não que seja um enigma, mas eu fico tentando descobrir a razão disso. Eu estava assistindo Will & Grace outro dia e vi um episódio hilariante em que Karen está num teatro, arremessa uma garrafa e acerta a cabeça de alguém. Daí fazem a piada de que  se quem levou a garrafa na cabeça for um gay não havia por que se preocupar, porque “Ah, isso faz parte de um dia normal”. (Risos) Tipo, alguém te acertar com algo na cabeça é “um dia normal”. Então eu fico pensando se essa maneira de lidar com os revezes não faz com que os gays se identifiquem com ela  – porque a Valerie, você sabe, é humilhada – ou se humilha – o tempo todo. E a reação dela é “Ah, tudo bem, o mundo é assim”. Outra coisa que eu adoro sobre a Valerie é que ela tem essa atitude, “OK, alguém disse algo que não foi legal, mas sabe de uma coisa, não posso me preocupar com isso. Eu tenho mais o que fazer.” Ela simplesmente ignora que aquilo aconteceu e segue em frente.

É o que os gays têm em comum com ela também: a perseverança.

Muita perseverança! Concorde você com o objetivo dela ou não, ela tem essa meta e nada vai entrar no caminho. Há algo admirável nisso, há mesmo. Só que, você sabe, ela está disposta a aguentar coisas demais.

Quando ficou evidente para você pela primeira vez que os gays embarcaram em The Comeback? Você percebeu logo?

Sim, quase de cara. Michael Patrick King [co-criador de The Comeback] disse, “Você já sacou o que vai acontecer: primeiro os gays, depois as mulheres, e daí todo mundo.”

RuPaul fez uma ponta no episódio piloto…

Eu sei. Deus do céu – tão bom!

Isso quer dizer que Valerie poderia fazer uma participação como jurada convidada em RuPaul’s Drag Race, não é?

Sabe, já me pediram isso, mas eu não sei como é que a Valerie ia funcionar num programa de entrevistas ou como jurada. Não sei. Eu estou considerando. Eu estou tentando descobrir o que fazer para dar certo. Eu não quero recusar!

E é claro que você não deve recusar. O que eu quero dizer é que eu imagino que haverá muitas oportunidades para você dizer “Nota para mim mesma: eu não preciso ver isso!”.

(Risos) Mas ela poderia dizer todo tipo de coisa – eu não sei o que deixam a gente falar no Drag Race. Assim, ela não é nada delicada e faz coisas erradas o tempo todo, entendeu, eu não sei quão boca-suja ela vai ser.

A Valerie está rodeada de gays, e muito da sua própria carreira tangencia os gays. Você participou de Happy Endings. Você fez Meryl Streep interpretar uma terapeuta de conversão gay em Web Therapy. E há também, claro, The Comeback. Você está tão submersa na comunidade LGBT quanto a gente pensa ao analisar sua carreira?

Sim e não. As pessoas com quem eu trabalho são gays. Eu não sei se vou ofender alguém agora, mas eu preciso dizer que eu acho que os gays são seres superiores a meu ver. Eu realmente acredito nisso.

Eu adoraria ouvir a justificativa para isso.

É meio complicado. Eu estudei biologia e os cérebros são anatomicamente diferentes. Eles simplesmente são. Há uma conexão maior com o corpo caloso [parte do cérebro] nos homens gays. As duas metades do cérebro de um gay se comunicam melhor entre si do que no cérebro de um homem hétero, e eu acho que isso há de ser muito importante. Eles não são mulheres – eles ainda são homens – e as mulheres também têm corpos calosos mais grossos. Acho que é a combinação dessas qualidades que faz com que os gays sejam meio super-humanos para mim.

Nessa nova temporada está ainda mais evidente a crítica inerente à cultura da celebridade e a discriminação quanto à idade e ao gênero. No que se refere ao preconceito por idade na indústria do entretenimento – o fato de que tantas atrizes talentosas e mais velhas não conseguem papéis grandes – o que você gostaria que The Comeback realizasse ao chamar atenção para esse problema?

Eu não sei o que dizer sobre isso. Isso simplesmente é assim. Acho que esse é um processo que ainda vai levar muito tempo. Minha personalidade não é das mais revolucionárias, sabe? Eu não sou o tipo de pessoa que vira ativista. As mulheres ainda têm uma posição diferente em nossa sociedade, isso está mudando lentamente, muito lentamente. Como nossa sociedade está muito mais interessada no público masculino que no público feminino, o que se exige das muheres no entretenimento é que elas deem tesão nos homens. Isso não mudou muito.

Esse é o foco em particular do terceiro episódio quando – spoiler alert – você finge fazer sexo oral em Seth Rogen.

Isso mesmo! E daí você tem as duas garotas totalmente peladas lá de pé por um tempo desconfortavelmente longo.

Você se sentiu desconfortável durante a gravação?

Bem, as garotas pareciam não ter problema. Mas, sabe como é, a gente tem que ter certeza de que todo mundo está sendo tratado com respeito, não é?

Você já passou por algum tipo de discriminação por conta da idade em sua própria carreira, assim como a Val? Algum papel que você não conseguiu por causa da sua idade?

Não que eu saiba. Eu não sei bem como explicar, mas um dos meus maiores defeitos é que eu aceito as coisas do jeito que são, e daí simplesmente tento me adaptar. Acho uma coisa incrível essas pessoas que dizem “Não, não, não. Isso não tem que ser assim.” Eu fico impressionada.

Você assiste reality shows? Você é fã de algum?

Assisto sim. Eles são fascinantes. Eu gosto de Top Chef, Project Runway. Eu assito America’s Next Top Model. E também assisto os Housewives de algumas cidades. Eu fico fascinada com a quantidade de críticas que os jovens aguentam. Eu não daria conta. Acho que eu me encolheria numa bola, então de certa maneira eu realmente admiro a capa de Teflon deles que os tornam capazes de dizer “OK. Obrigado. Boa observação”. Eu tento conter o meu lado crítico o tempo todo, e não é fácil, ainda mais quando é esse lado crítico que lhe fornece seu senso de humor.

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