‘Kama Surra’ faz protesto contra a violência da PM em manifestações

Grupo de artistas espalha cartazes por São Paulo que transformam agressões da polícia em posições sexuais

por Marcio Caparica

Quem caminha pelas ruas do centro de São Paulo, se tirar os olhos dos celulares e começar a prestar atenção no ambiente à sua volta, pode esbarrar em alguns cartazes inusitados. Colados em tapumes de construções, postes e muros, cartazes com ilustrações que mostram um PM agredindo um civil em posições parecidas com as do Kama Sutra aos poucos ganham a cidade. Os responsáveis por isso são os criadores do site Kama Surra, de Gabriel Morais, Renato Botelho e Bruno Pereira. Lá o internauta encontra vários pôsteres para download, em que os ativistas propõem posições nada carinhosas como a “Pimenta Entrelaçada”, o “Enforcamento do Súdito”, “Porrete Profundo” e o “Traseiro Algemado”. Os autores do site concederam a seguinte entrevista ao LADO BI, por e-mail.

LADO BI – Por que cartazes lambe-lambe?

Gabriel Morais, Renato Botelho e Bruno Pereira – Nós escolhemos esse formato por ser viável, uma vez que tudo saiu do nosso bolso, mas o dinheiro não é apenas a única justificativa. A gente colou os lambe-lambes já esperando a viralização por fotos nas redes sociais – e foi exatamente o que aconteceu. O projeto saiu das ruas – lugar onde as manifestações acontecem – e foi parar na internet. A situação perfeita para gente e para a ideia.

O que os motivou a tomar essa iniciativa?

A inspiração veio do sentimento de fazer parte da mudança, de ajudar de alguma forma a moldar a percepção das pessoas sobre esse problema. Além disso, ao olhar as fotos de manifestantes e policiais, nós notamos que as posições de imobilização lembravam muito as posições do Kama Sutra. Todas as artes foram inspiradas em imagens colhidas na internet, através do olhar do designer do projeto, o Renato Botelho. Foi ele que teve sensibilidade nos traços, nas posições e na identidade gráfica do Kama Surra.

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 Vocês participaram dos protestos de maio e junho do ano passado?

Todos nós participamos de protestos em 2013, e também dos que ocorreram no período da Copa.

Vocês recebem feedback de onde os lambe-lambes já foram fixados? Em que cidades do Brasil vocês sabem que eles já foram colocados?

Os feedbacks que recebemos são todos por email ou realizando uma simples busca no Google. Os lambes foram todos fixados por nós, mas as inúmeras fotos no Instagram são de pessoas que passaram pelo projeto, gostaram e fotografaram com a nossa hashtag #kamasurra. Não sabemos em quais cidades eles já foram parar, mas sabemos que eles foram usados na Ocupa Estelita em Recife. Recebemos um email requisitando as artes em alta e enviamos para os organizadores da manifestação.

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Cartazes lambe-lambe do Kama Surra espalhados pelas ruas de São Paulo.

Por que a decisão de fazer o PM surrar sempre um manifestante homem? Vocês acham que tocam um nervo no orgulho dos PMs ao retratá-los se atracando com um boy? O design chama mais atenção com dois homens que se fosse um Kama Surra HT?

Escolhemos não retratar policiais abusando fisicamente de mulheres porque isso poderia passar uma ideia diferente da nossa proposta. Não escolhemos isso para provocar mais ou menos os policiais. Também não dá para afirmar se haveria qualquer diferença ao optar pelas mulheres. Na verdade, pensamos que o motivo de vergonha é como foram ilustrados, mas sim o comportamento abusivo usado nas manifestações.

O que esperam para as eleições que estão por vir? Como recomendariam que as pessoas usassem (ou não) seus votos?

O que esperamos da eleição é que o povo, que foi para as ruas lutar pelos seus direitos, lute também nas urnas. Se mostramos tanta consciência e poder de mudança, devemos levar isso para as eleições também. As pessoas precisam votar estudando as propostas e procurando informações sobre os candidatos. E, com a internet, isso ficou ainda mais fácil. Basta uma simples busca e você vai saber tudo sobre a vida dos políticos que vão participar dessa eleição. Esperamos que o sentimento de basta, mostre-se ainda mais firme agora.

Na final da Copa nós vimos mais um caso de repressão gratuita às manifestações. Quando tão pouco se divulga na imprensa sobre esse tipo de violência, a solução é fazer por conta própria?

KAMA SURRA Não existe uma solução clara e definida. Existe um problema. Você pode apenas olhá-lo ou pode participar da mudança. É uma questão de escolha. Não dá pra estar no mundo e passar por ele sem deixar a sua parcela de mudança, avanço. O problema não é do Brasil, é do brasileiro.

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Um comentário

marta

adorei.. idéia..apoiadíssima! E digo mais, se tivesse condições estaria ajudando..

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