Traduzido do artigo de Jenny Graves, professora de genética da Universidade La Trobe, publicado originalmente no jornal The Washington Post e no site The Conversation
A afirmação de que homens homossexuais compartilham de um “gene gay” causou furor na década de 1990. Mas novas pesquisas ao longo das últimas duas décadas dão respaldo a essa afirmação – e somam a ele outro gene candidato a essa função.
No entanto, ao invés de tomá-los como “genes gays”, talvez eles deveriam ser considerados como “genes da atração por homens”. Eles podem ser comuns porque essas variações genéticas, em fêmeas, as predispõem a acasalar mais cedo e mais frequentemente, e a gerar mais filhos.
Da mesma maneira, seria surpreendente se não houvesse “genes da atração por mulheres” em lésbicas que, nos machos, os presdispõem a se acasalar mais cedo, mais frequentemente, e a gerar mais filhos.
Os indícios de um “gene gay”
É possível detectar variantes genéticas que produzem diferenças entre pessoas ao rastrear características dentro de famílias que exibem diferenças. Padrões de hereditariedade revelam variações de genes (chamados “alelos”) que afetam distinções normais como a cor do cabelo, ou doenças, como a anemia falciforme. Características quantitativas, como a altura, são afetadas por vários genes distintos, assim como fatores ambientais.
É difícil utilizar essas técnicas para detectar variantes genéticas associadas à homossexualidade masculina, em parte, porque muitos homens gays preferem não revelarem sua sexualidade. Isso se torna ainda mais difícil porque, como estudos com gêmeos demonstram, os genes compartilhados são apenas parte da história. Hormônios, ordem de nascimento e o meio-ambiente também têm seus papéis.
Em 1993, o geneticista norte-americano Dean Hamer encontrou famílias com vários homens gays no lado da família materna, o que sugeria a presença de um gene no cromossomo X. Ele demonstrou que pares de irmãos declaradamente gays compartilhavam uma pequena região na ponta do cromossomo X, e propôs que essa região continha um gene que predispunha o homem à homossexualidade.
As conclusões de Hamer foram extremamente controversas. Ele foi desafiado inúmeras vezes por pessoas que se recusavam a aceitar que a homossexualidade é, ao menos em parte, genética, ao invés de uma “opção de estilo de vida”.
Os gays ficaram divididos: a descoberta corroborava as afirmações tantas vezes repetidas de que “eu nasci assim”, mas também abria caminho para novas e assustadoras possibilidades para a detecção (e discriminação) da homossexualidade.
Estudos similares levaram a resultados contraditórios. Uma pesquisa posterior descobriu associações com genes em três outros cromossomos.
Este ano, um estudo maior com irmãos gays, utilizando os marcadores genéticos que agora estão disponíveis por meio do Projeto do Genoma Humano, confirmou a descoberta original e também detectou um outro “gene gay” no cromossomo 8. Isso desencadeou outra onda de críticas.
Mas qual seria a razão de tanto furor quando nós conhecemos variações genéticas gays em espécies que vão das moscas aos mamíferos? A homossexualidade é bastante comum em todo o reino animal. Por exemplo, há variantes que influenciam as preferências de acasalamento em camundongos, e uma mutação nas moscas-das-frutas que fazem os machos buscarem se acasalar com outros machos ao invés das fêmeas.
Seria o “gene gay”, na verdade, um alelo da atração por homens?
O enigma não é se “genes gays” existem em seres humanos, mas por que eles são tão comuns (as estimativas variam de 5 por cento a 15 por cento da população). Nós sabemos que homens gays têm menos filhos em média, então essas variantes genéticas não deveriam desaparecer?
Há muitas teorias que explicam a alta frequência da homossexualidade. Uma década atrás eu levantei a hipótese de que variantes genéticas gays seriam responsáveis por outros efeitos que aumentam as chances de gerar descendentes (“adaptação evolucionária”), transmitindo o alelo gay de geração em geração. Esta é uma situação bem conhecida (chamada de “polimorfismo balanceado“) em que um alelo é vantajoso numa situação mas não em outra. O caso clássico é a doença sanguínea da anemia falciforme, que leva à doença e à morte se você tiver dois alelos, mas à resistência contra a malária se você possui apenas um, tornando-a comum em regiões com grande incidência de malária.
Uma categoria especial são os “genes sexualmente antagônicos” que aumentam a adaptação genética em um sexo mas não no outro; alguns chegam a ser letais. Nós temos muitos exemplos disso em várias espécies. Talvez o alelo gay seja apenas mais um desses casos.
Talvez alelos da “atração por machos” em fêmeas as incentivem a se acasalarem mais cedo e gerar mais filhos. Se suas irmãs, mães e tias têm filhos em maior número, perpetuando parte de seus genes, isso compensaria pela quantidade menor de filhos gerados pelos machos gays.
E essa compensação acontece. E muito. Um grupo italiano demonstrou que as mulheres que são parentes de homens gays têm 1.3 vezes mais filhos que as mulheres parentes apenas de homens heterossexuais. Essa é uma vantagem enorme na seleção natural que o alelo da atração por homens confere às mulheres, e compensa qualquer desvantagem na seleção natural que ele possa conferir aos homens.
Chega a me surpreender que esse estudo não seja mais conhecido, e que seu poder de explicação seja negligenciado em todo esse debate sobre a “normalidade” do comportamento homossexual.
Os alelos gays são “normais”?
Não fazemos ideia se esses estudos genéticos identificaram os “alelos gays” todos nos mesmos genes ou em genes distintos. É interessante que Hamer tenha detectado o “gene gay” original no cromossomo X, porque esse cromossomo possui uma grande quantidade de genes que afetam a reprodução. A minha expectativa, no entanto, é que existam genes espalhados por todo o genoma que contribuam para as escolhas reprodutivas dos seres humanos (pela atração por fêmeas assim como pela atração por machos).
Se há alelos pela atração por machos e pela atração por fêmeas em dezenas ou centenas de genes lutando para se perpetuarem na população, todos vão herdar uma mistura dessas variantes. Aliadas às influências ambientais, será difícil detectar genes individuais.
Funciona mais ou menos como a altura, que é influenciada por variantes em milhares de genes, assim como pelo meio-ambiente, e produz uma “distribuição contínua” de pessoas de diferentes alturas. Em cada extremo há os muito altos e os muito baixos.
Da mesma maneira, nas extremidades de uma distribuição contínua de preferências de acasalamento humanas, seria de se esperar indivíduos com “atração por machos” e “atração por fêmeas” em níveis excepcionais em ambos os sexos.
Gays e lésbicas podem simplesmente ser os dois extremos da mesma gradação.
– Esse comentário me parece um tanto quanto tendencioso, pois a genética, não consegue relacionar “um comportamento”, qualquer que seja ele, com um padrão cromossômico, a não ser que ele seja separado, e inserido em outro DNA, e este passe a se comportar daquela maneira esperada, isto é, teríamos que introduzir este fator em pessoas que não o possuem naturalmente e isto os levaria a se “comportarem”. desta ou daquela maneira! Livremente e sem indução ou coação alguma! Teríamos que poder geneticamente mudar as pessoas, e isto não é ético e nem viável! Portanto, é impossível para a ciência agir com tamanha ma-fé, nesses pseudo experimentos! Que são tendenciosos e maléficos em condição lógica de experimento.
[…] Foi publicada recentemente uma reportagem sobre um estudo feito pela professora Jenny Graves, doutora pela Universidade da Califórnia em Berkeley, que…… […]
[…] Foi publicada recentemente uma reportagem sobre um estudo feito pela professora Jenny Graves, doutora pela Universidade da Califórnia em Berkeley, que…… […]
[…] disso, como já publicamos aqui, há indícios de que mais de um gene em vários cromossomos estão envolvidos na orientação sexual de um indivíduo. E a vida do indivíduo também não pode ser descartada do processo de formação da sexualidade. […]
Achei interessante as pesquisas relacionando diversas variáveis. Tudo bem que é só suposição.. mas se já fizeram estudos sobre isso então não é só coisa da minha cabeça. Pois bem, na minha familia, tanto por parte de mãe quanto de pai, há muitos homossexuais, de ambos os sexos. Digo em relação a quantidade de filhos que cada um tem, que é em media 3 filhos por casal. Acho que metade desses casais tem no minimo 1 filho gay/bissexual, sendo que meus pais tiveram 2 homo e um outro casal bi (ambos tivemos experiencias sexuais na adolescencia.. mas hj em dia não sei sobre eles). São 15 casais somado as duas familias (dos meus pais). Meus avós tiveram de 5 e 12 filhos, sendo q deles, apenas 2 não tem filhos até hoje – e um deles tenho quase certeza que é por ser homossexual. Dos meus primos que não são homo/bi, mais da metade já tem filhos – e aqui fica a duvida.. mas alguns deles tiveram filhos enquanto ainda eramos adolescentes, lá pros 17, 18 anos, no caso de algumas primas. Dos homens a maioria teve filho depois dos 25. Enfim, é filho pra tudo quanto é lado nessa familia. E aí que está, pois eu acho muito estranho na minha familia ter tantos gays (acho que são uns 10) e algumas lesbicas, inclusive bi. Acho que a pesquisa é valida nesse sentido, pois quanto mais filhos e principalmente que a maioria procriou ainda jovem, desde avós, filhos e netos, maior parece ser a probabilidade de alguns serem homossexuais. Desculpa o texto enorme.. mas fui pensando e escrevendo rs. Abracos.
[…] Foi publicada recentemente uma reportagem sobre um estudo feito pela professora Jenny Graves, doutora pela Universidade da Califórnia em Berkeley, que…… […]
olá, adoraria ver as fontes (dos estudos citados acima), obrigado.
Oi Bruno. É só seguir os links em laranja espalhados pelo próprio texto, eles levam a páginas com os estudos citados.
Marcio, notícia boa oh:
http://paroutudo.com/2014/06/06/gay-de-recife-conquista-licenca-paternidade-sem-recorrer-a-justica/
O Gene do “Gostar de macho”. Interessante! Então mulheres que gostam muito de homem tem mais chance de gerar filhos que herdem essa característica? Nossa, que sábia a natureza em suas estratégias de equilíbrio. Sempre achei que os homossexuais fossem a salvação para que as espécies não fossem meros “vírus” que só sabem reproduzir. Alguém cuja existência vai além de duplicar-se em descendentes.
Legal seu comentário!
Eu também sempre achei isso…
Que bom que não sou o único que pensa assim! 😀
duvido que isso um dia será comprovado. Será o fim do cristianismo
[…] Fonte: ladobi […]