Entenda por que a bancada evangélica se posicionou contra a lei da palmada

Filho do fundador da odiosa Igreja Batista de Westboro contará em documentário a rotina de abusos que sofreu na infância em nome da Bíblia

por James Cimino

Se você acompanhou toda a polêmica em torno da recém aprovada “Lei Menino Bernardo”, que ficou mais conhecida como “lei da palmada”, deve saber que a bancada evangélica do Congresso obviamente se posicionou contra sua aprovação, porque, segundo sua fé, os pais têm o direito de aplicar aquilo que a Bíblia chama de “a vara da disciplina” na educação de seus filhos.

Mas a lei não proíbe e não irá prender um pai que dê um palmada no filho. A lei só foi batizada pelos fundamentalistas evangélicos com esse nome exatamente para dar essa ideia errada, afinal, fanáticos religiosos acham que é seu “direito” espancar ou cometer abusos psicológicos contra seus filhos, assim como acham que é seu direito expressar preconceito contra LGBTs.

E quando eu digo espancar e cometer abusos psicológicos, não é uma mera especulação. Estou me baseando no (mau) exemplo do pastor Fred Phelps, o fundador da odiosa Igreja Batista de Westboro, nos Estados Unidos, que costuma enviar seus membros a funerais de homossexuais e de soldados mortos para celebrar sua morte, entre outros absurdos.

Segundo o relato abaixo, feito por seu filho Nate em um documentário chamado “Not My Father´s Son” (“Não Sou Filho do meu Pai”, em tradução livre), ele e seus irmãos passaram a infância sendo espancados e psicologicamente assediados pelo pai, que usava a Bíblia para justificar suas agressões. O texto foi traduzido do canal “Gay Voices”, do site “Huffington Post” e, com base nele, você verá que se a bancada evangélica fosse realmente honesta, teria batizado a lei com o nome de “lei da enxada”.

AVISO: Se você não é um fundamentalista, fanático nem espanca seus filhos, este texto não é sobre você.

AVISO 2: A bancada evangélica do Congresso é formada por fundamentalistas fanáticos que não representam o cristianismo, mas apenas seus interesses políticos e econômicos.

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Nate Phelps

Nate Phelps: “O único valor prático da Bíblia hoje em dia é um espelho que reflete a verdadeira natureza de quem o professa.”

Nate Phelps cresceu em uma família física e mentalmente abusiva liderada por Fred Phelps, fundador da Igreja Batista de Westboro. Desde que escapou do ambiente tóxico da ‘igreja’ conhecida por seu slogan “Deus Odeia Gays”, Phelps tem dedicado sua vida a ser um defensor da causa LGBT.

Ele protagonizará o documentário “Not My Father´s Son”, que mostra o funcionamento da igreja e que narra sua jornada desde a infância até quando foi afastado de sua família. No trailer do filme, Phelps dá o seguinte testemunho sobre sua infância:

Então, meu pai usava o que chamávamos de “cabo de enxada”. Era um grande pedaço de madeira de cerca um metro e meio de comprimento por quatorze polegadas de circunferência. Ele segurava aquilo como a um taco de beisebol quando estava batendo nos filhos. Então nos batia de cinco a dez vezes, e, em seguida, gritava sobre o que tínhamos feito de errado, como estávamos a caminho do inferno, como Deus odiava pecadores, e que, nos tempos do Velho Testamento, eu teria sido levado para fora dos portões da cidade e apedrejado, porque eu era desobediente. Este era o tipo de retórica que ouvíamos. Em seguida, ele voltava ao espancamento físico. E isso seria o suficiente para que você literalmente não conseguisse se sentar ou se deitar de costas por dois ou três dias.

Os co-diretores Brad Johnson, Terrie Johnson e Jason Badgett estão levantando dinheiro para produzir o filme através de uma página kickstarter (de financiamento coletivo).

Os realizadores esperam que o filme dê esperança a outros que cresceram em ambientes abusivos, especialmente porque as pessoas abusadas quando crianças têm uma tendência abusarem de seus filhos.

“A fuga de Nate do ambiente abusivo e odioso em que ele foi criado junta-se a sua missão de acabar com o ciclo de abuso e ódio para as futuras gerações e criar um tema poderoso para o filme”, ​​explicam os produtores.

Phelps não é o único a se libertar da Igreja Batista de Westboro. Seus parentes Megan, Grace e Zach Phelps-Roper (entre outros) renunciaram aos ideais da igreja e estão se manifestando pela tolerância e pelo amor.

Veja o trailer do documentário:

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5 comentários

MICA

Como essa bancada evangélica é detestável.Ela me faz pensar que eu vivo em dois mundos paralelos,como estas pessoas podem ser tão rancorosas e com tanto ódio no coração.

MArco

Estou passando só pra agradecer pelo excelente trabalho de vocês, tanto na escolha inteligente da pauta quanto no conteúdo jornalístico e informativo das pesquisas. Nós gays estávamos precisando de material de qualidade assim. Continuem meninos, vocês são ótimos!

Diego Daltoé

James, um dos motivos que me fazem acessar o Lado Bi são as tuas potagens: sempre relevantes. A bancada evangélica tem distorcido muitas informações no nosso país e isso é realmente preocupante, pois essas distorções tomam proporções alarmantes em uma nação substancialmente ignorante. É realmente engraçado perceber que as pessoas querem manter o direito de serem violentas, contudo, não aceitam que sejam violentadas (em suas diversas formas). No Brasil “não faça aos outros o que não queres que te façam” se transforma em “FAÇA aos outros o que não queres que te façam”. Essa discussão me deixa bastante desmotivado, pois só podemos esperar mudanças em nosso país a extremo longo prazo. Nossa população precisa evoluir como ser humano e isso demora mais que 4 anos…

Andresa

Sou incondicionalmente contra o uso de castigos físicos para educar uma criança. Não importa se é uma “palmadinha’ ou algo além disso, no fundo a “lição” que a criança aprende é que não há outra maneira de resolver as coisas além da violência. Vejo muitos por aí defendo essa pratica danosa com o argumento de que”Eu apanhei, e isso me tornou uma pessoa boa”. Mero engano. Cada pessoa é diferente, e cada um reage de forma diferente a uma situação. Você pode apanhar e não ficar profundamente traumatizado, mas as sequelas, mesmo que pequenas, estão lá. Quando um computador não funciona direito, por exemplo, qual a reação da maioria das pessoa? Dar um tapa ou um soco na maquina. O cachorro faz algo errado? ele toma uma chinelada. É comum ouvir dessa tipo de pessoa, que apoia o castigo fisico, que “Tal pessoa não bateu no filho, e ele cresceu e se tornou uma péssima pessoa” Ok, quer falar dos fatos? Que tal começarmos com isso: No Brasil a maioria esmagadora dos pais bate/bateu nos filhos, e ainda assim somos uma das nações mais violentas do mundo. O que faltou para todos essas pessoas que cometeram crimes? Surras? Acho que não…
Enfim, esse papinho de que violência corrige é furado. Violência nunca regenerou alguém, muito pelo contrario.

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