Reproduzido de reportagem que eu fiz para o UOL Entretenimento.
O coletivo humorístico mais popular da internet, o “Porta dos Fundos”, vai lançar no próximo sábado (4) sua primeira série de esquetes.
Dividida em quatro episódios que irão ao ar nos sábados a partir das 19h, “Viral” vai mostrar de forma satírica as situações pelas quais passa um homem que se descobre soropositivo e que resolve contar seu diagnóstico a todas as mulheres com quem transou.
Interpretado por Gregorio Duvivier, o paciente conta com a ajuda de um amigo, vivido por Fábio Porchat, que irá apoiá-lo durante a empreitada.
Porchat conversou com a reportagem do UOL sobre as possíveis polêmicas que a escolha do tema pode suscitar.
“Depois de ter escrito os roteiros, falei com uma médica e com militantes soropositivos. Eles leram os roteiros e aprovaram. Muitas das situações que eu instintivamente escrevi, disseram-me eles, realmente acontecem.”
Dentre os elogios que recebeu da médica, Porchat destaca o fato de o personagem infectado com o vírus HIV ser heterossexual. “Ela disse que isso é muito bom porque tem muita gente que acha que Aids é uma doença de gays, o que sabemos não ser verdade.”
“Eu tenho Aids”
O personagem interpretado por Gregório Duvivier vai passar por situações bastante constrangedoras durante os quatro episódios. Em uma delas, ele irá falar com uma prostituta que “está com Aids”. Ela então, conta Porchat, irá responder: “Qual o problema? Eu faço teste a cada seis meses e só transo com camisinha…”
O humorista explicou ainda porque usará a expressão “tenho Aids” e não “sou soropositivo” (Aids tem apenas quem não faz tratamento e acaba desenvolvendo a doença). “Esta é uma questão técnica. A própria médica disse isso. A pessoa que descobre que tem o vírus demora para discernir a diferença entre as duas coisas. Em geral, quando ele conta para alguém, fala que está com Aids.”
A série ainda vai ridicularizar diversos outros preconceitos sobre o tema e mostrar outro dado bastante presente na realidade dos soropostivos. Em geral, conta Porchat, a mulher fica com o marido infectado. O contrário nem sempre ocorre.
“A ideia toda da série é tirar sarro da ignorância sobre esse assunto, especialmente porque hoje em dia ter o vírus não é como nos anos 1980. E falar disso com humor ajuda a desmistificar. Mas, claro, sempre vai ter alguém criticando. Até o vídeo da previsão do tempo… Teve gente que veio reclamar que não falamos do tempo no Piauí por preconceito…”
Existe um erro grotesco nesse roteiro, e eu desaprovo. O cara chega dizendo: Eu tenho AIDS. Cara.. ele está muito bem para quem tem AIDS.
Ser portador do HIV, soropositivo é uma coisa, AIDS é quando a pessoa tem o sistema imunológico comprometido e desenvolve as doenças oportunistas. Geralmente pessoas com AIDS (aidéticos) são magras com aspecto doente, debilitadas etc. Sou soropositivo e desaprova a abordagem, embora esteja mostrando o cotidiano das pessoas, não tem nada de informativo, pois já começou errado.
Espero que esse programa dos porta dos fundos seja bem informativo e não se transforme numa polêmica que ofusque o tema principal.
Aproveitando para comentar o programa do Soropositivo, acho que deveria ter outro convidado soropositivo com uma visão mais otimista/liberal. Por mais que os dois sejam muito instruídos e militantes, vejo bastante erros de interpretação de alguns fatos. Pq eu, como soropositivo, tenho que falar da condição sorológica? Muitas vezes eles falaram que o portador do virus não é um vetor da doença, mas se não é vetor, pq sempre falar quando for fazer sexo com alguém? Todo mundo sabe como é a vida sexual gay hoje em dia. Ninguém quer usar camisinha. Acho que é recomendável que o soropositivo use camisinha, mas não acho nada necessário que ele sempre fale a sorologia. Se a proteção da camisinha é 99%, o seu uso é mais que satisfatório. Fale quando quiser e pronto. Ninguém chega na rua e fala:”olha, tenho diabetes”. A primeira pessoa a se colocar na posição de vilão é o próprio portador do vírus. E sim, o hiv é similar a diabetes. Ambos os tratamentos causam efeitos colaterais e ambas as doenças matam quando os doentes não tomam as medidas necessárias. O preconceito existe sim, mas como acabá-lo se os próprios soropositivos o alimentam?
Difícil sair assim falando algo sem nem ao menos ter visto, além do quê ninguém é dono da verdade tampouco dono de um assunto, mas vendo o trailer fica parecendo que pegaram um assunto sério e deram um tratamento com viés de humor.
Se isso pode aproximar o assunto das pessoas em geral que curtem o Porta dos Fundos? É possível, mas não provável.
Uma tentativa de tornar palatável um tema ainda cheio de tabus? Parece que sim.
Agora, o que se espera de alguém que diz “Mas, claro, sempre vai ter alguém criticando”?
Ele acha que o humor e trabalho dele tá acima de críticas e no caso por ser sobre hiv?