Traduzido da crítica de Rakesh Ramchurn para o “The Independent”
Em nossa cultura obcecada pela juventude, a idéia de idosos tendo desejo sexual é um tabu tão grande a ponto de fazer com que a idéia transformar esse desejo em roteiros de filmes ou programas de televisão abjeta. E enquanto um fetiche por couro ou sadomasoquismo é visto como um desejo por aventura, o desejo sexual por alguém 60 anos mais velho do que você é visto por muitos como uma espécie de perversão.
Mas este é tema abordado pelo diretor canadense Bruce LaBruce em seu último filme “Gerontofilia”, que está sendo exibido durante o London LGBT Film Festival deste ano.
“Gerontofilia”, que significa “amor por idosos”, o filme é estrelado por Pier-Gabriel Lajoie, que interpreta Lake, um belo jovem de Quebec, que apesar de estar em um relacionamento com uma garota, encontra-se atraído por homens muito mais velhos.
O acaso dá a Lake a oportunidade de trabalhar em um centro de atendimento assistido para idosos, onde o adolescente começa um romance com o octogenário Melvyn Peabody (Walter Borden). A história chega a um ponto em que os dois saem em uma viagem pelo país, até que Lake decide resgatar Melvyn do péssimo tratamento que ele está recebendo na casa de repouso.
Teria sido muito fácil para este filme dar ao desejo inter-geracional um tratamento de freak show. Uma cena no início do filme, quando o Lake desvia o olhar para um homem mais velho em uma esquina, inclusive provoca algumas risadas na audiência.
Mas, conforme Lake e Melvyn se aproximam, e como a personalidade encantadora de Melvyn é lentamente revelada ao longo do filme, o relacionamento já não se revela tão incomum como parecia à primeira vista .
Outra cena que desmistifica o tema é quando o Lake confessa a sua namorada que ele “pode ter um fetiche”. Ela então lhe pergunta: “Você quer dizer algo como couro?”, ao que ele respondeo: “Não, não é tão ruim assim.”
Enquanto “Gerontofilia” aponta para problemas graves na forma como nós tratamos os nossos idosos, o longa também mantém uma atmosfera light por meio do humor proporcionado pela namorada über-feminista de Lake e de sua mãe alcoólatra.
LaBruce nunca se furtou a retratar o mundo tabu de gostos sexuais alternativos, que fez com que seus filmes permanecessem muito mais no circuito dos festivais de cinema de arte ou no espectro da subcultura LGBT.
Mas pelo enfraquecimento do sexo e da nudez predominantes em seus trabalhos anteriores, LaBruce fez um filme que poderá ser apreciado pelo grande público nos próximos meses.