Além do escândalo: o mundo do sexo sem camisinha

Um pouco de tudo que a grande imprensa não conta (ou prefere não contar) sobre a prática do bareback

por Bruno Machado

“Teve uma vez que me masturbei pensando que estavam me passando HIV”. Até hoje, a frase ressoa em meus ouvidos. Me perturba. Ela me foi dita por Peter, um contabilista nos seus 35 anos, depois de uma hora de conversa hesitante e reticente. Era final de 2012. A entrevista, a primeira de uma série, realizada para o meu trabalho de conclusão de curso em jornalismo, defendido recentemente na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Levar para a academia um tema considerado complexo e delicado como o bareback – o sexo sem camisinha entre homossexuais – não foi nada fácil. O primeiro candidato a orientador rejeitou meu trabalho com veemência. Sugerir o assunto para um grande veículo de comunicação, nem pensar. Ainda que a pauta seja capaz de mobilizar a opinião pública a respeito de temas como saúde, responsabilidade, ética e sexualidade, sobre o sexo desprotegido entre gays parece pairar um conveniente e sepulcral silêncio. Em dois anos de apuração, procurei mais de cem pessoas, entre médicos, psicólogos, sociólogos e outros especialistas, além de anônimos que pudessem, sem pudores, dar detalhes sobre seus hábitos na cama. Conto nos dedos aqueles que aceitaram falar sobre o assunto.

Ainda que muito relutante, Peter foi um deles. Dias antes da entrevista, ele se descobriu soropositivo. A notícia, no entanto, não foi recebida com pânico ou medo.

“Primeiro, tive uma sensação de anestesia e paralisia. As enfermeiras que fizeram meu exame  pareciam histéricas. ‘Você precisa saber quem te infectou! Você pode processá-lo, sabia disso?’, elas gritavam.  Me pareciam muito despreparadas. Depois, senti alívio. Sabia que não precisaria passar por mais nada daquilo. Havia acabado. Eu me sentia predestinado a contrair o HIV, e agora, estava de fato infectado”.

Num artigo recentemente publicado no New York Times, Tim Dean, professor da Universidade do Estado de Nova York, afirma que para algumas pessoas, o HIV não é repelido, mas celebrado. “Alguns homens estão usando o vírus para criar relações. Eles evitam a camisinha e procuram compartilhar a infecção para criar conexões”, escreve. De fato, para muitos, na virada dos anos 1980, com o pânico gerado pelo fulminante morticínio causado pela Aids, o sexo seguro acabou por se tornar uma espécie de ditadura moral e biológica, com agressivas campanhas pelo uso do preservativo e a manutenção da monogamia. Como espécie de reação, para muito além de uma rebeldia adolescente, alguns gays passaram a descartar o preservativo em seus encontros como forma de intensificar o prazer e a intimidade, ou mesmo pela pura e simples contravenção. Criava-se, assim, uma espécie de subcultura gay conhecida como bareback – termo originalmente usado no hipismo para designar o cavalgar sem sela e, posteriormente, relacionado ao sexo entre homens sem o uso do preservativo.

A indústria da pornografia já se apropriou da prática e a transformou em nicho de mercado

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Não demorou para que a imprensa norte-americana descobrisse esses encontros e explorasse sua faceta mais sensacionalista: as chamadas festas de soroconversão, nas quais um dos participantes é soropositivo e sua identidade, mantida em segredo. Num jogo em que perigo, prazer, risco e morte trocam de posição no tabuleiro, o vírus – o gift, presente em português – é dado e recebido livremente. Tal como a Aids no início da década de 80, o bareback chegou ao Brasil importado como uma “moda de gay americano”. Entre 2006 e 2009, publicações como IstoÉ, Veja e Jornal do Brasil alardearam o fenômeno como uma ameaça à saúde pública, reflexo de uma política permissiva de combate à Aids e da criação de medicamentos cada vez mais eficazes contra o HIV.

Em dois anos de apuração, ainda que eu tenha ouvido falar de festas em saunas, sex clubs, e apartamentos, nenhuma delas era organizada para que seus participantes partilhassem o vírus deliberadamente, ou mesmo transassem sem camisinha. Esses eventos de fato existem, mas são tão fechados e tratados com tamanho sigilo que muitas vezes parecem lendas urbanas. De fato, a realidade da maioria dos homossexuais que opta por levar uma vida sexual sem preservativo é muito menos sensacional do que aquela pintada pelas manchetes dos jornais. Muitos deles usam redes sociais específicas (como o www.bareback.com e o www.barebackrt.com) para procurar parceiros com o mesmo status de HIV. Soropositivos dão preferência, normalmente, a parceiros indetectáveis – aqueles cuja carga viral no organismo é tão baixa que a chance de se contaminar é quase nula.

Luiz, um empresário com seus 50 e poucos anos que me recebeu na sua casa, é um exemplo. Há tempos deixou de frequentar surubas (“o sexo grupal é uma coisa masturbatória individual coletiva”), não usa preservativo, e hoje só transa com amigos, com quem tem uma relação para além da física. Todos são soropositivos. Inclusive ele, que contraiu o vírus aos 35 e, devido à agressividade do tratamento, perdeu toda a gordura do rosto, depois reconstruído com cirurgias plásticas.

“Eu e meus amigos nos resguardamos no controle. Isso faz a diferença para a experiência ser mais agradável. Não tem coisa pior do que acordar com dor de cabeça no dia seguinte. Você não quer isso para você, não vai querer para o outro”.

Em contrapartida, há aqueles que representam a face considerada mais irresponsável do sexo sem camisinha. O vendedor que prefere ser chamado de HIV Sem Limites é um deles. Além de já ter participado de uma festa na qual foi passivo com mais de vinte homens – “fui parar no hospital com o reto estourado”, conta com um sorriso no rosto –, ele afirma que, nas saunas ou cinemas pornográficos, costuma pegar camisinhas do chão para engolir seu conteúdo.

“Eu procurei o HIV. Fiz o teste em março [de 2013], deu positivo. A psicóloga veio dar uma palavra de conforto e eu me mostrei muito tranquilo. Ela ficou chocada. Quando recebi o exame, senti um alívio. Agora eu tinha certeza. A dúvida é que me mata. A pior coisa do mundo é a inocência”.

Durante a entrevista, em uma cafeteria na avenida Paulista, quando lhe perguntei qual era sua memória mais nítida das orgias, regadas a cerveja e cocaína, ele me respondeu que estava sempre tão atordoado que nunca se lembrava de nada, e por isso filmava e fotografava tudo. Então sacou o celular e me mostrou fotos e vídeos que, não fossem pelo seu rosto, perdido na confusão de corpos, paus e bundas, eu juraria serem retirados do XTube. Pedi para que ele guardasse o telefone temendo a reação das pessoas ao meu redor.

Quem transa sem camisinha normalmente usa o prazer como argumento. Há quem diga que o contato “pele com pele”, assim como sentir o corpo e o sêmen do parceiro, seja fundamental para gozar. Numa espécie de acordo tácito, que exclui qualquer tipo de culpa ou conflito moral, aceitar transar sem preservativo significa se submeter, por sua própria conta e risco, ao perigo de se contaminar com o HIV. Esse é o caso do mais jovem dos meus entrevistados, Santos, de 25 anos, que contraiu o vírus enquanto namorava.

“Não me arrependo e não sinto culpa. Eu não fui atrás disso, aconteceu. Foi uma fatalidade. Muitas mulheres casadas contraíram o HIV porque foram traídas. Não fico pensando: ‘ah, meu Deus, se eu estivesse usando camisinha…’. Poderia ter estourado. Eu poderia ir ao hospital doar sangue e me contaminar”.

No primeiro momento, conta, quando ele e o namorado se descobriram soropositivos, houve ataques e acusações mútuas. “Depois dessa fase a gente passou a se amar muito, a gente se uniu, um passou a precisar mais do outro”. Os dois permanecem juntos até hoje.

Segundo o advogado Dimitri Sales, especialista em populações LGBT e presidente do Instituto Latino-Americano de Direitos Humanos, casos como o de Santos podem ir parar no tribunal. Ainda que as leis brasileiras não tenham criminalizado o bareback, Sales afirma que os artigos 130, 131 e 132 do Código Penal brasileiro são utilizados para punir pessoas que transmitem o HIV, deliberadamente ou não. “É uma forma que o Estado encontrou para punir a liberdade ou o liberalismo sexual do soropositivo. Esses artigos se tornaram uma ferramenta de vigilância moral”, afirma. Ele aponta decisões do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em que o consentimento entre as partes sequer foi questionado. E caso isso ocorresse, é improvável que se refletisse na decisão judicial. “O indivíduo contaminado é sempre uma vítima perante o Código Penal, e o fato de ter concordado em manter relações sexuais com alguém soropositivo poderia, pelo contrário, complicar ainda mais a situação jurídica de quem o contaminou”, explica.

HIV cartas

“As duas [regiões cerebrais responsáveis pela excitação sexual e pelo perigo] precisam ser estimuladas para que ocorra o ato sexual. No momento em que o indivíduo se coloca em prontidão para o sexo, está implicada, portanto, uma certa impulsividade que dá a ele forças para vencer o medo em nome do gozo”, diz o psiquiatra do Hospital das Clínicas, Alexandre Saadeh.

Como uma espécie de esporte de risco, o sexo sem preservativo envolve, naturalmente, o medo. Porém, nesse tipo de situação, a dinâmica se inverte: a incerteza sobre o parceiro não paralisa ou assusta; faz a tensão e o tesão do momento se tornarem mais intensos. O psiquiatra do Hospital das Clínicas, Alexandre Saadeh, explica que as regiões cerebrais responsáveis pela excitação sexual e o perigo são muito próximas. “As duas precisam ser estimuladas para que ocorra o ato sexual. No momento em que o indivíduo se coloca em prontidão para o sexo, está implicada, portanto, uma certa impulsividade que dá a ele forças para vencer o medo em nome do gozo”. Ainda que o preço pela coragem depois se revele muito alto, é difícil haver qualquer arrependimento. Para quem pratica o sexo sem camisinha, cada momento deve ser aproveitado como o último. Viver é um grande comportamento de risco.

Conversar com pessoas que fazem do sexo sem preservativo um estilo de vida ou uma identidade significa colocar em xeque algumas verdades inabaláveis. Em face do HIV, a intimidade, o sexo e a própria vida parecem passar por uma delicada revisão. “Quando me disseram que eu era positivo e poderia morrer, foi a melhor notícia que tive na minha vida. O passado é perfeito, o futuro é agora. E esse futuro imaginado vai ser sempre incerto. Eu aprendi a viver o bem-estar de um dia de cada vez, e o que importa é o hoje, o agora”, afirma Luiz, que após se descobrir portador do vírus, criou uma rotina de esportes e hábitos saudáveis, se tornou menos consumista e mais criterioso na escolha de parceiros. “Aprendi que os bonitinhos podem ser os malvados da história”, reflete.

De fato, quase todos meus entrevistados afirmaram que o HIV teve um efeito transformador em suas vidas. Dentre todos os depoimentos, que narram mudanças drásticas na maneira de encarar o sexo e a rotina, o mais eloquente e contundente é o de Peter.

“Minha vida agora é outra. Antes eu tinha vontade de me matar. Eu não conseguia parar de beber. Procurei tratamento, tentei parar, mas não conseguia de jeito algum. Depois que me descobri soropositivo e sei que o álcool faz mal, especialmente para um organismo debilitado como o meu, eu parei. Não coloquei mais uma gota na boca. O HIV curou o meu alcoolismo”.

No caso de Peter, a busca pela infecção se revestiu de um caráter de vingança. “Ninguém ligava pra mim. Meus pais não queriam saber o que eu fazia da porta de casa para fora. Hoje se preocupam. Querem saber como eu estou de saúde.”

Para a maioria dos especialistas e autores que li, a mudança de percepção sobre o HIV e a própria soropositividade ocorreram também devido aos tratamentos, cada vez mais eficazes. Antes uma ameaça de morte, o vírus se tornou uma doença crônica, muito distante daquela caricatura do “aidético” – Cazuza careca, com rosto fundo e ossos salientes na capa da Veja. “Tinha muito medo antes, quando as pessoas morriam e o tratamento era agressivo”, conta HIV Sem Limites. “Quando surgiu o coquetel, eu fiquei mais tranquilo. Passei mais de dois anos sem ter o prazer de ser penetrado. Só fazia sexo oral. Aí, com o novo tratamento, desencanei”.

A mesma explicação pode ser usada para entender os números de 2010 do Ministério da Saúde que apontaram para crescentes contaminações pelo HIV, especialmente entre os gays mais jovens. As cada vez mais agressivas campanhas que associavam a doença e a morte ao sexo desprotegido e à promiscuidade  – que para a Organização Mundial da Saúde significa ter mais de dois parceiros num prazo menor a um ano, é sempre bom lembrar – precisaram ser repensadas para atingir seu público-alvo. Mas como falar com alguém que não mais teme a Aids? Com alguém que criou uma relação erótica com o HIV? Que chama o sêmen contaminado de “vitamina”?

Para gays, bareback, para heteros, sexo sem proteção

Essas perguntas trazem outras, talvez mais importantes, com as quais me confrontei durante minhas entrevistas. Por que o sexo sem preservativo entre gays causa tanta comoção a ponto de virar matéria de jornal? Por que entre heterossexuais não ocorre o mesmo? Por que se fala em bareback para se referir ao sexo sem preservativo, exclusivamente entre homossexuais, sendo que quase todas as pessoas, independente do gênero e da orientação sexual, já transaram sem camisinha?

Para responder a essas perguntas, senti a necessidade de fazer um retrospecto da epidemia do HIV no Brasil. Não foi nenhuma surpresa perceber que a Aids, para além de qualquer evidência biológica, foi recebida pela classe médica como doença de homossexual, “a peste gay”, como se dizia na época, ainda que desde o começo da epidemia, as mulheres fossem as mais afetadas depois de gays e usuários de drogas injetáveis. Mas isso a grande imprensa preferia esconder. Foi só no começo da década de 90, quando a proporção de soropositivos era de uma mulher para cada sete homens que os jornais e revistas passaram a afirmar que o HIV estava mudando de feições. Na verdade, desde que a pandemia eclodiu, primeiro no continente africano, não se sabe exatamente quando ou quantos mortos fez: o vírus nunca teve um único rosto. Se o teve, certamente foi uma face minimamente planejada e fabricada. Com um forte teor moralista, a expressão “grupo de risco” foi cunhada não para denunciar que uma parcela da sociedade sofria com uma doença fatal, mas para criar uma marca, um estigma que diferenciasse a escória dos demais indivíduos decentes e normais. A Aids foi uma espécie de novo triângulo rosa, não pregado à roupa do homossexual, mas impresso no seu sangue.

No rastro da doença, as medidas profiláticas se tornaram obsessivas. Começava a pregação religiosa, a teoria messiânica de que a Aids, como fogo, vertia dos céus e se abatia sobre os sodomitas. A profecia bíblica se concretizou em São Paulo, pelo menos duas vezes: em 1986, uma bomba explodiu num cinema pornográfico no centro. Os autores, fanáticos religiosos. Em 1999, uma outra, na sede da Anistia Internacional. O explosivo, recebido pelo correio, estava acompanhado de um bilhete coberto de símbolos nazistas. No texto, diversas ameaças àqueles que defendiam negros e gays. Começava assim uma verdadeira caça às bruxas que não se sabia até onde era justificada pela ciência, pela religião, ou mesmo pela ignorância do senso comum.

Para além de qualquer teoria conspiratória que afirme o HIV não existir, ou que tenha sido sintetizado por cientistas como arma biológica – acredite, essas teorias não são ficção científica –, é evidente que a epidemia é um problema social tão ou mais grave do que biológico. Ainda que o coquetel seja cada vez mais eficiente contra o vírus e que, na melhor das hipóteses, daqui algumas décadas, uma vacina finalmente chegue ao mercado, o estigma, este sim, uma doença incurável, continua fazendo suas vítimas.

Segundo o professor Esteban García, da Universidade de Buenos Aires, autor de um artigo sobre a prática do bareback, o horror e o escândalo que a prática ainda suscitam apenas confirma o lugar que a homossexualidade ocupa na nossa sociedade: a da doença, do desvio e da imoralidade. De acordo com a obra do filósofo Michel Foucault, a figura do homossexual surgiu no começo do século XIX, exatamente quanto os saberes médicos se sofisticavam, e a psiquiatria dava seus primeiros passos. Naturalmente, o amor entre iguais foi considerado uma doença. Para deixar de ser apenas mental para se tornar física, foi necessário mais um século. A Aids só veio confirmar a homossexualidade como aberração da natureza.

De maneira incômoda, ou mesmo radical para alguns, o sexo sem camisinha, a subcultura do bareback vem mostrar que nem todos os indivíduos estão dispostos a acatar esse rótulo, tampouco adentrar na confortável zona da (hetero)normalidade, da monogamia, da união estável reconhecida em cartório. Sua luta, ainda que desprovida de qualquer militância política, é pela valorização do prazer acima de tudo, contra qualquer rótulo ou culpa. Para esses homens, como Peter, Santos, Luiz, ou HIV Sem Limites, o prazer total não tem preço. Se suas afirmações nos soam contundentes ou transgressoras é porque nelas vemos, sem qualquer censura, um reflexo dos nossos mais perturbadores e recônditos desejos.

(nomes fictícios; os pseudônimos foram escolhidos pelos próprios personagens)

Este texto é uma versão livre do trabalho de conclusão de curso intitulado “Na pele: prazeres sem preservativo – um ensaio sobre a prática do bareback” apresentado à Escola de Comunicações e Artes em dezembro de 2013 pelo jornalista Bruno Machado. A versão completa pode ser lida em: http://bit.ly/19i7iFe

BRUNO MACHADO, 25 anos, é jornalista formado pela ECA-USP. Já escreveu sobre música, internet, e sobretudo, cinema e teatro. Já publicou textos no Diário de São Paulo, na Veja São Paulo e na revista Brasileiros, entre outros veículos. Como muita gente nas redes sociais pedia que ele publicasse o resultado de seu trabalho em algum veículo, e como tanto nós quanto ele sabíamos da improbabilidade de algum veículo aceitar esse tipo de texto, oferecemos o espaço do nosso blog, até para que Bruno resumisse a história de forma menos acadêmica e mais, digamos, new journalism. Para se informar mais sobre esse assunto, ouça o Lado Bi nº 34 – Camisinha o Lado Bi nº 8 – HIV.

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21 comentários

Paulo Dias

Texto muito bom.
Gostei muito dos relatos! Parabéns ao autor e ao blog!

karen vicari

Gostei muito do artigo so que ao mesmo tempo medo.Eu morei no Brasil (1.979/1.990) cheguei aì era muito jovem e vivì aquela revoluçào sexual daqueles anos todos….so que quando a aids começou a fazer as primeiras vitimas eu tambèm começei a tomar as minhas precauçòes…coisa que nào foi facil pra mim porque eu me prostituia na rùa.Daquela època 99% das pessoas que eu conhecia ja morreram, eu me considero uma pessoa de um certo modo com sorte que nào peguei essa doença… na època cheguei fazer sexo atè com 22 homens diferentes numa noite so, sem contar que a cada ano eu ia passar o carnaval no R.J. e era tambèm sexo em cada esquina. S.P. era uma cidade onde se respirava sexo 24 hs por dia, a qualquer hora e lugar qualquer um podia ter sexo.Eu da minha iniciativa propria começei a usar presrvativo nas minhas relaçòes sexuais em 1.987… foi muito dificil porque ninguèm queria usa-los, porèm eu fui mais forte e continuei usando e por isso hoje estou aqui contando a minha experiencia.Quando fui morar na Europa em 1.990 eu pensava que sendo paises de primeiro mundo talvez a coisa seria diferente… mero engano meu, eu continuava a me prostituir e os homens aceitavam usar, porèm sempre tinham aqueles que pediam nàp usar preservativo e se eu bobeava ia ser “pele na pele”(nàp posso negar que tive muitas tentaçòes).Eu conhecì um rapaz de quem me apaixonei e fui morar com ele, uma pessoa que me ajudou muito em todos os sentidos, depois de 3 anos ele me contou que era soropositivo… so que eu nem com ele cheguei a ter relaçòes sem proteçào e mesmo assim continuei a minha convivencia com ele atè quando veio falecer em 2.003.Nesse tempo que convivi com ele eu sou sincera ao dizer que nunca mais fiz algùm tipo de teste pra saber se eu tinha contraido o virus (o meu ultimo teste tinha feito no H.C. de S.P. antes de viajar a Europa) depois de lutar comigo mesma, com a minha mente e as minhas angustias resolvi fazer o teste e para minha sorte deu negativo… e todos os que repetì a cada 6 meses, eu sempre digo que essa doença è como uma roleta russa, tem pessoas que sào propensas a se contaminar e tem outras que talvez è uma coisa do destino de cada um.Tambèm quero aclarar que depois de alguns anos conheci um rapaz muito mais jovem do que eu com quem desde o nosso primeiro encontro mantivemos relaçòes sexuais sem proteçào e mesmo depois disso os testes que fiz deram negativos.Atualmente voltei ao meu pais depois de ter morado a maior parte da minha vida fora…estou morando e cuidando da minha màe… eu acho que a vida tà me dando uma outra oportunidade pra nào me expor a essa doença (ja faz mas de 1 ano que nào tenho relaçòes sexuais)… e acho que as pessoas que conseguem colocar a vida delas a mercè dela è porque realmente elas querem, com a edade que tenho e depois de tudo o que vì e vivì acredito que so tenho que levantar as màos ao cèu e agradecer a Deus….abraços a vc Bruno Machado

Caio

Que horror. Estes gays cretinos querendo espalhar essa doença devastadora entre os outros, e o pior que entra no meio até os que querem distância desse modelo de vida fútil e sem sentido (pessoas enganadas). Viver nessa vibe frenética e irresponsável. NOJO, NOJO, NOJO desses seres execráveis. Tomara que morram da pior forma possível e mostrem aos demais como é importante valorizar a vida. Que eu nunca encontre um infeliz desses no meu caminho.

James Cimino

Eu acho que você não entendeu bem a reportagem ou não a leu por inteiro. Eles em geral transam entre si. Não saem por aí “espalhando” nada. Os heteros também transam sem a torto e a direito, então, meu caro, bem menos…

daniel

claramente você não entendeu nada. E esse seu ódio, é algo bastante revelador sobre você.

Dido Roder

O bareback, tem como princípio, a não preocupação com a provável contaminação pelo HIV (e outras DSTs que matam tanto quanto, como por exemplo, a hepatite C). A partir do momento que me contamino, não tenho mais com que me preocupar. A psicologia explica: FALTA DE AMOR PRÓPRIO!
Um bom terapeuta ajudaria os praticantes da ROLETA RUSSA!

daniel

O texto eh bom e franco no que se refere a atos sexuais sem capa, mas tentei imaginar essa materia ser exibida na tv ou no radio, falta imparcialidade na informaçao…tudo que vi aqui foi apologia ao sexo sem preservativo e nenhuma preocupaçao com a saude publica, existe uma portaria em vigor no ministerio da saude desde 1996 que universalizou a distribuiçao de medicamentos anti-hiv, mas o nosso sus eh deficiario e falta na distribuiçao em diversas regioes, fora q o governo opta em distribuir medicamentos cada vez mais baratos e com efeitos colaterais ainda mais fortes, quem se livra disso sao os ricos q tem opçao em ter tratamentos em clinicas especializadas enquanto o pobre sofre pra estar na fila do posto pra pegar uma das 20 senhas/mes as 3 da manha pra consultar um infectologista pra acompanhar a carga viral, ricos tem a liberdade de escolherem metodos menos agressivos, infectar uma pessoa de maneira intencional é CRIME pense bem, pior q morrer por doenças ocasionadas pela AIDS eh morrer na cadeia doente e sozinho, nada contra quem faz sem capa, mas se for Hiv positivo informe o seu parceiro antes do sexo…honestidade eh tudo, nem sempre o q eh bom pra uns eh bom pra outros, pessoas comem camisinhas do chao e ficam felizes com a peste outras sofrem, faz a familia sofrer junto e ate se matam.

daniel

Não há nada de apologia se a matéria simplesmente mostra a visão por este lado. A preocupação com apologia esta na sua cabeça, por não conseguir, nem ao menos discutir este assunto.

Jonas

Amei tudo o que li parabens ao autor. Sou praticante e não to nem ai pra moral fétida dessa sociedade falida em todos os sentidos.

Paulo Nascimento

“A Aids foi uma espécie de novo triângulo rosa, não pregado à roupa do homossexual, mas impresso no seu sangue.”. Genial! Sobre a pergunta de como falar com alguém que não mais teme a Aids: deixando o paternalismo e a tutela de lado, tratando os como adultos em formação e indo direto ao ponto: qualquer relação simplista ou fetichista com o HIV é burrice. E eu tenho uma desconfiança das grandes de que, tal qual na discussão sobre aborto, a forma irresponsável como o governo brasileiro se posiciona ante esse problema social tem fundo machista e classista. Pois assim como há pouca assistência às mulheres pobres que abortam (que são as que realmente se fodem nessa história), as discussões sobre HIV são escamoteadas por aqui através do discurso cínico de médicos, jornalistas e “acadêmicos”, como vimos no caso do autor dessa pesquisa (e que podiam muito bem estar trabalhando pela inovação do pensamento e não fugindo da briga). E não paro de pensar que isso tem relação com o fato de que, no fundo no fundo, a sociedade acha ótimos que existam gays morrendo por aí e saindo da frente de suas vistas tristes. Agora, é lamentável que não exista um puto dum movimento social aqui na Pindorama que apresente isso de modo objetivo e pautado por argumentos consistentes (como fez o Movimento Passe Livre com os R$0,20 das tarifas). Uma pena que os organizadores das Paradas por aqui ( tô generalizando sim; quero acreditar que existam exceções que confirmem a regra) estejam preocupados demais com carnaval e grana e de menos com cidadania. Bom, a tomar por exemplo alguns comentários moralistas postados antes desse, tem gente que faz por merecer Paradas-lixo como as que temos.

Thiago

Marcio, parabéns pelos seus textos, sempre pertinentes e com uma mensagem bacana. Eu moro no Exterior e aqui a questão de sexo sem camisinha também eh polemica, muitos gays transam sem proteção confiando num rostinho bonito ou por estar firme com o parceiro por algum tempo. Eu sempre foi adepto ao uso do preservativo pois nunca confiei em homem, mas meu parceiro atual me fez mudar de opinião. Assim como heteros em longo relacionamentos, nao usamos mais camisinha, mas fizemos exame sorologico antes da nossa decisao. Agora uma pergunta: Voce conhece algum casal HT que tenha feito exame antes de parar de usar protecao? Sei que homens sao mais suscetíveis ao risco em busca do prazer, e isto inclui o genero masculino como um todo, agora qual mulher pede para seu parceiro um exame antes de dar pra ele sem preservativo? Eu entendo de certa forma o que estes caras sentem, mas nao que eu concorde. Pra eles, o pior eh contrair o virus, entao ja contrai logo e acabou. Mas acho muito injusto que a promiscuidade e o rotulo do HIV se limite apenas aos gays.

Thais

Olá! Gostei muito do texto, parabéns!
E, dentre muitas reflexões que tive durante a leitura, me pergunto:
O prazer acima de tudo justifica essas atitudes?
Não é possível possuir uma vida sexual plena, feliz e prazerosa usando camisinha?
Ao que me parece o ponto não é exatamente o prazer e sim transgressão pessoal e a falta de compromisso com o outro. Em alguns casos até falta de caráter, pois alguns praticam sexo sem avisar que estão com HIV. E esses questionamentos permeiam não só a comunidade gay, mas toda a sociedade. Uma sociedade onde a vida do outro e nem a sua própria vale muito. Onde as consequências são ignoradas, pois existe um coquetel. Bem, e se não tivesse? A partir do momento que influenciamos a vida de outras pessoas com nossas atitudes temos dever de pensar e o que parece é que a maioria não está nem aí.

Vitor Diel

Talvez a psicanálise seja o melhor caminho para jogar luz sobre as questões individuais que levam alguém a, por exemplo, “beber porra de uma camisinha que encontrou no chão”. Eu sempre desconfio que a coisa nunca é a coisa em si, mas aquilo que ela oculta. O que significam, esses comportamentos, essas decisões? Como eles se associam a outros eventos íntimos do passado ou do presente do indivíduo? O que eles estão realmente buscando? Acho que cabe uma investigação individual sobre as motivações de cada um: um processo de análise sobre a intimidade de cada um. Algo que deve ser feito em consultório, em visitas regulares a um bom psicanalista – de preferência um do tipo livre de preconceitos. Mas, de qualquer modo, é um assunto que merece mais luzes. Parabéns ao autor e ao blog pela iniciativa.

Welton Trindade

Engraçado, a primeira vez que li algo mais consistente sobre bareback foi na grande mídia. Não vejo essa rejeição toda não! Não mesmo!
E mais, bareback pode ser entendida como uma gíria gay, oras. Não tem sentido usar esse termo para os héteros. É um termo cultural e só tem sentindo usado na cultura que o originou.
Eu não entendia quem fazia sexo sem camisinha, tinha uma postura até preconceituosa contra eles, mas há dois anos conheci três amigos que fazem e passei a respeitá-los. Claro que isso exige de nós uma outra visão de vida! Mesmo! São pessoas hedonistas. Prefiro não julgar e achar que eu estou certo por fazer com camisinha e eles estão errados, estão doentes ou coisas do gênero. Eles estão plenamente conscientes de todas as consequências. Um deles se excita toda vez que pega uma DST nova. E vou dar uma de papa agora! rs Se eles estão bem, quem sou eu para julgá-los? Sabe, eu sei de mim. Não vou celebrar quando pegar uma DST. Não é a minha! Assim como não escalo montanhas. E é isso. Estou bem na linha do viva e deixe viver! Ou não viver!

James Cimino

Meu caro Welton, a “cultura” que originou o termo bareback foi a cultura do hipismo. Se você digitar a palavra no Google imagens verá mais imagens de mulheres nuas montadas em cavalos que gays transando sem camisinha. É um termo usado para discriminar o sexo sem proteção entre gays do sexo sem proteção entre heteros. Mas, para mim, serve para os dois. E quem está aqui julgando alguém? O texto é exatamente sobre desmistificar, embora, numa boa, não vou fazer apologia sobre o comportamento de uma pessoa que sai bebendo porra de uma camisinha que ela encontrou no chão.

Welton Trindade

Eu não disse que o autor esteja julgando quem faz bare. Eu só falei que aprendi a não julgar. Foi isso!

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