Presidente alemão boicota jogos olímpicos de inverno na Rússia

Decisão foi tomada contra a violação de direitos dos LGBT naquele país; Ângela Merkel é contra o ato

por James Cimino

A lei homofóbica que proíbe a “propagada gay” na Rússia ganhou mais um opositor: dessa vez o presidente alemão Joachim Gauck mandou informar ao governo russo que ele não participará dos jogos olímpicos de inverno na cidade de Sochi em virtude do desrespeito aos direitos humanos promovido naquele país. A informação é do Spiegel Online.

Embora o chefe de Estado seja um cargo meramente simbólico (sabemos que quem manda mesmo na Alemanha – e também na economia europeia – é a chanceler Angela Merkel), a decisão repercutiu bem internacionalmente, mas dividiu a opinião dos alemães.

A chanceler, por exemplo, considera que a decisão pode prejudicar os atletas alemães presentes ao evento. Recentemente ela disse ser contra esse tipo de ação, afirmou que o mundo estaria de olho na Rússia durante os jogos e que seria mais efetivo implementar uma mudança que promover um boicote.

Já o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung disse que muitos russos poderiam considerar a atitude arrogante, e que “seria melhor que Gauck expressasse suas justificadas críticas em frente às câmeras da TV russa durante sua aparição em Sochi”.

Outros veículos de centro-esquerda consideram a decisão de Gauck como “um exemplo” a ser seguido por outros chefes de Estado. O fato é que sua decisão não repercutiu bem entre os russos. Robert Schegel, do partido Rússia Unida, que domina o Kremlin, criticou a decisão dizendo que, “embora pessoalmente justificável”, já que o presidente alemão é um histórico defensor dos direitos humanos, “politicamente é uma estupidez”, pois ele estaria estragando as relações entre a Alemanha e a Rússia.

Gauck fez questão de dizer que apoia os atletas alemães e que irá recebê-los, quando voltarem.

Elton John

Outra personalidade que protestou contra as lei da “propaganda gay” recentemente foi o cantor Elton John, que se apresentou em Moscou na sexta-feira passada (6). Ele foi amplamente aplaudido após dizer: “Vocês sempre me abraçaram e nunca me julgaram. Por isso, estou profundamente entristecido e chocado em função da legislação existe aqui. Tudo contra a comunidade LGBT que vive na Rússia. Eu não acredito em povos isolados. A música consegue juntar as pessoas independente da idade, da raça, sexualidade ou religião. O espírito que nós construímos hoje é o que constrói um futuro de igualdade, de amor e compaixão. Para os meus filhos, para os seus filhos. Por favor, não deixem esse pensamento para trás quando saírem daqui.”

John foi um dos primeiros grandes artistas ocidentais conhecidos pelo apoio aos direitos dos homossexuais a fazer uma turnê na Rússia desde que Vladimir Putin assinou a lei, em junho, de acordo com a BBC. Os planos de John de se apresentar no país, anunciados há alguns meses, geraram protestos de ativistas antigays. Veja o vídeo de seu discurso em Moscou abaixo.

Segundo o jornal britânico The Guardian, um grupo chamado Comitê dos Pais de Ural escreveu uma carta para Putin pedindo que ele proibisse John de se apresentar. A União das Irmandades Ortodoxas circulou uma petição com uma exigência parecida. “As declarações desse cara gay – Elton John – a respeito do apoio dele aos gays e a outros pervertidos nos shows… são um insulto para todos os cidadãos russos”, disse o líder da União, Yuri Ageshchev, para uma agência de notícias local. “Também é algo que tira sarro da nossa lei, recentemente inaugurada, que proíbe a propagação de ideias gays.”

Antes de ir, John disse em entrevista ao programa de rádio Fresh Air que se sentiu obrigado a manter as datas. “Existem muitas pessoas ótimas na Rússia, elas também estão revoltadas com o que está acontecendo, não quero abandoná-las”, ele disse. “Agora, provavelmente serei criticado por ir, e eu entendo isso. É somente que eu, como um homem gay e um músico gay, não consigo ficar em casa e não apoiar essas pessoas que foram tanto aos meus shows no passado.”

John dedicou o show da sexta à noite para Vladislav Tornovoi, um jovem de 23 anos que foi torturado e morto por ser gay.

Madonna fez a mesma coisa no ano passado quando passou com sua MDNA Tour por São Petersburgo. Ela distribuiu pulseiras rosa para os fãs,  protestou contra a a prisão do grupo  Pussy Riot e contra a lei da “propaganda gay”. O governo russo tentou processá-la, com base na lei, mas não conseguiu.

Recentemente, outra diva da música pop, Cher, recusou-se a cantar na abertura dos jogos de Soochi pela mesma razão.

“Propaganda gay” e Rússia

Vocês devem ter notado que usei o termo “propaganda gay” entre aspas durante todo o texto. Isso porque durante o Lado Bi nº 32 – Publicidade, nosso convidado Felipe Simi nos explicou a impossibilidade do uso desse termo. Segundo ele, é impossível fazer propaganda da homossexualidade. De acordo com Simi, a publicidade parte da premissa de que há uma necessidade prévia de consumo por parte do público alvo. Ou seja, não vende um produto para alguém que já não tenha necessidade de consumi-lo. “Mesmo que se fizesse propaganda da homossexualidade, ninguém compraria esse produto”, disse.

Também gostaríamos recomendar a audição do Lado Bi nº 19 – Rússia, em que também aproveitamos para desmistificar a ideia de que todo mundo no maior país do mundo é homofóbico ou que você vai ser atacado gratuitamente.

E por fim, também queremos saber sua opinião. Você acha que a decisão do presidente alemão e de Cher foi a mais correta ou você é do time da Madonna e do Elton John, que acreditam que a melhor forma de protestar é indo ao país e dizer às pessoas que você está do lado delas?

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