As ilustrações de Touko Laaksonen, mais conhecido como Tom of Finland, já fazem parte do inconsciente coletivo gay. As ilustrações de machos hipermusculosos, bem dotados, vestidos em couro (ou sem nada) inevitavelmente trazem um sorriso ao lábios dos gays – e em geral uma promessa de uma homenagem assim que surgir a oportunidade.
Ele produziu mais de 3500 ilustrações ao longo de seus 71 anos de vida. Se seus desenhos ainda chocam muita gente hoje, imagine como era quando ele começou a produzir, nos anos 1940 e 1950. Essa atitude sensual, bem-humorada e desafiadora de Tom of Finland é o que os diretores Henri Huttunen e Vesa Kuosmanen querem refletir no filme que estão produzindo sobre sua vida. Como vem acontecendo tanto hoje, eles iniciaram uma campanha de crowdfunding para realizarem o filme sem a interferência pasteurizante dos grandes estúdios. Veja a seguir os teasers que eles já prepararam para deixar nós fãs empolgados, e leia a entrevista com os diretores dada originalmente ao jornalista Scott Alexander Hess.
O que é que fez de Tom of Finland um ícone gay tão grande? Por que ele se mantém um artista relevante ainda hoje?
Touko não era apenas um artista. De certa maneira ele era o arauto de uma nova era. Muitos homens gays passaram a se sentir orgulhosos de quem eram pela primeira vez por causa de sua arte. A gente não acha que ele é idolatrado tanto por causa seus deuses musculosos e vestidos de couro, mas sim pelo que eles simbolizam: sinceridade, coragem, liberdade para amar e orgulho. O que cativa mais na arte do Touko não são as botas, as bundas ou os músculos. São os olhos. Não há vergonha nem medo, num período em que a sociedade reprimia os gays. O tempo não fez com que sua arte se tornasse menos ousada. Ele continua sendo o mestre indisputável do traço a lápis e é considerado um dos cinco artistas mais importantes do século 20. Os temas de seu trabalho também não se tornaram menos relevantes. A sociedade avançou muito desde a época em que ele ficou famoso pelo mundo inteiro, nos anos 1950 e 1960, mas ainda há muito trabalho a se fazer, mesmo em seu país natal. Touko e pessoas como ele – heróis – sempre serão necessário. Sua arte serve como um lembrete daquilo pelo que nós temos que lutar: um mundo mais tolerante e cheio de amor.
Que abordagem e tom você utiliza em seu filme? Ele vai ter a energia erótica das ilustrações?
O estilo do filme é a razão principal por que nós queremos que ele seja realizado como uma produção independente. Nós não queremos fazer algo mais leve para agradar a um público mais amplo. Touko não amansava sua arte. Por que nós o faríamos? O filme vai ser tão corajoso e sensual quanto suas ilustrações, algo de que todos os homens de Tom of Finland poderão se orgulhar. Imagina algo como um circo lotado de gente com trapezistas fazendo sexo em pleno ar enquanto a plateia vai ao delírio. Isso é o Touko. E é isso que tanto você como nós queremos ver. Queremos fazer com que cada quadro do filme pareça uma composição do Touko, tenha aquela tensão e senso de humor presentes o tempo todo. Essa é a nossa maneira de homenagear Touko.
O que não quer dizer que nós estamos fazendo um filme calcado apenas no choque erótico. Havia mais no Touko que isso: a guerra, a atmosfera dos anos 1950, a perseguição aos gays e as batidas policiais, nas quais milhares foram presos por causa de sua sexualidade. Essas são todas coisas que formaram o Touko, coisas com que nossa história foi construída. A gente gosta de descrever nosso filme como “Boogie Nights encontra O Pianista”.
O que você vai buscar no ator protagonista?
O protagonista já foi escolhido. Desde o primeiro momento Olli Rahkonen era evidentemente a escolha de nós dois para interpretar Touko. Henri já havia trabalhado com Olli em várias ocasiões ao longo dos anos, e os dois têm um respeito mútuo muito grande. Ainda assim, foi Vesa quem primeiro sugeriu escalar Olli. Muitos dos amigos de Touko que já viram o teaser do filme nos disseram que a escolha foi acertada. Eles não conseguem mais imaginar qualquer outro ator interpretando Touko.
Fazer o papel de Touko é um desafio enorme para qualquer ator, e, sinceramente, tem que ter muito culhão para encará-lo. Você tem que se transformar em alguém que é amado e idolatrado ao redor do mundo, que tocou e transformou tanta gente, um homem sofisticado que viajou pelo mundo, herói de guerra condecorado, carismático e humilde, e ainda por cima, ainda mais importante, um gênio artístico sofrido que tinha que esconder sua sexualidade mesmo das pessoas mais íntimas. Ele transformou o mundo com sua coragem. Touko Laaksonen – Tom of Finland – é o mais próximo que uma pessoa de verdade já chegou de ser um super-herói.
Apesar disso tudo, quando nós dissemos para Olli que estávamos fazendo esse filme e que nós gostaríamos que ele fizesse o papel principal, ele não hesitou por um segundo sequer. E essa é uma das características que fazem com que ele seja perfeito para interpretar Touko. Olli sente uma necessidade incontrolável de sempre se superar, constantemente se levando aos próprios limites e superando-os. Nós temos certeza de que isso, junto com sua sensibilidade e carisma natural, vão ajudá-lo a trabalhar nesse papel – e no filme – com dignidade.
Além do mais, não é esforço nenhum olhar para ele, seja num terno sob medida dos anos 1950, seja em couro.
Que característica de Tom fez com que vocês decidissem se dedicar a esse projeto como diretores?
O mais importante foi que nos sentimos atraídos por uma grande história. Um artista que precisava esconder sua sexualidade se torna um ícone gay internacional por causa de sua arte. Um herói de guerra gay num país em grande parte homofóbico que idolatra seus combatentes veteranos. Um homem cuja coragem de continuar a desenhar durante uma época em que isso podia ter lhe custado tudo libertou uma geração de homens inteira. Um herói que é praticamente desconhecido pela população de seu pequeno país nórdico mas é celebrado ao redor do resto do mundo. Era uma história que a gente precisava contar!
Histórias têm um poder surpreendente de comover e inspirar. As melhores histórias têm o poder de mudar o mundo. Essa é uma história que precisa ser contada, e ouvida, principalmente aqui na Finlândia, onde as pessoas já têm alguém de quem se orgulhar mas não sabem. Contar essa história de uma maneira em que o personagem principal aprovaria é a coisa mais importante na nossa vida nesse momento.
Imagina Se fizessem um filme do Julius!!! Chessussss!!!
[…] cinebiografia de Tom of Finland também está programada para estrear em […]