Danielle Winits foi ao Faustão no domingo para fazer aquilo que todo ator tem que fazer em algum momento da vida: defender o (mau) caráter de seu personagem. No caso dela, que está interpretando a desequilibrada Amarylis, Winits associou as críticas e a rejeição à dermatologista de “Amor À Vida” ao machismo.
Assim como falei que criticar o Bonde das Bonecas não era necessariamente homofobia, criticar a personagem em questão também não é, a meu ver, machismo. O problema de Amarylis é de caráter mesmo. E eu até entendo o esforço da atriz em tentar convencer o público de que a trama do Walcyr é coerente e que o perfil de sua personagem é outro, mas as evidências que a própria história fornece dizem o contrário.
Vamos recapitular sua trajetória em “Amor à Vida”. Amarylis reencontra Niko (Thiago Fragoso), um velho amigo de escola, que hoje vive com Eron (Marcello Antony), um advogado bissexual. Niko, como toda gay heteronormativa, quer desesperadamente ter um filho nos moldes papai e papai. Acontece que sem mamãe, não tem filhinho, então ele e o marido resolvem procurar uma barriga solidária.
Amarylis, que além de desequilibrada não tem ética profissional nenhuma, mesmo sendo médica, fica sabendo da história e seu relógio biológico apita. Ela tá lá, sozinha, sem filho, com quase 40 anos e tem a brilhante ideia de se oferecer “na inocência”, como diz Dani Winits, pra gestar o bebê do “amigo”.
Aí o que Amarylis faz? Em vez de ir ao terapeuta, ela resolve falar com o médico que cuida do centro de reprodução humana do hospital, outro baluarte da ética, para que ele viole o procedimento padrão, que é de fecundar o óvulo de uma estranha com os espermatozoides do casal, e substituir por seu óvulo, o que a faz se tornar mãe biológica da criança.
Beleza. Nada disso dá certo, porque o útero dela não consegue gestar nenhum dos embriões implantados e ela, então, resolve seduzir o marido da “amigue”. Ok, chegamos aqui ao ponto em que vale aquela máxima de quando um não quer, dois não transam, até porque homem não finge ereção etc etc.
Sim, Eron tem sua parcela de culpa, mas quem assistiu à novela acompanhou o papinho de Amarylis. “Vamos tentar do modo natural, que sabe funciona melhor. O Niko nunca vai saber e, no fim das contas, é a ele que a gente quer agradar. Ele vai ter o filho do mesmo jeito e blá blá blá.”
O Eron, que nunca parece ter ligado muito pra isso, foi lá e “se livrou do problema” e ainda fez um revival dos seus tempos de hetero. E, até o momento, o advogado não demonstrou que estava super interessado em largar o marido pra ficar com a “barriga solidária”.
Beleza, ela fica grávida, tenta impedir o amigo de educar o filho que ele encomendou, porque no fundo foi isso, e, não bastasse, ainda começa a querer aparecer nos eventos do hospital com o marido do amigo gay. Afinal, o patrão dele é homofóbico e tal.
Querida, fosse Amarylis minha “amiga”, eu já teria sentado a mão na fuça dela, com lei Maria da Penha e tudo, porque ela não merece apanhar porque é mulher, nem está sendo achincalhada por ser mulher, mas por ser uma tremenda de uma vaca desequilibrada, que acha que porque seu relógio biológico apitou ela pode passar por cima dos sentimentos dos outros.
Mas Amarylis é a única errada ali? Não. Vamos voltar à bicha heteronormativa. Gays precisam parar de querer reproduzir o modelo de família e de relacionamento heterossexual de uma vez por todas. Vejam só: acho natural querer ter filho. Acho lindo querer se dedicar à vida de uma criança e torná-la um ser humano melhor do que nós conseguimos ser. Mas, na minha opinião, se você é gay e vive com outro homem e quer ter filho adotivo, é possível que você consiga criá-lo (a) sem a figura materna, especialmente se a mãe tiver morrido. Agora, se você quer ter um filho biológico, você não tem o direito de privá-lo da companhia materna. Então, em vez de você procurar uma barriga solidária, por que não procura uma mulher disposta a ser mãe do seu filho?
Uma criança com dois pais e uma mãe seria tão horrível assim? Em um mundo em que todos são sempre muito ocupados para cuidar de uma criança em tempo integral, será que não seria ainda melhor para ela ter dois pais e uma mãe? Não seria melhor para vocês, inclusive, poder dividir os ônus e os bônus da criação de uma criança?
Acredito que essa barriga solidária só funcione se você encontrar uma pessoa extremamente fria e calculista para gestar seu filho, mas você não vai querer gestar seu filho na barriga de uma pessoa uó. Você quer gestar o filho na barriga de uma pessoa legal. E uma pessoa legal vai querer ser mãe, não apenas uma barriga solidária.
Então, Dani Winits, sem essa de que a outra foi fazendo as coisas na inocência. Amarylis é dissimulada, irresponsável e precisa de terapia urgentemente. E esse caso teria uma fácil resolução se todos os envolvidos tivessem tido uma conversa franca sobre seus objetivos, mas daí não teria novela, nem esse texto aqui.
Ouça o que tínhamos a dizer no começo da novela Amor À Vida no Lado Bi da Novela.
Arrasou.
Não conseguir entender a parte que o Niko quer reproduzir a heteronormatividde, que parece está nessa frase: Mas, na minha opinião, se você é gay e vive com outro homem e quer ter filho adotivo, é possível que você consiga criá-lo (a) sem a figura materna, especialmente se a mãe tiver morrido.
Você combateu um senso comum, preconceito, com outro. Desde quando uam mulher que decide apenas gerar um bebe pra alguém, sem querer ser mãe é fria e calculista? So porque ela é mulher ela é obrigada a querer ser mãe e ter ‘instinto materno’? Isso é um mito criado pela nossa sociedade machista pra prender a mulher a mais um dos mil padrões e comportamentos ‘ideais’. Amigo, você é machista!
Cara Cyrana, não acho que nenhuma mulher é obrigada a ser mãe. Agora, se você não quer ser mãe, você não se ofereça para ser barriga solidária de ninguém. Porque queira você ou não, você vai ser mãe a partir do momento em que gestar uma criança. Acho que uma pessoa que aluga seu corpo com qualquer objetivo financeiro é fria e calculista sim. Seja homem que casa por interesse, seja mulher que casa por interesse, seja homem que vende seu sêmen, seja mulher que aluga seu útero. Criança não é mercadoria. Criança não é muleta sentimental de ninguém. E nesse caso, as duas partes estão tratando a criança dessa maneira. Então, ache outro adjetivo, porque machista pra mim não vai rolar hoje.