Propaganda de LEGO dos anos 1980

LEGO abandona padrões de gênero a pedido de mãe

Ao receber reclamação por forçar um menino a mentir que era menina para receber encarte cor-de-rosa, a empresa muda seus sites no mundo todo

por Marcio Caparica

A luta pela igualdade de gênero se dá em todos os níveis. Quem quer educar seus filhos com o princípio de que não há comportamentos impróprios por causa de seu sexo tem que travar batalhas diárias em sua comunidade e até contra grandes empresas. Veja esse exemplo.

Heather E. Ash tem uma menina e um menino. O garoto, mais novo, adora carrinhos, Star Wars, Angry Birds, LEGO… e cor-de-rosa. Com o apoio da mãe, que não quer que ele cresça com ideias de que certas coisas são “de menina” e outras “de menino”, ele responde  “rosa é pra todo mundo!” para os coleguinhas que perguntam por que ele está com roupas de mulherzinha.

E como se já não houvesse dificuldades o bastante, ela ainda teve que lidar com o desafio da própria LEGO. O filho descobriu que a revista do Clube LEGO enviava pelo correio um encarte com adesivos da linha Friends, “para meninas”. Selinhos cor-de-rosa. Era só pedir pelo site.

O problema? O encarte era enviado apenas para quem estivesse cadastrado como menina.

O garoto não estava nem aí. “Diz que eu sou menina no site, mãe!!”. Mas Heather não admitiu essa possibilidade.

Não porque estivesse preocupada com a sexualidade ou identidade sexual de seu filho. Como ela mesma escreveu em seu blog, “eu digo a todos que o fascínio do meu filho por tudo que é cor-de-rosa e purpurinado não quer dizer necessariamente que ele é, ou vá se tornar, gay, ou fora dos padrões de gênero, ou mesmo transgênero. Ele vai ser amado sempre por quem ele é – agora e no futuro. E no momento ele é simplesmente um garoto que adora sua camiseta lilás de cavalinho e seu tênis de Angry Birds com brilhinhos”.

O problema todo é que um garoto não deveria ser forçado a mentir sobre seu gênero apenas para conseguir um encarte. Ou seja lá o que for.

Além disso, Heather explica: “[Há] outra razão, impossível de explicar para um garoto de seis anos. Se eu disser que ele é uma garota, eu apoio a noção de que alguns brinquedos (ou algumas roupas, alguns acessórios, algumas atividades) são apenas para meninas. E dou um pouco de razão para o garoto da colônia de férias que tira sarro do esmalte de unha que ele usa, e para os adultos que vêm me alertar sobre o futuro dele se ele continuar ‘agindo assim’. Eu já sei como vai ser o futuro dele. Um dia, quando eu não estiver por perto, alguém vai usar esse rótulo de ‘menina’ para magoar meu querido filho. Usa-se ‘você é tão menininha por [complete aqui]’ como insulto para forçar todas as crianças, independente se menino ou menina, à conformidade de gênero – a preencher apenas a caixa de garoto ou garota, ou ser punido com comentários maldosos (ou ostracizado, ou pior).”

Heather escreveu um e-mail para a Lego. E postou sobre isso em seu blog. Afinal, esta é uma multinacional que se propõe a respeitar a igualdade de gêneros. Não deveria ser tão difícil simplesmente trocar a informação “menino” ou “menina” no formulário da revista do Clube LEGO por uma pergunta: “você quer receber o encarte?”. Ou simplesmente enviá-lo para todos os leitores da revista.

E não é que a Lego respondeu? Quinze dias depois, ela recebeu o seguinte e-mail:

Obrigado por entrar em contato conosco. Li o post no seu blog com interesse e realmente lamento que você tenha passado por essa experiência. Qualquer uma das linhas de LEGO pode ser usufruída por qualquer criança, razão por que nós oferecemos tantas opções para que elas possam fazer suas escolhas de acordo com seus interesses.

Seus argumentos ao final do post em seu blog são muito convincentes. Por consequência, nós alteramos a maneira como a garotada pode optar por receber ou não o encarte da linha “Friends” em sua revista do Clube LEGO. Nós trabalhamos em conjunto com todas as unidades globais para que mudanças sejam feitas o mais rapidamente possível, ao mesmo tempo em que desenvolvemos uma estratégia mais elaborada para o ano que vem.

A solução mais imediata é que, de agora em diante, os adultos responsáveis serão capazes de selecionar se querem receber a revista do Clube LEGO com ou sem o encarte. Isso se dará de acordo com a preferência do membro do Clube LEGO como você sugeriu, e não mais determinado pelo gênero. Por favor nos ligue ou envie um e-mail novamente para que possamos corrigir a preferência de seu filho para que ele receba a revista com o encarte do LEGO Friends. Nós iremos enviar então a edição mais recente para ele.

A longo prazo, vamos melhorar o processo de inscrição no Clube para que os pais e crianças da família tenham uma oferta de várias versões da revista, para que estejamos certos de que realmente estamos indo ao encontro com os gostos de nossos fãs.

Às vezes uma pessoa pode fazer muita diferença.

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41 comentários

Eliandra

Gente, o foco aqui não deve estar no pensamento se a Lego é ou não consciente, mas sim no que essa mãe conseguiu fazer.

Now We Are Six: TLF’s Anniversary Post

[…] We are especially proud of our first chance to demonstrate that TLF can change the world — Heather’s post regarding LEGO policies changed the company policy! (Though perhaps not quite as much as we would have liked.) This post was shared widely by PFLAG and the Brazilian LGBT site, Ladobi. […]

Alziro Mendes

Se a história for verídica, esse é o mínimo de atenção que deve ser dada à um consumidor e é sempre a melhor atitude; (RESPEITO) PARABÉNS À EMPRESA E TAMBÉM A MÃE PELA INICIATIVA.

Thais

Que bacana a postura da Lego, são essas segregações que são impostas desde que somos crianças que na vida adulta viram homofobia e machismo. As pessoas tem que parar de educar seus filhos pra serem aceitos socialmente e sim educar para serem mais humanos.

Sergio

Falta do que fazer, lutando por um causa tao inutil

essa mae pode ter razao nisso ou aquilo, mas o mundo n vai mudar por causa da frescurinha rosa da mente dela n… ela deveria era preparar o filho pra essa selva de pedra q a gente vive

Ela achando certo ou n, uma hora vao botar o filho dela no chao independente das escolhas q ele faca… eh triste mas a vida eh assim e nunca foi mil maravilhas

Deve ter dinheiro, paz, saude e falta do que fazer. Vive vida de barbie e acha q o planeta arrota arco iris e explode coracaozin

sem nocao

Criando Andys e Bonies | Tear de idéias

[…] semana fiquei feliz e emocionada de ler que a Lego, a pedido de uma mãe, mudou o padrão global de distribuição de um encarte da revista do Clu…. O encarte de adesivos cor de rosa era enviado apenas para quem se declarasse como menina. Agora, […]

Deborah

Pelo que eu sei, a Lego criou a linha “Friends” justamente porque vários pais se recusavam a comprar Lego para suas filhas, por ser “coisa de menino”. Assim, tendo uma linha “de menina”, as famílias não tinham mais razão para negar o brinquedo às garotas.
Antes que venha alguém aqui dizer “mas ninguém pensa assim”, compartilho que minha irmãzinha de 6 anos que adora Lego só foi receber suas primeiras peças por causa da linha Friends, que minha mãe julgou apropriadas para o gênero dela. Realmente acontece isso, infelizmente, e (ao menos foi o que li outro dia sobre o assunto) a Lego criou essa linha com este motivo de deixar o brinquedo acessível também a meninas.

James Cimino

É, mas a culpa é da Lego ou da sua mãe? Na boa, não vejo como uma menina se tornaria lésbica por brincar de montar um Lego do Star Wars por exemplo, ou da linha city. Ela não pode ser tornar apenas uma engenheira quando crescer?

Mistelko

O único brinquedo da Lego que minha pequena (de 2,5 anos) tem é da linha para meninos! 🙂 Foi o que ela quis, o q ela gosta, ora pq não?

ThiagoSalgueiro

E eu e minha irmã brigávamos pelo único balde daqui de casa que era de menino, plena década de 90 , e ela está feliz casada hj com um cara super nota 10.

Katja Petricor

Achei hipócrita. As diferenças de gênero entre as linhas da lego já form denunciadas faz tempo, se a empresa quisesse realmente melhorar, teria feito um brinquedo para todxs. Vejam aqui nesse vídeo (e na 2ª parte dele também):

Celeste

É um detalhe mas faz diferença no entendimento e no uso correto das expressões . Ao traduzirem a última frase da resposta da empresa Lego erraram ao escrever : indo de encontro = ideiascontrárias, quando deveria ser : indo ao encontro = somando, colaborando….com os gostos dos nossos fãs.

Fabiano

Bacana a resposta da Lego! Mas no texto diz que o menino adora tudo que é rosa e com glitter, além de ser motivo de chacota por usar ESMALTE… Que menino usa esmalte rosa? Essa mãe tem um mini travesti em casa.

Marcio Caparica

Fabiano, se o menino quer usar esmalte porque gosta da cor e acha injusto que só a irmã dele pode ter unha rosa, qual é o problema? É exatamente esse tipo de estereótipo de “coisas de menino” que essa mãe (e nós nesse site) queremos dissolver. Usar esmalte não quer dizer que ele vai ser gay (ou que não vai). E se o menino crescer e virar um travesti feliz, bom pra ele. Assim como se ele crescer, virar um comedor e encantar as mulheres que ele catar com a história de como ele usava esmalte rosa.

Mauana

Marcio… se aqui tivesse Like, estaria curtindo teu comentario. Certeza que ele vai pegar muita mulher contando a historia do esmalte, mulheres acham isso fofinho! E se ele virar gay, travesti, crossdresser… que seja feliz!

Katia Regina

Apoiadíssimo!!!!
Ele pode crescer e decidir usar esmalte preto, ser rockeiro e fará o maior sucesso com as mulheres…. Ou com os homens, se assim preferir.

Carla

E daí,se ele for um mini-travesti? Travestis também merecem respeito,oras!

James Cimino

Ah, é Fabiano? Então eu te conto uma historinha. Eu era uma menino que simplesmente odiava bonecas, nunca pintei as unhas, nunca gostei de me vestir de mulher, nem de usar maquiagem. Sempre gostei de ferrorama, autorama, comandos em ação, transformers, thundercats, star wars. Neste fim de semana montei um R2D2 de Lego que comprei. E sou super gay! Cadê seu Deus agora?

DuContra

Sem defender o Fabiano. Mas o quê Deus tem a ver com o peixe. Todos os fundamentalistas usam sim o nome dele para justificar suas atrocidades, mas em sua palavra ele só prega o amor.

Lucas

“Cadê seu Deus agora?” é uma expressão equivalente a “rá, responde essa, otário” porque seria um argumento “tão imbatível que nem Deus na sua omnisciência seria capaz de derrubar”, não tem nada a ver com religião.

El Toro

Lego é um dos brinquedos mais democráticos que existe. As crianças têm liberdade pra usar da forma que quiser. Não quero ensinar meu filho a ser motorista, mecânico ou minha filha a ser cozinheira e faxineira e mãe de boneca. Os brinquedos ainda acompanham o pensamento retrógrado de décadas atrás. Mas isso ainda existe, porque existem poucas mães conscientes como essa que escreveu para a empresa Lego.

Raffs

É a segunda vez que a Lego acerta muito na minha opinião. Meu coração chega deu pulos de alegria e aplaudiu essa mãe.

Vina Apsara

na verdade, o problema com a lego foi a forte diferenciação entre “brinquedos de meninas”e “brinquedos de meninos” que a empresa começou a fazer depois dos anos 90. É uma pena, porque na nossa infância era realmente um dos poucos brinquedos unissex.

Muito legal essa série de vídeos da Feminist Frequency sobre o assunto.

http://youtu.be/CrmRxGLn0Bk

natalia

empresa consciente nada, respondeu isso para não queimar o filme. Ela errou e continua errada, ainda tem linhas “para meninas” e “para meninos”. Esse encarte é um exemplo pequeno e estão usando como propaganda.

Alícia

Na verdade não existe essa de linha para meninos ou meninas, sou uma grande fã de lego, e sei de todos as linhas e modelos de brinquedos que estão nas prateleiras. Existe a linha “lego friends” que julgamos ser de garota pela embalagem rosa, mas isso não diz necessariamente ser só para gatotas. Assim como não diz nas embalagens de do leho do Star Wars que é só para meninos, sendo isso minha linha favorita da Lego.

Katja Petricor

gente, a empresa não tem nada de inocente. Isso é só marketing. As linhas são sim marcadas por uma construção de gênero muito tosca. Não estou dizendo que não é um bom brinquedo, estou dizendo que se estivesse realmente preocupada, aboliria as diferenças de gênero nas linhas em vez de apenas oferecer para todxs. E não foi falta de aviso: por favor, dêem uma olhada nesse vídeo, foi feito por uma especialista em gênero e mídia e explica perfeitamente o processo de separação de gêneros da Lego: http://www.youtube.com/watch?v=CrmRxGLn0Bk (depois tem a parte 2 também, ambas são excelentes)

Achei muito hipócrita como responderam esse caso desse menino e não fizeram o que o vídeo sugere.

Rafael

Tenha calma Srta. uma coisa de cada vez. Se eles responderam essa mãe, pode ser o passo inicial pras demais ações deles.
Quanto a uma linha em especifico pra cada gênero, com exceção dos rótulos, eu não vejo porque devem-se mudar isso… tecnicamente a maioria das pessoas esta acostumada a padrões, maioria… E curiosamente, a maior parte dos clientes da lego hoje não são crianças, são adultos, portanto esse tipo de problema é típico, mas eu entendo que os produtos ainda são voltados (mesmo que todos coloridos e entitulados brinquedos) para um público adulto.

Carla

Pelo menos se propuseram a avaliar a questão. As mudanças têm que começar por algum lugar,não é mesmo?

Lucca

Aiai como eu adoro esse povinho Brasileiro. Se a empresa/pessoa FAZ o povo reclama, se a empresa/pessoa NÃO FAZ o povo também reclama.

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