O Grindr já pode ser considerado um divisor de águas na maneira dos gays se relacionarem. Sim, facilita muito a pegação – quem nunca conferiu compulsivamente as mensagens a cada meia hora pode bloquear meu perfil sem camisa, que eu não me importo. Mas além disso, ele permite que gays em regiões em que não é fácil ser gay – em pequenas cidades, lugares afastados, comunidades intolerantes – se descubram e se encontrem. Quem vive em São Paulo pode se dar o luxo de desprezar o Grindr e ir pro clube se jogar. Aqueles que não têm esse tipo de opção dependem muito mais do app.
Por isso que não tem graça nenhuma o fato do governo da Turquia ter censurado o acesso ao Grindr no dia 11 de setembro. O banco de dados online e seu website estão bloqueados pela 14a. Corte Criminal de Istambul por uma “medida de proteção”. Segundo Hayriye Kara, advogado da associação turca LGBT KAOS GL, “a decisão da corte não foi publicada online e nós não temos acesso à procuração, e portanto não sabemos ainda qual é a razão da censura. Provavelmente é algo ligado à ‘moralidade geral’, um termo ambíguo usado muitas vezes contra prostitutas transexuais.”
Ömer Akpınar, coordenador de mídia do mesmo grupo, explica o contexto: “censurar o Grindr é apenas a mais recente das limitações arbitrárias de liberdades na Turquia. Qualquer estilo de vida ou identidade que não se encaixe na ideologia do estado está tendo seus direitos e liberdades negados. O governo turco, por intermédio do Ministério da Família e das Políticas Sociais, utiliza cada vez mais o discurso da ‘família tradicional heterossexual’ com um pretexto para suprimir os direitos LGBT. Os cidadãos LGBT nunca foram considerados cidadãos iguais em toda a história da República Turca”.
Joel Simkhai, CEO do Grindr, soltou uma declaração dizendo estar “extremamente chateado” sobre o bloqueio e ter esperanças de que isso seja apenas temporário, já que o Grindr “foi criado para facilitar conexões entre homens gays – especialmente em países em que a comunidade LGBT é oprimida”.
Cada vez mais o Grindr está se tornando um símbolo não só da liberdade sexual dos gays, mas também da liberdade de ser gay – e até a liberdade de abrir mão dele.