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Casamento igualitário torna-se principal pauta política dos EUA

A Suprema Corte dos EUA começou a decidir a questão do casamento igualitário no país, para a sorte de Hillary Clinton e angústia do partido Republicano

por Marcio Caparica

Ontem a Suprema Corte norte-americana começou a ouvir as argumentações sobre dois casos que podem vir a legalizar o casamento igualitário em todo o país, mesmo nos estados mais conservadores. As questões a serem decididas pelos magistrados dos Estados Unidos são: um, leis que restringem o casamento como algo apenas entre um homem e uma mulher, negando portanto o casamento a casais homossexuais, são constitucionais?; e dois, um estado que não permite o casamento igualitário em seu território deve ser forçado a reconhecer os casamentos igualitários feitos em outros estados (como já acontece com casamentos heterossexuais)?

Com as eleições presidenciais de 2016 já começando a pegar fogo (sim, essas coisas por lá começam bem mais cedo, num processo massacrante a que nenhum candidato brasileiro resistiria dois meses), candidatos e candidatos a candidatos a presidente estão sendo forçados a se posicionar quanto ao direito de LGBTs se casarem. Isso está sendo particularmente difícil para os candidatos do partido Republicano, mais conservador. A essa altura do campeonato as principais figuras políticas do partido ainda estão começando a disputar entre si o posto de candidato oficial a presidente do partido. Quem elege esses candidatos nessas “pré-eleições” são os eleitores mais comprometidos com o partido, e portanto mais conservadores. Para ganhar esses votos, os políticos não podem tomar posições muito libertárias. Esses posicionamentos podem trazer problemas nas eleições gerais, no entanto:  atualmente mais de 60% da população total dos EUA são a favor do casamento igualitário. Posições muito conservadoras podem lhes custar votos quando a população como um todo, menos politizada, tiver que escolher o próximo presidente.

E assim, desde a semana passada, os candidatos a candidato do partido Republicano têm sido forçados por repórteres a responder uma pergunta: “você estaria presente no casamento homoafetivo de uma pessoa querida?”. Ou seja, você é tão convicto de que esse tipo de casamento é errado que se recusaria a participar do casamento gay de um filho ou irmão? Seu coração é tão peludo que, por princípios, você preferiria magoar alguém que ama a presenciar um dia tão feliz em sua vida? Por outro lado, se você está presente, como pode se opor tanto a algo que está vendo que não tem nada de terrível?

Os políticos estão fazendo contorcionismos incríveis para tentar se sair com alguma dignidade dessas questões. Rick Santorum, um dos mais radicais (e cujo nome já foi redefinido como “a mistura espumante entre lubrificante e fezes que às vezes é o produto do sexo anal”, em represália à vez que ele igualou sexo gay a bestialidade) já disse com todas as letras que não, não estaria presente – sincero, mas com isso suas chances de virar candidato a presidente foram para o ralo. Ted Cruz tentou desviar, dizendo que isso ainda não havia acontecido com ele. John Kasich, atual governador do estado de Ohio, disse que sim: “não é só porque você se opõe a algo que você não se importa com seus amigos e outros seres humanos” (mas se dependesse dele, esse casamento jamais aconteceria – muy amigo). Jeb Bush (irmão de George W. Bush e filho de George H. W. Bush, ex-presidentes dos EUA) afirmou que “respeita as leis” – ou seja, não disse nada. Rick Perry reclamou que a pergunta é pegadinha, mas disse que provavelmente iria à cerimônia.

Enquanto isso, no outro partido, a ex-primeira-dama, ex-senadora, ex-secretária de Estado Hillary Clinton está nadando de braçada. Praticamente já escolhida como a candidata do partido Democrata à presidência (até ontem ninguém estava disputando a posição com ela), Clinton já percebeu para onde vai o rumo da história e, contando com um eleitorado muito mais amigável às causas LGBTs, demonstra seu apoio ao casamento igualitário sem quaisquer ressalvas. Ontem, por exemplo, pegando a onda dos acontecimentos na Suprema Corte, seu comitê de campanha mudou o logotipo de sua página no Facebook para uma versão com a bandeira do arco-íris:

Além disso, ela já declarou com todas as letras que espera que os juízes da Suprema Corte decidam a favor do casamento igualitário.

Mas isso não é de agora. Quando oficializou sua candidatura à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton fez o anúncio com um vídeo que mostrava não apenas um, mas dois casais homossexuais. Apesar de surpresos com a importância que suas filmagens receberam, ambos casais declararam estarem muito orgulhosos de sua presença no lançamento da campanha – os gays, inclusive, convidaram-na para seu casamento.

Hillary Clinton ganhou o apoio da maioria da população LGBT norte-americana – alguns apoios até bastante abusados. Uma dupla de moradores da cidade de San Francisco lançou a campanha Bottom For Hillary (“Seja passivo por Hillary”, em tradução livre). Eles estão vendendo camisetas que dizem “eu seria passivo por Hillary!”. “É um elogio à Hillary, sério”, disse o fundador da campanha ao site Fusion. “Quando se é passivo, há muita coisa envolvida. A maioria dos homossexuais entende esse conceito. Dar para alguém requer muita confiança e compreensão. Requer também esperança e experiência. É meio que a mesma relação que muitos têm com Hillary Clinton.”

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A decisão da Suprema Corte só deve sair em junho – mas espera-se que seja favorável aos direitos LGBTs. Até lá, Republicanos vão continuar pisando em ovos, e Hillary Clinton, fazendo omeletes.

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5 comentários

Washington

Tomara que não ganhe. O maior feito dessa mulher foi ser esposa do Bill Clinton. Foi incompetente como secretária do Obama e esse caso todo do Estado Islâmico é, em parte, por incompetência dela. Aliada dos sauditas, que são über-homofóbicos. Essa engana somente os desavisados.

Kauê

Um sonho: Que a nossa Dilma fosse um pouquinho mais parecida com a Hillary nesse quesito.

Leon

Já que o Brasil está se afundando em imbecilidade, tomara que os EUA consigam promover melhor os direitos LGBT e o casamento igualitário. A gente costuma se espelhar em tanta coisa de lá, por que não se espelhar numa coisa boa, né?

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