Barack Obama declara apoio a leis contra “cura gay”

Em resposta a petição online, a Casa Branca se posicionou contra pretensas terapias psiquiátricas que prometem alterar a orientação sexual em menores

por Marcio Caparica

No começo de seu mandato, Barack Obama lançou um site, o We The People, para que os cidadãos dos Estados Unidos fizessem petições que, se alcançassem um certo número de assinaturas, receberiam respostas da Casa Branca. Ontem, em resposta a uma dessas petições, o presidente norte-americano declarou que vai trabalhar para que as terapias que prometem alterar a orientação sexual sejam proibidas para menores de idade.

Essa petição foi inspirada pelo suicídio da garota trans Leelah Alcorn. A jovem de 17 anos se jogou na frente de um caminhão depois de sofrer com o preconceito dos pais e ser forçada por eles a frequentar um desses “tratamentos”. Leelah deixou um bilhete suicida em seu tumblr, programado para ir ao ar depois de sua morte. Publicada em janeiro de 2015, a campanha “Enact Leelah’s Law to Ban All LGBTQ+ Conversion Therapy” (Decrete a Lei Leelah para banir toda terapia de conversão LGBTQ+, em tradução livre) explica como essas terapias de conversão não passam de tentativas de fazer lavagem cerebral em jovens, em sua maioria obrigados pelos pais a se submeterem a esses procedimentos de ética duvidosa, e como em sua maioria elas causam danos sérios à saúde mental desses adolescentes.

Mais de 100 mil pessoas assinaram a petição em menos de um mês, o que, segundo as regras do site, obriga o governo a dar uma resposta à questão. Essa resposta do presidente foi publicada ontem:

Essa noite, em algum lugar dos Estados Unidos, um jovem, um rapaz, digamos, vai sofrer para dormir, lutando sozinho com um segredo que vem mantendo desde que se conhece por gente. Logo, talvez, ele decidirá que é hora de abrir seu segredo. O que acontecerá a seguir depende dele, de sua família, e de seus amigos e seus professores e sua comunidade. Mas também depende de nós – do tipo de sociedade que geramos, e o futuro que construímos.

O resto da resposta, escrita por Valerie Jarrett, uma das principais assessoras de Obama, não deixa dúvida sobre o posicionamento do governo norte-americano: “nós compartilhamos sua preocupação sobre os potenciais efeitos devastadores [dessas práticas] sobre a vida de jovens transgênero, assim como de jovens gays, lésbicas, bissexuais e queer. Como parte de nosso compromisso em defender a juventude dos Estados Unidos, essa administração apoia os esforços para que se proíba o uso de terapias de conversão em menores.”

O jornal The New York Times aponta que Obama não proporá diretamente uma legislação que proíba que terapeutas submetam jovens a esses tratamentos, mas que o governo federal dará apoio a todas as legislações estaduais que proponham um fim a terapias de “cura gay”. Dezoito estados norte-americanos já contam com legislações que proíbem essas práticas.

O governo Barack Obama, nos últimos anos, vem implementando várias medidas em defesa dos direitos LGBT: proibiu qualquer tipo de discriminação por identidade de gênero ou orientação sexual em repartições federais, exigiu que prestadores de serviços federais tomassem as mesmas medidas, e acabou com a famigerada prática “Don’t Ask, Don’t Tell” (Não pergunte e não conte) nas forças armadas, que obrigava que soldados escondessem sua sexualidade. A administração também já experimentou criar um banheiro “para todos os gêneros” no edifício Eisenhower, onde trabalham vários funcionários da Casa Branca, em consideração a indivíduos transgênero que não se sentem confortáveis ao utilizar banheiros masculinos ou femininos.

Enquanto isso, a bancada evangélica quer eliminar direitos da população transexual.

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3 comentários

Ricardo

Acreditava que eram apenas duas nomenclaturas diferentes, para homossexuais, porém pude perceber que no texto são citados as palavras gay e queer. Qual é a diferença entre os termos?

Marcio Caparica

“Gay”, principalmente nos EUA, é utilizado para alguém que embarca na maioria dos comportamentos associados atualmente a homossexualidade: ter parceiros do mesmo sexo, ter a homossexualidade como parte importante de sua identidade. Por lá começa-se a usar “queer” para pessoas que adotam comportamentos diferentes dos que um heterossexual costuma adotar – usar roupas tradicionalmente do sexo oposto, não se identificar com nenhum dos gêneros, ou ter relacionamentos sexuais ocasionais com pessoas do mesmo sexo, por exemplo – sem no entanto se identificar com os rótulos gays.

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