Volta e meia alguém tem uma dessas ideias maravilhosas de como renovar tradições já desgastadas. O presépio parece algo já demodê, que não acompanha a evolução dos tempos? Que tal montar um com dois Josés, como fizeram os vizinhos da comediante norte-americana Cameron Esposito?
Our neighbors’ two Joseph nativity is up & I’m beaming ???????? pic.twitter.com/7OKbFLU7v1
— Cameron Esposito (@cameronesposito) November 24, 2017
“Nossos vizinhos montaram um presépio com dois Josés e eu fiquei radiante”, ela tuitou na última sexta-feira. A tuitosfera logo colocou a bola para rolar: “Cara, o nascimento de Jesus REALMENTE tornou-se um milagre agora”, brincou um; “Chegaram mais três reis magos, agora dá pra começar uma festa”, completou outro tuiteiro. Também não falta quem aponte que, para todos os efeitos, o menino Jesus tem mesmo dois pais, então esse presépio não está tão distante da versão bíblica.
Não é a primeira vez que alguém cria uma versão LGBT do Natal. No ano passado o site Zazzle.com viu-se obrigado a parar de vender enfeites de Natal que mostravam dois Josés e duas Marias depois de ser pressionado pelo grupo de fundamentalistas cristãos Christian Concern – que, entre outras coisas, defende terapias de “cura gay”. “Esses ornamentos são uma tentativa desesperada e ridícula de se fingir que relacionamentos homossexuais são puros e santos”, declarou Andrea Williams, porta-voz do grupo, para o jornal Mail Online.
Em 2012 um casal gay da Colômbia também causou polêmica em seu país depois de postar nas redes sociais uma foto de um presépio com dois Josés. Andrés Vásquez e Felipe Cárdenas moravam em Cartagena, e divulgaram a imagem para iniciar uma discussão sobre a questão do casamento igualitário no país. “Nós fizemos isso porque acreditamos na Colômbia. Já moramos em diversas cidades do mundo, e preferimos retornar a nosso país”, declarou Vásquez na época. “Estamos começando a construir um país melhor com nossa união.” As lideranças católicas da cidade consideraram isso tudo “um sacrilégio”.
Sempre haverá quem se ofenda com cenas “extremamente subversivas” como essa. Já ouço o coro daqueles que vão dizer que “se LGBTs querem respeito, devem antes aprender a respeitar”. A resposta, é claro, é que não há desrespeito nenhum: ser gay não é inerentemente mau ou ofensivo, e dois homens são tão capazes de amar e criar um filho, com dedicação e fé, quanto um casal heterossexual. A mensagem do Deus de amor que pobrezinho nasceu em Belém não é de forma nenhuma ameaçada por uma versão homoafetiva da cena de seu nascimento. Como acontece sempre que alguém derrama ódio e preconceito, o problema está dentro da pessoa que discrimina, não na situação em si.
Eu, de minha parte, já fiquei com vontade de copiar essa ideia.