Apesar de ambos lutarem pela igualdade e representatividade, muitas vezes o movimento LGBT e o movimento negro batem cabeça. O cantor Gê de Lima, o produtor Leo Carter e a atriz Fabiana Pimenta discutem essa semana as intersecções entre essas duas identidades no Brasil de hoje. “Representatividade é algo que nos falta muito”, considera Lima. “Onde você vê por aí um beijo gay entre dois negros ou duas negras? O beijo gay já é pouco mostrado, e quando ele é mostrado ele vem com um padrão de beleza”. Pimenta conta como o racismo, mesmo dissimulado, afetou sua autoestima: “Quando as pessoas não queriam ficar comigo eu pensava que era porque eu era feia. Depois eu descobri que era porque eu sou negra”. Os preconceitos acabam sendo internalizados: “Eu vi isso em mim e em muitos amigos, essa dificuldade de ficar com outros negros por não gostar do que vê no espelho”, admite Lima. Isso tem efeito além dos relacionamentos românticos, continua Carter: “A gente acaba acreditando que a gente está por baixo mesmo, e isso interfere nosso comportamento, nossas conquistas, as nossas próprias escolhas”. O racismo se manifesta com força também dentro do meio LGBT: “Eu já ouvi que ser lésbica não é coisa de negro”, espanta-se Pimenta. Lima concorda: “Já me disseram: ‘Um negrão desse, viado?’. Fetichizam muito o homem negro – a gente não pode nem ter pau pequeno”. Carter conclui: “Se você mede seu interesse por outra pessoa pela cor da pele, você é racista, não tem conversa.”
Episódios do podcast
Empretecer
Ativistas negros criticam a cultura LGBT: “nem o beijo gay escapa dos padrões racistas”
Podcast delicioso…
Mais um episódio maravilhoso do podcast. Sempre que vejo uns pretinho orgulhoso de quem são da vontade de abraçar, conhecê-los pessoalmente e trocar aquele afroafeto tão importante entre nós.
Quando fazemos a interseccionalidade dos temas raça e sexualidade, e logo de gênero, percebemos o quão necessário ainda se faz criar políticas públicas para se discutir esses temas cotidianamente e ruir com uma heteronormatividade opressora. Diferente, do que parte da população acredita, e aqui incluo LGBTs de classe média e alta em sua maioria brancos, o problema dos LGBTs atualmente não se resume a casamento e adoção, pois para parte dessa comunidade a aceitação de sua homoafetividade como algo normal tanto quanto uma expressão hetero ainda não chegou. O desconhecimento junto a campanhas lgbtfóbica acaba desencadeando uma série de violências físico-psicológicas.
Se pegarmos as lésbicas que são invisibilizadas e apenas socialmente aceitas quando são fetichizada por homens, mas quando é um casal de negras são prontamente rechaçadas. Se pensarmos que Pariah (https://youtu.be/pNRdxsTmV1U) não recebeu tanto destaque quanto Moonlight (https://youtu.be/9NJj12tJzqc), podemos ver que dentro dos grupos identitários as opressões ocorrem de forma distintas. E aliás esses dois filmes são exemplos de como a cultura pode influenciar para normatizar (ajudar na aceitação) lgbt negra e que incentivos públicos que abordem essas temáticas ajudam à diminuição da discriminação.
Como Beatriz Nascimento coloca no documentário Orí (https://youtu.be/DBxLx8D99b4) “é necessário a imagem para recuperar a identidade”. Em anos anteriores o negro só se identifica como tal no momento que sofria racismo, levando em conta as diferenças quanto ao colorismo. O que vem acontecido ultimamente é que a afirmação negra vem ressurgindo – ressurgindo, pois a luta organizada negra tem séculos de histórias, mas foi historicamente invisibilizada quando não cooptada e/ou diminuída como na Era Vargas – com mais força através da identificação cultural, e não mais tendo o racismo como marco identificador. O preconceito continua existindo e os processos de identificação são diferentes, mas há quem se veja negro por se identificar com determinados ritos e possuir características biológicas específicas, daí a importância de festas negras lgbt como a Batekoo (https://www.facebook.com/batekoo/). O cabelo é uma dessas características. Agora ele não pode vir como algo individualizado, pois o pensamento negro é calcado na ancestralidade, no resgate daqueles que já vieram e que aqui estão. É preciso que recuperar a sua história para que haja essa identificação, e até para se comportar como ente político negro. Como a Egna Cortês coloca de forma parecida (https://youtu.be/er_7eGssYno?list=PL7TPlcav5cfZOb8KZAbbGwJcqrPEtdO_z), se um pai branco pretende adotar um criança negra é imprescindível que aquele o coloque em contato com referenciais negros para se reconhecer e se entender.
E há uma complicação que dentro dos movimentos negros (o plural é proposital, pois são diferentes grupos com diferentes ideias) há pessoas que não aceitam lgbts. Falas como a do ator/diretor Nate Parker (http://www.newnownext.com/nate-parker-gay/08/2016/), de que interpretar gays “inferiorizaria homens negros”, ocorrem em menor grau no Brasil do que nos EUA, mas ainda são presentes o que afasta lgbts negros de participarem desses grupos. Os grupos devem estar conscientes disso para acolher a diversidade.
É preciso se empretecer, e digo isso não apenas para negros, mas para não negros entenderem as influências africanas que encontram no seu cotidiano. Claro, que os modo e os níveis como isso acontecerá para os diferentes grupos serão diferentes e deve ser feito com respeito as diferenças e pontos de partida.
Eu tinha muito mais coisa para falar sobre objetificação, amor afrocentrado e interracial, tonekinazação e outros assuntos, mas o comentário tá grande e pararei por aqui.
De referências, além dos já citados, do passado temos Frantz Fanon, Lelia Gonzales, James Baldwin, Abdias do Nascimento e Carolina de Jesus.
De atuais deixo o Murilo (https://youtu.be/7uefE3e8_ws), a Nátaly Neri (https://youtu.be/X_ebjb9Fhss), Djamila Ribeiro (https://www.facebook.com/djamila.ribeiro.1), Kat Blaquee (https://youtu.be/E17pNC7vl3c)
Então eu sou gay branco e tenho a obrigação de achar negros atraentes e tbm sou obrigado a me relacionar com eles mesmo não sentindo nenhum tipo de atração? Se negros são tão empoderados, pq precisam de validação de brancos? Pq precisam que brancos os achem atraentes?
Pior que nem tem vergonha de ser racista.
Desde quando eles se envergonham disso? É mais fácil eu me sentir envergonhado por eles.