A versão brasileira de Survivor, No Limite, deu adeus à grade da programação há muitos e muitos anos (felizmente?). Já nos EUA o programa continua firme e forte. O episódio que foi ao ar ontem contou com uma cena inusitada: na hora da votação para sair da ilha, um participante revelou ao mundo que o outro é um homem transgênero.
Survivor: Game Changers é a 34ª(!) temporada do programa, composta apenas por jogadores que já participaram de outras edições. Ontem, durante o conselho tribal, o competidor Jeff Varner perguntou para Zeke Smith, na frente dos outros survivors, “por que você não contou para ninguém que é transgênero?”. Sua intenção era mostrar que Zeke é um “mentiroso”, e assim manter-se no jogo. Não funcionou: os outros participantes votaram nele mesmo assim.
E, ao que tudo indica, votaram nele por causa da declaração. Os outros competidores repreenderam veementemente a atitude de Varner: “ninguém tem o direito de tirar ninguém do armário”, respondeu um participante; outro afirmou que a identidade de gênero de Smith só deveria ser discutida “quando ele se sentisse confortável para fazê-lo”.
Smith já havia participado da temporada anterior do programa, Survivor: Millenials vs. Gen X. Nas duas participações Smith declarou-se homossexual, mas não compartilhou a informação de que é um homem trans. Varner também é gay.
Num artigo para o site Hollywood Reporter publicado ontem, Smith narra o episódio sob seu ponto de vista: “eu me lembro do sorriso cruel nem seu rosto e o brilho em seu olhar quando [Varner] virou pra mim e gruniu, ‘por que você não contou para ninguém que é transgênero’? (…) Em Survivor, muitas coisas costumeiramente repreensíveis são permissíveis, mas há limites. Uma coisa é dizer que alguém escapuliu à noite para conseguir alguma vantagem. Outra coisa é inflamar os preconceitos contra uma minoria marginalizada”.
Ao dizer que Smith é “está mentindo” por não revelar sua identidade de gênero ao mundo, continua, “Varner fez uso de um dos estereótipos mais odiosos a respeito de pessoas transgênero, um estereótipo que muitas vezes é utilizado como desculpa para atos violentos e até assassinato”.
Nick Adams, diretor do programa de mídias transgênero do GLAAD, também se pronunciou sobre o ocorrido: “Zeke Smith, assim como outras pessoas transgênero como ele, não estão enganando ninguém quando vivem suas personalidades autênticas. Tirar uma pessoa transgênero do armário é perigoso e inaceitável. Mas é comovente ver o apoio que Zeke recebeu das outras pessoas em sua tribo. Momentos como esse provam que, quando as pessoas conhecem alguém transgênero, elas nos aceitam do jeito que somos.”