Vaticano tenta censurar filme gay na Itália – e ele vira campeão de bilheteria

Dona da maioria dos cinemas da Itália, a Igreja Católica deu a “Weekend”, de Andrew Haigh, as piores classificações indicativas, e fez de tudo para paralisar sua distribuição. Mesmo assim o longa-metragem de 2011 conseguiu altas bilheterias

por Marcio Caparica

O filme 45 anos, de Andrew Haigh, ganhou destaque esse ano com a indicação de Charlotte Rampling ao Oscar de melhor atriz. Nada mais natural, portanto, que o mercado de cinema tentasse aproveitar o burburinho para promover outros filmes do mesmo diretor. Foi o que quis fazer a distribuidora Teodora Film, da Itália: lançar no país o filme Weekend, sobre um romance gay. Não esperava, no entanto, enfrentar a oposição ferina do Vaticano a esse filme de 2011. A Igreja Católica não obteve êxito em sua tentativa de suprimir o longa-metragem, felizmente: nesse final de semana Weekend obteve altas bilheterias, apesar de classificações indicativas proibitivas e de ter sido excluído de várias salas de cinema.

Na Itália a igreja Católica é capaz de efetivamente banir filmes por todo país, não apenas por causa de sua influência sobre a população, mas também porque é dona de quase todas as salas de cinema italianas. No início do mês o Comitê de Avaliação de Filmes da Conferência Italiana de Bispos, órgão da igreja que avalia os filmes que serão exibidos nos 1100 cinemas de propriedade do Vaticano, classificou Weekend como “não aconselhável, inutilizável e escabroso (indecente ou libertino)”. Com essa classificação, o filme conseguiu ser exibido em apenas 10 salas.

weekend1_2039088a

O presidente da distribuidora Teodora Filmes declarou na época à AFP que “não há outra explicação que não um problema de homofobia na igreja. Eles decidiram que ele é inaceitável, que deveria ser censurado, e usaram seu poder para paralisar a distribuição. Normalmente, um filme como esse seria acolhido por vários desses cinemas. No entanto, há regiões inteiras, com cidades grandes como Florença, Bérgamo e Pádua que não conseguiram tê-lo exibido. E a única razão para isso é que os protagonistas são gays.”

Esse domínio sobre as telas vem desde a época em que o padre local tinha o poder de decidir os filmes que seu rebanho poderia assistir (é só lembrar da cena do padre censor em Cinema Paradiso). Hoje em dia, no entanto, censura desse tamanho é algo mais raro: o filme A Garota Dinamarquesa foi considerado apenas “problemático”, e Spotlight, sobre o abuso sexual cometido por padres católicos, foi marcado como “complexo”.

O tiro parece ter saído pela culatra. Apesar de disponível em poucas salas de cinema, proporcionalmente Weekend foi um sucesso, obtendo a maior rentabilidade dentre todos os filmes exibidos na Itália no último final de semana. Segundo dados da revista Variety, o filme de Haigh obteve ganhos de US$ 6221 por sala. O segundo colocado em rentabilidade, Divergente: Convergente, estava sendo exibido em 376 cinemas, obteve ganhos de US$ 4217 por sala. A Teodora Films tem razões para comemorar: no próximo final de semana, 21 salas exibirão Weekend.

Apoie o Lado Bi!

Este é um site independente, e contribuições como a sua tornam nossa existência possível!

Doação única

Doação mensal:

Um comentário

Lucas

Vergonha alheia do Vaticano. Essas classificações são tão ridículas.

Comments are closed.