Traduzido da entrevista de Alexa Tsoulis-Reay para a revista The Cut
KATE ELAZEGUI: A Emily deu à luz nosso primeiro filho, Reid, e eu pari o Eddie quatro dias depois, então nós temos dois meninos recém-nascidos.
EMILY KEHE: A gente começou a falar sobre ter filhos uns dois anos atrás. Eu achava que era importante estar casada antes de ter filhos. Eu queria fazer as coisas de uma maneira um pouco mais tradicional.
KATE: Pouco depois de a gente se casar, a gente começou a pesquisar clínicas de fertilidade. Eu me lembro claramente de nossa primeira consulta. Nós chegamos e eu anunciei, “Isso não é demais? Nós temos dois de tudo! Duas vaginas! Dois úteros!” Eu estava meio brincando. Mas eles levam tudo muito, muito a sério. A dra. [Hey Joo] Kang olhou para nós duas e perguntou qual era a nossa idade. Emily tem três anos a menos que eu, então na época ela tinha 36 anos. A dra. Kang virou para a Emily e disse “então quem vai engravidar é você”. É assim que eles raciocinam, estatisticamente. E isso me fez pensar: qual é o problema comigo? Quer dizer, faz parte da natureza humana achar que existe uma possibilidade.
EMILY: A Kate não tinha demonstrado interesse até então. Eu sempre senti que minha vida não estaria completa se eu não tivesse um bebê e eu sempre quis passar pelo processo de ficar grávida e dar à luz. Eu também estava ficando mais velha, então havia um pouco de medo de que a certa altura eu não conseguiria mais. Mas isso não é algo que eu pretendia negar a ninguém.
KATE: Emily ficou tão surpresa na noite que eu disse, “Eu quero muito tentar”. Só porque eu não tinha falado disso antes não quer dizer que eu não tinha vontade. É só que nunca – isso nunca foi colocado como uma decisão que eu teria que tomar. Mas quando a porca torceu o rabo, eu realmente fiquei preocupada que eu poderia me arrepender se não tentasse.
EMILY: Escolher o doador foi um processo divertido, mas estranho, meio como comprar online ou visitar um site de namoro. Você escolhe a cor, escolhe o tamanho, escolhe no que ele se graduou na faculdade. Nosso doador era um poeta, então ele escreveu um poema. Nós provavelmente sabemos mais sobre esse cara do que a gente sabe uma da outra. A Kate montou um fichário e então bolou um sistema de notas, deu um número de pontos para cada cara – sei lá, foi louco. A gente comprou um monte de esperma dele. O suficiente para ela e para mim. Custou mais que 10 mil dólares, uma quantidade maluca de dinheiro. Mas foi uma noite romântica: vinho e o laptop para comprar esperma.
KATE: Nós apelidamos o doador de Keanu porque a gente achou que ele se parecia com o Keany Reeves em suas fotos de bebê. Ele era um garotinho fofo, muito adorável. Ele é meio asiático, meio caucasiano. Depois que os bebês nasceram a gente brincava, “sem dúvida, ele tem os lábios do Keanu.”
EMILY: Depois disso, a Kate tentou engravidar por seis meses. Foi difícil. Todo mês você se enche de esperança.
KATE: É muito entediante; você faz exames de sangue para conhecerem seu ciclo, e basicamente fazem sonogramas quase todo dia por uma semana. Estão vigiando seus óvulos, literalmente medindo o momento em que eles acham que um vai ser liberado. Outra coisa, eu não sabia como tem mulheres com problemas de fertilidade. Quer dizer, nós não temos problemas de fertilidade, nós só somos lésbicas. A gente só não tinha um pênis. Mas encontrar as mesmas mulheres lá todos os dias – tantas mulheres na cidade de Nova York que estão tentando ficar grávidas e tendo dificuldades, é algo tão difícil de falar. É triste que não se consegue ser aberto sobre isso.
Eu sentia que o processo era clínico demais. Quando a gente entrou para ser inseminada, eu queria que fosse mais alegre. Coitada da dra. Kang, ela é uma mulher incrível e tão séria, Deus a abençoe, mas eu estava toda “Você pode me falar quando vai estar injetando o esperma lá? Porque eu escolhi uma música para ajudar, e eu quero tocá-la nesse exato momento.” Eu escolhi “Eye of the Tiger”.
EMILY: Depois de meses de inseminações, ela decidiu tentar uma última vez e partir para a inseminação in vitro. O plano de saúde dela tinha se esgotado, e a gente sabia que a gente ia ter que pagar pelo procedimento do próprio bolso. Era uma decisão muito importante, porque é muito dinheiro. Mas a gente sentia que tinha que tentar tudo. Quando a gente estava no meio do processo, a médica disse, “Bem, essa é a última tentativa da Kate, e provavelmente vai levar um tempo para a Emily conseguir…”
KATE: A gente ficou tipo, “Como assim? Você tá louca?” Acho que ela queria tanto que a gente tivesse algum resultado positivo, que ela basicamente propôs “Por que a gente já não começa com a Emily? Porque, como pode levar algum tempo, é melhor ela já começar, meio que já ir se empolgando.” Eu conversei isso com ela, tipo, “E se nós duas ficarmos grávidas?” E ela disse, “Ah, a probabilidade disso acontecer é tão pequena”. Não sei por que, a gente só falou “Ah, ok”. Eu já tinha tentado por tanto tempo, e a Emily meio que queria tentar, ela só queria saber que ela conseguia ficar grávida. A gente estava tão impaciente.
EMILY: Então eu fui lá pela primeira primeira vez só pra ver como funciona: os exames de sangue e sonogramas, estabelecer os níveis de hormônios, descobrir que tipos de folículos você vai ter que produzir por si mesma. Na primeira vez, a Kate teve que ser inseminada duas manhãs seguidas. Para mim, nessa primeira vez, a médica só pediu que eu fosse inseminada um dia porque ela queria ver o que ia acontecer, e foi isso, eu só fiz uma vez.
KATE: A gente não fazia ideia de como ela é fértil. Emily é o ícone da maternidade. O corpo dela foi tipo, cabum! A dra. Kang nos ligou duas semanas depois e disse, “Eu não esperava que isso acontecesse. Você está grávida”. Esse dia foi, ao mesmo tempo, completamente incrível e muito triste para mim. Eu não contei isso para a Emily, mas eu me sentia muito triste por dentro. Isso foi uma parte que eu não podia realmente compartilhar com ela, porque eu não queria diminuir a alegria e eu não queria que ela se sentisse culpada. Eu queria estar feliz, e estava feliz por nós duas. Nós ligamos para nossa família, e os pais e os irmão dela. A parte mais difícil foi que eu ainda estava no meio do ciclo, ainda estava tomando remédios, ainda estava me dando injeções, e aqui estava minha esposa, que conseguiu engravidar sem qualquer ajuda. Ela engravidou de primeira.
EMILY: Eu fiquei com um pouco de culpa. Isso não mudou como as coisas foram, porque obviamente eu sabia como ela estava feliz, mas eu me senti meio mal porque foi tão fácil pra mim. Kate estava no meio de seu ciclo da fertilização in vitro, então não fazia sentido que ela interrompesse, e eu estava grávida fazia apenas duas semanas – podia acontecer qualquer coisa. Eu poderia perder o bebê. Vai saber!
KATE: Então eles colheram meus óvulos. E escolheram um esperma das centenas de milhares. Eles escolheram o melhor do grupo e o colocaram numa placa de petri, e ficaram esperando para ver se o óvulo era fertilizado. Muitas vezes, não é. A parte mais difícil é ficar esperando a ligação. A dra. Kang me ligou e disse “tenho ótimas notícias”. Dos cinco óvulos que eles extraíram de mim, três haviam sido fertilizados! Esse também é o momento em que se tem que tomar uma decisão difícil: quanto mais colocarem em você, maior a chance de ficar grávida, certo? Mas lembre-se, você pode ter gêmeos. Eu tenho 1,55m de altura e 48kg. Ela me disse no começo “Eu não vou colocar mais que dois dentro de você”. Porque ela não achava que eu aguentaria mais que isso. Mas naquela manhã, ela me sugeriu que os três fossem inseridos. Ela realmente queria que eu ficasse grávida. Ela não me disse isso, mas eu sabia que ela queria me dar todas as chances. Também acho que, como a Emily ficou grávida, ela não queria que eu ficasse triste.
EMILY: Exatamente três semanas depois de descobrirmos que eu estava grávida, Kate me ligou no trabalho e disse, “Adivinha!”. Eu caí da cadeira. Eu sentei no chão, e fiquei alternando entre risadas histéricas e choro convulsivo. Foi tão intenso. Quer dizer, claro, eu estava feliz por ela, mas assim, caramba, o que a gente vai fazer? Meu colega de trabalho bateu na minha porta e perguntou se eu estava bem. “Você está rindo ou chorando?” Eu respondi “Um pouco dos dois”. Eu estava jogada no chão.
KATE: Na hora a gente pensou, “Deus do céu, a gente deu um passo maior que a perna. Não dá pra gente morar num apartamento de um quarto só com dois bebês!”. A gente ligou para um corretor de imóveis e fomos para Maplewood, New Jersey – a gente tinha lido que esse era um lugar progressista – passamos um dia dando voltas de carro com o corretor, e demos lance numa casa.
EMILY: Eu adorei ficar grávida. Foi muito fácil para mim. Eu me senti bem, eu estava muito feliz. Eu não tive qualquer tipo de problema além de que meus pés incharam tanto que eu não tinha mais sapatos que me servissem. tudo foi muito fácil para mim, e nada foi fácil para ela. Eu tive que me esforçar para não me sentir mal com isso porque eu não quero ficar com pena dela. Não é que eu não sinto por ela, é claro que me preocupo muito, mas eu não queria que essa emoção fosse parte de nossas gestações. E eu não queria sentir que não deveria ter uma gravidez incrível porque sentia algum remorso.
KATE: O lado bom e o ruim de ter sua esposa, outra mulher, passar a gestação, o parto e o início da maternidade ao mesmo tempo que você é que não dá pra não comparar. Minha gravidez tinha por volta de três semanas a menos que a dela. Ela passava por alguma coisa e então, algumas semanas mais tarde, eu passava pelo mesmo. Havia coisas que eram muito parecidas e daí outras que eram tipo, “epa, peraí, por que é que meus mamilos estão desse jeito e os seus estão diferentes?”. Eu não quero soar amargurada, porque não sou, mas parecia que eu sempre me dava mal. Ela adorava estar grávida, e eu não curti nada da minha. Durante toda a gestação eu tive muito mais complicações. Eu tive diabetes gestacional. Eu ficava preocupada. Eu ficava ansiosa. Eu tive que fazer dieta. Eu tive que me exercitar.
Isso posto, a gente não reclamava muito uma para a outra. Acho que o clichê da gravidez é que a esposa reclama o tempo todo. Mas pra quê? Você reclama porque quer atenção. Você quer que a outra pessoa diga, “Ah, amor, eu vou cuidar de você”. Não dava pra gente fazer isso. Não restava energia pra ficar se compadecendo. O lado bom era que nós duas sentíamos as mesmas coisas, nós tínhamos alguém que entendia, mas não havia alguém que ficasse com pena. Havia empatia, mas zero pena. Não tinha nada tipo “ô, benzinho. Senta aí que eu vou fazer uma massagem nos seus pés”. Porque, cara, meus pés também estão precisando de massagem.
EMILY: Claro que havia momentos em que se pensava, Deus do céu, como seria bom ter alguém para erguer essas caixas. Nessa hora, um marido de aluguel viria bem a calhar. Meus irmãos vinham para dar uma força, assim como a mãe e a irmã da Kate, mas para as coisas do cotidiano – as duas ficavam “ai, que canseira, como eu queria que tivesse alguém pra cozinhar pra gente”. Havia momentos em que seria bom se uma das duas não estivesse grávida. Mas a camaradagem, ter alguém que entende exatamente pelo que você está passando, é incrível. Estávamos realmente no mesmo barco. Se a gente estava numa festa e dava nove da noite, eu virava e dizia “meus pés estão doendo, vamos embora?”, e ela respondia “sim, meus pés também estão doendo”.
KATE: Pelo oitavo, nono mês, nós duas estávamos tomando muito cuidado uma com a outra. Nós duas estávamos com os hormônios à toda, e sem dúvida havia momentos em que a gente enlouquecia. Se havia alguma discussão, ela era multiplicada por dez. Geralmente, eram questões de família. Nós não ficávamos bravas uma com a outra de verdade, nós ficávamos bravas com as situações, e não conseguíamos controlar muito.
EMILY: Dez dias depois da data prevista para o parto, nada acontecia, eu estava tão frustrada, e enorme. Nós só ficávamos sentadas, esperando o bebê chegar. Havíamos feito alguns planos. Kate escreveu o passo a passo num caderninho. Por exemplo, quando Emily entrar em trabalho de parto, ligar para a doula, etc. Nós tínhamos uns 24 planos diferentes: e se acontecer de manhã? E se acontecer na hora do rush? Se for dia de semana, nós vamos para o hospital assim que as contrações começarem, para não ficarmos presas no trânsito? Mais que um “plano”, nós tínhamos opções.
KATE: Eu fui tão caxias no que se referia a deixar as malas prontas. Eu tinha dois de tudo – se a gente entrasse em trabalho de parto ao mesmo tempo, como ia ser? Bola de ioga, travesseiro, garrafa d’água – tudo que se sugere, a gente tinha. Emily dispunha de uma doula, porque eu estava super preocupada que não seria capaz de ajudá-la fisicamente. Eu tinha medo de que não teria forças. Ouvimos tantas histórias – pode-se passar 18 horas em trabalho de parto – e eu sabia que eu não seria capaz de lidar com isso. Emocionalmente, isso fez com que eu ficasse mal. Isso realmente é parte da parceria, dar apoio quando sua esposa está dando à luz.
EMILY: Minha médica disse que, se o bebê não nascesse até dia 9 de dezembro, eles teriam que induzir o parto. Eu não queria mesmo que ele fosse induzido. Eu queria com todo o coração que tudo acontecesse naturalmente. Daí, na manhã do dia 9, eu acordei, senti as contrações, e pensei que a bolsa tinha estourado.
KATE: O pai dela nos levou de carro até o hospital, com a doula. Eu fiz de tudo para que ela tivesse qualquer coisa que fosse necessária. Emily foi incrível. Ela encarou 19 horas sem anestesia epidural.
EMILY: Por volta das 11 da noite, eu não aguentava mais, e pedi a anestesia. Eles responderam, “OK, você já dilatou 5 centímetros, e vai dilatar mais um centímetro por hora, então o bebê deve nascer às 5 da madrugada de amanhã. É bom você dormir”. Então deixamos todos irem para casa.
KATE: Ficamos só eu e Emily. Nós baixamos as luzes e pensamos, Vamos ficar deitadas aqui, quietas, por algumas horas. Eu perguntei se ela queria usar o balão inflável em forma de amendoim, que se coloca entre as pernas para ajudar a dilatar. Eu levantei devagar e peguei o balão. Nós estávamos conversando. Emily não estava sentindo dor. E daí nós passamos um momento em silêncio juntas, rezando. Eu rezei, Dê a ela força e coragem, permita que esse parto seja saudável. Eu disse “amém” e, nesse momento, a médica entrou. Ela foi ver como estava Emily, e disse “Estou sentindo a cabeça”. Bem agora? Não tem ninguém aqui! Era só a gente. O tempo todo eu estava preocupada que não ia conseguir ajudá-la a parir o bebê. Mas a doula não estava lá, então eu segurei a perna dela e ela empurrou, e eu contei em voz alta para ela, e na terceira vez que ela empurrou, eu conseguia enxergar a cabeça.
EMILY: Ele saiu em 9 empurrões – nasceu com quatro quilos. Foi tão calmo, só tinha a gente lá, foi um momento de paz. Acho que era bem como eu queria, apesar de não saber na hora que queria isso.
KATE: O regulamento não permitia que ninguém mais passasse a noite no hospital a não ser que você tenha um quarto particular, e nós não tínhamos, porque custa 900 dólares por noite. Mas ninguém me mandou ir para casa porque eu estava grávida. Ninguém me causou problema, eles diziam aquela outra mãe está grávida!
EMILY: Nós passamos dois dias no hospital. Reid estava plenamente saudável, e eu estava me recuperando bem. Por causa da nossa situação incomum – Kate estava comigo no hospital, dormindo numa cadeira! – deixaram que a gente fosse embora um pouco antes da hora, porque seria mais confortável que a gente ficasse em casa. Então fomos para casa e ficamos lá por um dia. Eu NÃO tinha dormido. Dizem que seus hormônios não deixam você dormir muito, e isso é verdade, eu não dormi. Eu acho que havia dormido apenas três horas desde que dei à luz. A gente tinha passado um dia em casa, minha mãe estava com a gente, já era de manhã, eu estava amamentando Reid quando a Kate entrou no quarto, por volta das oito da manhã, e disse “acho que minha bolsa estourou”. Eu só consegui pensar, Cê tá de brincadeira. Depois que você deu à luz, parece que um caminhão passou por cima de você. Tá tudo doendo, você está cheia de pontos, seu útero está dolorido. Mas na hora tudo isso foi embora. Eu acordei. Nada mais doía. A gente partiu para a ação. Fizemos as malas, colocamos tudo no carro e eu fui dirigindo até o centro. Eu confiava mais na minha direção que na de qualquer outra pessoa.
KATE: Foi tipo uma corrida de revezamento. Pra ser sincera, eu acho que fiquei tão agitada durante o parto dela que foi o que iniciou o meu trabalho de parto. Minha mãe e minha irmã estavam vindo para conhecer o Reid. Eu liguei e disse “melhor vocês irem direto para o hospital, porque, tipo assim, estou em trabalho de parto!”.
EMILY: Reid dormiu na sala de espera no colo da mãe da Kate o tempo todo. Foi difícil me separar dele. Volta e meia eu saía para ver como ele estava, mas eu também sabia que era muito importante estar ao lado da Kate. Kate passou duas horas e meia fazendo força, para ela foi mais pesado. Eu tentava ajudar fisicamente, mas ao mesmo tempo era muito difícil para mim fazer essas coisa, porque eu havia dado à luz três dias antes. Então a irmã dela se encarregou da parte mais física. Acho que foi mais difícil para a Kate, porque ela tinha acabado de ver como era, e daí teve que passar pela mesma coisa.
KATE: Minha mãe já havia me dito: se prepara, porque provavelmente seu parto não vai ser como o da Emily. Além disso, eu superestimei a energia que Emily teria para ajudar. Meu parto foi muito mais difícil, e exigiu muito mais força e respiração e tudo mais, e ela não conseguia me ajudar tanto porque ela tinha acabado de dar à luz. Em certo momento durante o parto eu disse, “dá pra você só ficar falando comigo e ir para o lado, e deixar minha irmã me ajudar?”. Acho que ela ficou meio magoada.
EMILY: No meio dela estar fazendo força, eu olhei para minha camiseta e percebi que o leite tinha descido. Eu estava vazando, a parte da frente da minha camisa estava toda encharcada. Não tinha muito o que fazer na hora.
KATE: Eles estavam com medo de que eu teria que fazer uma cesariana, porque estava demorando tanto, e eu já tinha uma gravidez de risco. Eu estava ficando muito cnsada, e finalmente a médica disse, “ok, vamos desligar a epidural”. Eu estava tendo dificuldades para empurrar, porque não sentia nada. Eu não sabia onde me concentrar. Empurra. Assim eu consegui colocar o bebê para fora. Houve algumas complicações: o cordão umbilical estava muito perto do pescoço.
EMILY: O cordão estava colado na cabeça dele e ele estava azul. Foi a coisa mais aterradora que eu já vi. Tentei disfarçar a minha expressão facial, porque eu estava apavorada e não queria que Kate visse, mas pegaram ele na hora e correram com ele para a incubadora, e chamaram a UTI neonatal. Ele era tão pequenininho.
KATE: Em poucos minutos eu ouvi o choro do bebê, e sabia que isso era um bom sinal. Cinco minutos depois, eu estava pegando ele.
EMILY: Depois que tudo se acalmou, eu fui para o quarto de hospital com o Reid, e nós queríamos apenas ficar lá. Eu tinha certeza que nós quatro poderíamos passar a noite no hospital. Tudo que eu queria era sentar na poltrona e ninar Reid até que ele dormisse, e ver Eddie dormir em seu bercinho. Eu passei horas imaginando essa cena. Apenas nós quatro, finalmente formando nossa família. Mas a enfermeira chegou e disse, Você pode ficar, mas o bebê não pode passar a noite aqui. As regras do hospital não permitem que crianças que não são pacientes fiquem no quarto. Mas na noite anterior ele tinha sido um paciente, era uma situação especial. Mesmo assim, tivemos que ir embora. Eu tive que pegar o Reid, sair e voltar para o carro. Era meia-noite. Nessa hora, os hormônios tomaram conta, e eu fiquei superemocional. Era como se toda a dor física, cansaço, e hormônios voltassem todos de uma vez no carro, a caminho de casa. Mas na manhã seguinte nós voltamos, e ficamos só os quatro no quarto. Toda a parte de incerteza havia passado. Passamos meses e meses sem saber direito o que ia acontecer. Quando acabou, não importava mais como isso tinha acontecido. Tinha tudo acabado, e nós tínhamos filhos saudáveis. Nós conseguimos.
KATE: Eu estou tendo mais dificuldades para amamentar – claro! Que surpresa, meus peitos são uma farsa. Eddie não estava conseguindo tomar leite o suficiente, mas o Reid já está gordinho. O médico e a orientadora de amamentação me disseram que eu vou ter que complementar com fórmula. É difícil de escutar quando, bem a seu lado, você vê uma mãe que está amamentando com a maior facilidade. Emily tem leite aos montes. Sem brincadeira, ela bombeia e, em cinco minutos, ela já encheu duas mamadeiras. Eu pego a bomba e consigo 30 ml. É tão triste. Você tem que levar na esportiva, senão fica deprimida. Eu fico pensando: Por que é tão mais difícil pra mim? Mas é incrível que ela consegue amamentar o Eddie quando eu não consigo. Ela consegue estabelecer um vínculo com o Eddie muito melhor do que eu consigo com o Reid. Ela dá o peito par ao Eddie três a quatro vezes por dia. Ele está se apegando a ela. Ele a conhece. Para mim e Reid, é mais difícil. O sofrimento de uma mãe que não tem leite! Eu tenho que amamentar, dar o suplemento, e daí usar a bomba. É um processo de 45 minutos a cada duas horas. Eu não tenho descanso. Mas eu quero conseguir amamentar os dois bebês. Acho que há um sentimento de culpa dos dois lados, mesmo se a gente não fala sobre isso. Eu sinto culpa de que ela tem que pegar para si essa responsabilidade. Acho que ela se sente um pouco culpada porque ela consegue fazer isso com tanta facilidade e tem prazer nisso. Eu me sinto um pouco inadequada. Mas, de novo, eu tento encarar isso com senso de humor.
EMILY: Como eu consigo amamentar os dois, eu tenho muito tempo sozinha com cada um deles, e me sinto igualmente ligada a ambos. Obviamente, é um pouco diferente com o Reid, porque ele é meu, biologicamente. Acho que eu olho para ele e digo, Eu que fiz! Assim, Eddie é A CARA da Kate, sério, ele é uma versão miniatura dela. Ele parece muito asiático, e o Reid é muito branco. Dá pra perceber quem é o filho de quem. Os garotos têm personalidades opostas. O Eddie é uma flor delicada, e o Reid é como um garotão. Ele tem 1,5 kg a mais, o que é uma diferença enorme entre bebês – nem parece que eles têm a mesma idade. Reid tem gases, e arrota que é uma beleza. Ele fica socando o ar o tempo todo. Ele é meio mano. O Eddie é essa alma antiga e calma. Vai ser interessante conferir se essas são mesmo as personalidades deles. Reid dorme quatro horas direto, Eddie só dorme uma. Além disso, o Eddie tem quase um mês a menos, apesar deles terem nascido com quatro dias de diferença. Ele ainda tem três semanas e meia a menos de desenvolvimento.
KATE: Seu instinto materno manda tomar conta do bebê que você deu à luz. Sem dúvida é um desafio me conectar com os dois. Intelectualmente, nós temos que nos lembrar que tem outro bebê. Claro que eu amo o Reid, mas eu passo muito mais tempo com o Eddie porque estou amamentando-o. O que acontece é que você se liga ao bebê que você pariu, porque não tem jeito, e daí você olha pro lado e se lembra que tem outro. Você tem que se lembrar que ele também é seu filho. Esse sempre foi meu medo. Porque ter filhos ao mesmo tempo não permitiria que os dois pais passem o tempo necessário com os dois filhos para se conectar aos dois. Acho que nós esperávamos ter um mês com o Reid e daí, quando o meu nascesse, nós passaríamos mais tempo com o Eddie. Espero que isso se dissipe, mas você tem que combater o favoritismo que começa a surgir. Na verdade, essa não é bem a palavra. Não é uma questão de favorito. Você dá preferência para um porque sua função foi gestá-lo por nove meses. Pessoalmente, para mim, é difícil tomar conta de dois bebês. Então eu não passo tanto tempo como Reid.
EMILY: A gente se reveza com tarefas como lavar roupa, cozinhar, esse tipo de coisa. A gente divide. A mãe da Kate ficou por aqui um tempo, então contamos com um pouco de ajuda. A mãe dela fez um monte de comida e colocou no freezer, e lavava a roupa. Foi um turbilhão de alimentar e dormir e tentar tomar banho. O único jeito da gente saber se é dia ou noite é se orientando pelos horários que eles dormem. Nós duas tentamos tirar cochilos durante o dia, e nos revezamos à noite. Reid não se alimenta com tanta frequência e dorme por períodos mais longos, já Kate tem que amamentar o Eddie a cada duas horas e meia. Ela dorme por períodos menores e tira mais cochilos. Quando consigo, amamento o Eddie para que ela durma por mais tempo. Todas as noites, às sete horas, decidimos o que vamos fazer: você prefere dormir agora, e eu faço a janta, e você pega o batente a tal hora? Nós negociamos e improvisamos. Eu também sei que as coisas são simplesmente assim agora. Eu sei que eu vou me sentir assim pelos próximos anos – então melhor já me acostumar.
KATE: Acho que como nós tivemos nove meses de trabalho de equipe, nós sabemos como ler uma à outra. Eu sei quando Emily está mais cansada que eu. Ou de repente ela diz, “eu estou com mais pique, eu vou fazer a janta”. Nós passamos nove meses assim. Eu não consigo nem pensar como seria se ela tivesse que voltar para o trabalho e eu ficasse em casa com os dois bebês. Eu ia enlouquecer. Eu trabalho duro, mas esse é o trabalho mais pesado que eu já fiz. Para mim, isso só deixa claro como o trabalho da maternidade é absurdo, e como é errado que os homens não saem de licença. É um trabalho de equipe, caramba. Eu não sei como as mulheres fazem quando seu marido tem que voltar para o trabalho depois de duas semanas, e elas ficam sozinhas com o filho. O pai deveria ter tempo para se conectar com o bebê, e a mãe não deveria sentir que é obrigação dela fazer tudo. Se a Emily fosse um homem e eu tivesse dificuldades na hora de amamentar, e ficasse sozinha em casa, eu ficaria muito deprimida. Isso me fez perceber como as coisas são difíceis para as mães. Pelo menos, com eu e Emily – claro, dois bebês é bastante – mas nós temos quatro tetas, duas mães, e temos a mesma licença maternidade. Nós duas sabemos que podemos nos ajudar. Minha melhor amiga está nessa comigo.
EMILY: Nós duas ficamos de licença até março, o que é ótimo. Nós duas estamos procurando uma babá, se possível alguém que possa morar com a gente, mas se não for possível, tudo bem. Começamos a busca agora, nós duas temos que voltar a trabalhar em período integral. Em certos momentos, a gente pensa que seria tão mais fácil se houvesse apenas um bebê – quando as pessoas reclamam de ter um bebê, eu penso Rá, um bebê só? – mas não trocaria isso por nada. Claro, as gestações talvez fossem um pouco mais relaxantes se uma de nós não estivesse grávida, mas outro dia eu estava pensando nisso: eu nem me lembro mais como era estar grávida. Eu não lembro da sensação. Acho que eu me lembro que eu adorava dormir, mas é a única coisa. Mas acho que é porque eu durmo tão pouco agora, que a ideia de dormir é o paraíso.
KATE: Semana passada mesmo a gente percebeu que faz seis meses que a gente não consegue se abraçar ou dormir pertinho uma da outra! Na verdade, foi bem estranho conseguir realmente se abraçar na cama de novo. Faz só dois anos que nós estamos casadas, mas acho que isso criou uma intimidade mais rapidamente que casais que estão casados há muito mais tempo. O mais importante é que nós dominamos a arte de permitir que apenas uma surte de cada vez.
EMILY: Assim, eu não fiquei grávida de outra maneira, então não tenho como comparar, mas acho que é um jeito bem bacana de ficar grávida. Nós não vamos repetir a dose! Quer dizer, eu brinco, “Ah, quem sabe quando a gente tiver mais um…” Mas NÃO, assim já está bom. Nós temos uma família agora. Só damos conta de dois garotos.