Centenas de milhares de pessoas participaram de protestos por toda Itália no último final de semana (23 e 24) em prol dos direitos LGBT, devido a preocupações crescentes de que um projeto de lei que pretende legalizar as uniões civis entre casais homoafetivos possa não ser aprovado na última hora. Este projeto começará a ser debatido pelo senado italiano na próxima quinta-feira, e não há garantia de que o governo de esquerda do primeiro-ministro Matteo Renzi conseguirá reunir os votos necessários para que ele seja aprovado. A votação no senado será realizada em voto secreto.
Atualmente a Itália é o único país da Europa Ocidental que não reconhece uniões civis nem o casamento homoafetivo. Fabrizio Mattarazzo, um dos principais ativistas pelos direitos LGBT da Itália, atuando no grupo Arcigay em Roma, declarou ao jornal britânico The Guardian: “Esperamos que os políticos vejam que esta lei não beneficia apenas as pessoas LGBT, mas todos os italianos. Nós não temos mais tempo. Em outras partes da Europa isso já aconteceu há dez anos.”
Seguindo o mote de que já deu a hora dos direitos civis igualitários chegarem à Itália, os manifestantes foram de relógios despertadores nas mãos às ruas de Roma, Milão, Florência, Nápoles, Palermo e por volta de 90 outras cidades no país. Se o projeto for aprovado, casais heterossexuais e homossexuais serão reconhecidos pelo Estado, e casais homoafetivos poderão compartilhar o mesmo sobrenome. Ela também permitiria que casais homossexuais adotassem em conjunto o filho biológico de um dos membros do casal.
A oposição conservadora programou protestos contra a medida para o dia 30 de janeiro, em um evento que foi batizado de “dia da família”. Os políticos que se opõem à união civil estão tentando adicionar cláusulas ao projeto que podem sabotar sua aprovação, como uma medida que condenaria à prisão casais homossexuais que contratem mulheres de outros países para servirem de barriga de aluguel.
A influência do Vaticano sobre esse debate na Itália não pode ser desprezado. Apesar de aparentemente mais progressista quanto à maneira que trata a população LGBT, na última sexta-feira o papa Francisco declarou que “não pode haver qualquer confusão entre a família que Deus quer e qualquer outro tipo de união. A família, fundada no matrimônio indissolúvel que une e permite a procriação, é parte do sonho de Deus e de Sua Igreja para a salvação da humanidade.”
Em julho, a Corte Europeia dos Direitos Humanos decidiu que a Itália era culpada de violar os direitos humanos, por não oferecer proteção legal adequada ou qualquer outro tipo de reconhecimento a casais homoafetivos. Essa decisão aumentou a pressão para que o país aprove a união civil.