5 conselhos para cerimônias de casamento homoafetivo

5 conselhos para sua cerimônia de casamento homoafetivo

O dia de trocar alianças deve ser um dos mais feliz do casal - e LGBTs têm a oportunidade e privilégio de recriar a cerimônia sem se prender às tradições. Não precisa nem de alianças, se não quiserem

por Marcio Caparica

Traduzido e adaptado do livro Modern Brides & Modern Grooms: A Guide to Planning Straight, Gay, and Other Nontraditional Twenty-First Century Weddings, de Mark O’Connel

O casamento entre pessoas do mesmo sexo está acontecendo em números cada vez maiores, e, consequentemente, o número de cerimônias de casamento homoafetivos também está disparando. Ao contrário dos casais heterossexuais “tradicionais”, casais homoafetivos não têm modelos ou moldes para orientá-los na hora de planejar suas bodas. A seguir eu vou compartilhar algumas ideias – algumas resultado de minhas próprias vivências – para se navegar esse território inexplorado do casamento homoafetivo, todas muito úteis para qualquer casal (homo ou hétero) que deseja celebrar sua individualidade mais do que se preocupar com as tradições.

Os desafios do seu casamento são na verdade oportunidades

Sem um GPS de séculos de casórios para orientá-los, o casal de pombinhos se vê forçado a fazer os seguintes questionamentos:

  1. O que vai ser feito?
  2. Por que você vai fazer isso?
  3. Como vamos fazer isso acontecer?

Casais homoafetivos nunca tiveram o luxo de poderem dormir no volante de seus relacionamentos e casamentos. Acho que a razão disso é terem sempre sido forçados a lutar para serem reconhecidos como válidos e enfrentarem tantas adversidades. Então, casal homo – e casal hétero que deseja fugir das tradições -, veja esses desafios na hora de conceber sua cerimônia como oportunidades para criarem uma celebração com significado verdadeiro, do jeito que mais agrada os dois.

Adeque os convidados a sua história, não sua história aos convidados

Reúna um grupo de pessoas para seu casamento que faça vocês se sentirem como vocês mesmos. E dispense qualquer pessoa que possa comprometer seu evento com o que eu chamo de “Preconceito Abertamente Tóxico”: aquela necessidade perniciosa e insistente de fazer sentirem vergonha aqueles que ele não compreende. Qualquer pessoa que sofra de PAT não tem lugar em seu casamento.

Ao se tornarem donos de sua lista de convidados, vocês também ganham o poder de trazerem os presentes para dentro de seu mundo, sob suas condições. Por exemplo, quando algum familiar escorregar e chamar seu evento de “festinha”, lembre-o de como esse dia é importante para você, como é importante que o evento seja chamado de “casamento”, e como é significativo que você decidiu compartilhá-lo com esse familiar.

Personalize, reescreva, ou crie novos rituais

Você tem o privilégio de considerar quais são os rituais de que você gosta, quais você não gosta, e quais têm como raiz a tradição de tratar as noivas como se fossem uma propriedade que está mudando de mão (muitas, muitas mesmo). Você pode então decidir quais desses rituais conta sua história, se é que algum faz isso. Se nenhum deles se encaixar na cerimônia de vocês, sempre pode-se criar seus próprios, e celebrar seu casamento à sua própria maneira.

Alguns exemplos:

O pedido: você pode repetir o pedido de casamento “tradicional”, com um dos membros do casal fazendo o pedido ajoelhado. Ou pode-se criar um pedido todo original só para vocês. Dá pra escolher quem vai fazer o pedido, quem vai aceitar o pedido, ou se os dois vão ocupar os dois papéis. Por exemplo, eu e meu marido bolamos a Semana do Pedido de Casamento: passamos uma semana de miniférias, deixando combinado de que íamos fazer pegadinhas de quase-pedidos de casamento durante vários jantares e passeios, até que, espontaneamente, o pedido aconteceu de verdade. Ao invés de trocarmos alianças, nós fizemos um videozinho simbólico com as pessoas mais importantes de nossas tribos, e depois enviamos esse vídeo para essas pessoas. Serviu para anunciar nosso noivado, e para todos já deixarem reservada a data da festa.

Festas: Façam um chá de cozinha, despedidas de solteiros(as), ou qualquer outra festança pré-casamento que vocês quiserem. Seja o que for que vocês fizerem (sei lá, aula de confeitaria, degustação de vinhos, circuito de bares, ou bungee jump), façam questão de se divertirem, e certifiquem-se de que a festa simboliza o que cada um de vocês é, independente da(o) futuro(a) noiva(o).

Padrinhos e madrinhas: Falando de festas, a escolha de quem vai acompanhar vocês no grande dia é totalmente sua, sem qualquer obrigação de cumprir os protocolos do binarismo de gênero. Isso significa que, ao contrário de inúmeros noivos do passado, vocês podem escolher padrinhos e madrinhas ou seja quem for para sua cerimônia de casamento sem ligar para regras opressivas tipo “meninos de um lado, meninas do outro” ou obrigação de formar casais.

A cerimônia: Você também não precisa se sentir obrigado a deixar de lado todas as tradições. Se algum aspecto de costumes sedimentados inspirar vocês, sigam em frente. Eu e meu marido, por exemplo, crescemos os dois dentro de famílias católicas, frequentando igrejas, e apesar de não sermos mais religiosos, queríamos esse tipo de estética durante a cerimônia. Escolhemos textos clássicos que refletiam histórias como as nossas – retirados de Gilgamesh e Platão – e músicas que soavam sacras mas vinham de nossas coleções pessoais, de Philip Glass a Sinéad O’Connor. Nossos convidados não faziam ideia de que nada daquilo era bíblico, e tiveram a oportunidade de refletir sobre nosso amor.

A festa: Vocês são obrigados a amassarem o bolo um na cara do outro? Não. Não façam nada que não quiserem. Se quiserem abrir a pista de dança, vão em frente: com música rápida, música lenta, apenas os dois, ou todos os convidados ao mesmo tempo. E se vocês quiserem dançar com seus pais, por que não dar aquele passinho a mais e dançar com o parceiro do mesmo sexo?

Seu casamento é uma performance

Não fiquem com medo de tomarem seus lugares sob os holofotes. Esse é seu dia, e vocês têm mais que aproveitar.

Dito isso, é bom vocês se prepararem para a hora do show como atores se preparam para uma peça. Permitam-se sonhar acordados sobre cada etapa do casamento. Fantasiem sobre a atenção que vocês vão receber a cada passo, e como vai ser bom absorver isso tudo. Quanto mais vocês estiverem preparados para receberem essa atenção, mais vocês vão curtir e mais seus convidados vão se divertir. Confiem em mim.

Outra coisa, não se incomodem com a possibilidade de algum parente achar ruim ver vocês se beijando no altar, ou demonstrando afeto para as fotografias ou na pista de dança, os modelitos que vocês escolherem, ou qualquer outra maneira que vocês quiserem usufruir seu momento. Esses parentes mais “tradicionais” ou conservadores podem tentar deixar vocês com vergonha. Não deixe que façam isso. Eles não são os árbitros do que é apropriado. Eles apenas sofrem do que eu chamo “Ambivalência quanto à atenção”: desagrado por se expor a verdade quando ela desvia da norma, o que faz com que alguns reclamem quando você sobe no palco. O problema aqui são eles, não vocês.

Às vezes é possível até conseguir algumas boas sugestões desses mesmos parentes. Pergunte a eles como foram seus casamentos, quais os conflitos que eles tiveram com parentes e como fizeram para resolvê-los quando planejavam suas cerimônias. Você pode acabar desarmando-os e encontrando conexões em lugares inesperados.

O que você recebe é mais importante do que o que você entrega

Homos ou héteros, todos nós enfrentamos o mesmo dilema no casamento: como celebrar quem somos e quem nós amamos, e como levar as pessoas mais importantes de nossas vidas conosco nessa jornada. O grupo que você reunir vai nutrir seus sentimentos – se você estiver preparado para receber o que eles vão lhe dar.

 

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11 comentários

Samara

Olá, eu e minha namorada iremos nos casar, mas não temos ideia de como fazer, não queremos só aquela coisa de ir ao cartório e pronto, queremos uma festa com uma pessoa para celebrar todo o momento como o padre ou o pastor faz, mas não sabemos onde procurar ou quem faz isso. Gostaria de saber como foi esse processo no seu. Obrigada.

Maria de lourdes

Meu nome e Maria de Lourdes sou celebrante e considero muito interessante aborda esses assuntos do casamento homoafetivo. Já celebrei casamento homoafetivo e foi tudo muito respeitoso e as noivas ficaram muito felizes.

Elton

Eu sou gay e fui molestado, então eu sou meio suspeito pra falar disso.
Eu não sei se me tornei gay porque fui molestado ou se fui molestado porque desde cedo já demonstrava ser gay.
Mas daí a achar que a homossexualidade é algo contagioso é outra história.
Eu também me chamo Elton :v

Elton

Oi pessoal do Lado Bi. Meu nome é Elton, tenho 18 anos e sou gay.O problema é que meu pai é pastor evangélico e acha que gays “molestam as crianças para transformá-las em gays também. Todo gay um dia já foi molestado e que no tempo dele não tinha tanto gay.” Eu sou do interior do Paraná, Cascavel, e queria saber quantas pessoas na sociedade pensam como o meu pai. Se forem muitas, não sei o que faço. Conto com a resposta franca de vcs, obrigado!

Marcio Caparica

Oi Elton. Muito poucas pessoas pensam como seu pai. Não há correspondência entre ser molestado e tornar-se gay – eu sou gay e nunca fui molestado, por exemplo.

Elton

Oi Marcio, valeu pela resposta! Eu sou professor de inglês numa escola qui da minha cidade e eu acho que sou um pouco efeminado. Quer dizer que os pais não vão ligar?

Lucio

Olá Elton, como sou gay e um estudante livre sobre literatura queer em geral posso te garantir que isso não é uma regra, aliás os casos de abuso sexual são predominantemente heterossexuais, existem inúmeros estudos e pesquisas que apontam isso, então chegar a conclusão de que alguém se torna homossexual por ter sido abusado sexualmente na infância é um enorme equivoco, senão uma ignorância muito tendenciosa.

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