Traduzido do artigo de James Nichols para o Huffington Post
E se seus ícones favoritos e os maiores ícones pop fosse reimaginados… como bonequinhos Meu Pequeno Pônei?
Esse é o conceito por trás da série “My Little Pop Icons” (Meus Pequenos Ícones Pop), da artista finlandesa Mari Kasurinen. A inspiração da artista para esse projeto deriva da obsessão na era digital com o marketing pessoal, e o que significa transformar esse tipo de marketing num comentário sobre o individualismo e o consumismo. Apesar de nem todas as obras de “My Little Pop Icons” terem viés LGBT, muitas de suas peças representam ícones da cultura LGBT – incluindo um inspirado em Tom of Finland.
Kasurinen, inclusive, afirmou ao Huffington Post que pretende tomar “My Little Pop Icons” como ponto de partida para outra série, de Pequenos Pôneis LGBT. Confira a entrevista com a artista a seguir.
Por que você decidiu criar a série “My Little Pop Icons”?
Eu criei minha primeira escultura dessa série em 2008, quando eu ainda estava na faculdade de artes. Eu estava procurando uma forma de expressar o que penso sobre o materialismo e individualismo dos dias de hoje. Eu me interessava muito pelo fenômeno de se customizar tudo. A sociedade consumista, nossa cultura supervisual, e as mídias sociais nos obrigam a tornar tangíveis nossas identidades e personalidades – a dar-lhes forma física. Nossa aparência externa tem que (e vai) representar nossas qualidades interiores. Eu percebi que as instruções e as regras a respeito desse fenômeno estavam condensadas e representadas mais claramente na cultura popular dedicada a celebridades e ícones pop. Essas pessoas famosas são apresentadas para nós como exemplos, ideais – até mesmo autoridades. Eu queria combinar essa necessidade imensa que temos de ter nossa identidade particular com as identidades dos ícones pop, que estão mais para um fenômeno do que para pessoas reais e privadas. Eu queria estudar o culto da personalidade.
Eu escolhi usar os brinquedos como base para o trabalho porque brincar é a maneira das crianças de explorar e compreender o mundo que as cerca. Elas aprendem a viver e agir como indivíduos por meio da imitação. E eu percebi que a fronteira entre crianças e adultos desapareceu no âmbito do fenômeno que estava estudando.
Logo depois de montar o primeiro “My Little Pop Icon” eu descobri o inebriante e complexo mundo do marketing pessoal. Hoje eu dia, com essa série, eu foco a maior parte do meu tempo em estudar as marcas pessoais; a amálgama de imagem e fama e associações escolhidas cuidadosamente, que se dividem entre a identidade fundamental e a identidade estendida. Foi fascinante ver como a forma de se gerenciar uma marca pessoal foi responsável pelo fracasso de marcas planejadas cuidadosamente, ao mesmo tempo que mantém essa marca pessoal viva. Eu construo a marca pessoal de cada autoridade pop dentro da série “My Little Pop Icons”, uma associação de cada vez, usando apenas elementos visuais.
Como você selecionou quais ícones LGBT representar nesse trabalho?
Algumas das peças dessa série são encomendas. Isso quer dizer que o cliente queria que eu reproduzisse alguma pessoa bem específica, ou até mesmo que ele mesmo fosse retratado. É incrivelmente interessante ver como as pessoas, principalmente celebridades e ícones pop, convivem, mantém e comunicam sua própria marca pessoal. Quando eu seleciono uma pessoa sobre a qual criar um “My Little Pop Icon” por vontade própria, eu tendo a escolher personagens ou pessoas que eu considero serem ícones ou fenômenos de seu próprio tempo e que, na minha opinião, tiveram grande impacto na cultura popular. Pessoas que mudaram as coisas para sempre – às vezes para melhor, às vezes para pior. Frequentemente essa pessoa é alguém que eu admiro e respeito ou considero particularmente interessante, original ou inspiradora no que se refere ao marketing pessoal. Eu gosto de retratar pessoas cuja marca pessoal é visualmente multidimensional, desafiadora e que representa algo além do que se vê na superfície. Todos os ícones LGBT que eu retratei foram escolhidos tendo isso em mente.
Por que você acha que é importante termos “ícones” dentro da população LGBT?
Acho que é importante ter ícones em geral. Especialmente dentro de populações como a LGBT, que têm que enfrentar e lidar com discriminação, preconceito e até mesmo racismo, hostilidade e violência. Numa situação ideal ícones têm um efeito positivo na vida das pessoas por meio de sua existência, exemplo e ações. Elas são pessoas que dão inspiração, força e coragem, ou nos ajudam a expandir nossas perspectivas.
Por outro lado, quando colocamos questões ou pessoas num pedestal o resultado pode ser um tanto imprevisível – especialmente se essas pessoas são parte da indústria do entretenimento e têm que representar antes de mais nada sua própria marca pessoal. É uma faca de dois gumes, capaz de também causar muito dano. Uma admiração saudável e inspiradora pode se transformar numa obsessão que começa a causar prejuízos e desencadear efeitos colaterais prejudiciais. Você pode se dispor a alterar sua própria personalidade e identidade para preencher os pré-requisitos que o culto da personalidade emite. Hoje em dia os ícones pop são escolhidos muito facilmente pela cultura popular como representantes de minorias. Para tornarem-se seus porta-vozes, digamos. Esse fenômeno da marca pessoal se aproveita muito disso e, na maioria dos casos, leva a um comportamento consumista desejado e controlado, ao invés de trazer algum benefício para essa minoria que teoricamente está sendo representada.
Você pretende expandir essa coleção no futuro? Como?
Sim, eu tenho muitos projetos e colaborações para novos “My Little Pop Icon” pela frente! Eu quero muito colaborar com outros artistas colegas meus e, também, os próprios ícones pop. O fenômeno da marca pessoal continua a me inspirar por causa de sua habilidade incrível de se alterar, se adaptar e se preparar para o futuro.
Muitos dos “My Little Pop Icons” que estão por vir são gigantes LGBT que têm marcas pessoas brilhantes, únicas e multidimensionais. Eles vão ganhar sua própria série num futuro próximo. Nesse momento eu tenho a série “My Little Pop Icons” básica e também a série “My Little Pop Icons – Ponies of Power”, que consiste de mulheres históricas de grande influência e estuda a autoridade e o poder, e a interação desses elementos. No que se refere à futura série LGBT, eu adoraria retratar Cher, Madonna, mais estrelas de cinema da Era de Ouro de Hollywood, drag queens e estrelas burlescas famosas… É fascinante como é possível passar horas simplesmente escolhendo o que elas deveriam vestir – como “apenas um vestido” pode representar uma parte tão grande da marca pessoal. Às vezes eu organizo enquetes nas mídias sociais e pergunto para as pessoas o que elas gostariam que um ícone pop em particular vestisse ou que estilo ou período deveria ser utilizado para representá-lo na série “My Little Pop Icon”. Aliás, eu podia aproveitar e perguntar para vocês: o que vocês gostariam que uma “My Little Cher” vestisse?