Por que os gays são os melhores chefes

Alguns dos maiores manda-chuvas do mercado têm uma coisa em comum: a homossexualidade

por Marcio Caparica

Matéria de Danielle Sacks, originalmente publicada na revista Details

Meros três meses depois de ter conseguido um emprego como gerente sênior numa companhia da lista das top 500 na revista Fortune, Matthew Klein já não dava mais conta. “Chegou a hora em que eu tive que chegar no escritório do meu chefe, erguer os braços  e dizer ‘Acho que isso é demais para mim, eu não sou a pessoa certa!'”, ele se recorda. “Basicamente eu entrei em colapso.” A reação da maior parte dos chefes teria sido mandar o rapaz de volta para sua mesa e virar homem. Mas o chefe de Klein teve a reação oposta: primeiro ele acalmou o subordinado, dizendo que ele estava indo bem em sua função, e daí o ajudou a priorizar suas tarefas, para que ele conseguisse administrar tudo. “Não ache que ele é um cara bonzinho, capaz de atravessar a mesa durante uma reunião para te dar um abraço – ele é linha dura”, diz Klein ao descrever seu chefe, Robert Ollander-Krane, diretor de aprendizado e desenvolvimento da mesma empresa. “Ele apenas permitiu que eu fosse inteiramente honesto sobre as circunstâncias em que estava. Agora há uma grande confiança entre nós.”

Que sonho: um chefe que realmente se importa. E apesar de não ser cientificamente comprovado, muitas opiniões  levam a crer que uma das razões por que Ollander-Krane lida tão bem com sua equipe é que ele faz parte de um novo tipo de gerente – os gerentes gays – que podem vir a se tornar os chefes mais desejados pelo mundo executivo.

No livro The G Quotient: Why Gay Executives Are Excelling As Leaders… And What Every Manager Needs To Know (“O quociente G: por que executivos gays estão encontrando o sucesso como líderes… e o que todo chefe precisa saber”), o autor e professor de administração da Universidade do Sul da Califórnia, Kirk Snyder, argumenta que chefes gays representam um estilo de atenção individual que faz com que os empregados da geração X e Y, sempre tão difíceis de satisfazer, deem tudo de si. “Executivos gays tendem a observar as habilidades únicas de cada individual, e consideram que seu trabalho é usar cada uma dessas habilidades da melhor maneira possível”, ele afirma.

Ao longo dos cinco anos em que realizou sua pesquisa sobre os executivos norte-americanos, ele fez descobertas surpreendentes: os níveis de dedicação, satisfação e moral conseguidos por chefes gays são 35 a 60% maiores que os conseguidos por chefes heterossexuais. Isso é uma verdadeira façanha: de acordo com a consultoria de recursos humanos Towers Perrin, apenas 14% da força de trabalho global de executivos vestem a camisa das empresas em que trabalham. O Saratoga Institute, um grupo que mede a eficácia de departamentos de recursos humanos, fez um estudo com 20 mil funcionários que haviam pedido demissão. Seus resultados apontam que a principal razão para eles abandonarem o barco era o comportamento de seu supervisor.

E o que torna os chefes gays diferentes? Pode ter a ver com a maneira como eles sobreviveram à adolescência. “Os gays têm que avaliar e repensar constantemente os rumos de suas vidas conforme crescem”, aponta Snyder. “Isso se transforma em três habilidades importantíssimas: capacidade de se adaptar, intuição para se comunicar, e criatividade para resolver problemas.” Ou seja, esse chefe não vê problema em você sair mais cedo um dia para buscar o filho na escola, e fica feliz em passar uma lição importante que vai ajudá-lo a fechar um acordo de negócios.

Executivos gays também lembram que, por causa da sinceridade e auto-reflexão necessárias para que se saia do armário, os homossexuais chegam ao mercado de trabalho muito mais seguros de sua identidade. Assim sendo, não sentem necessidade de humilhar pessoas para inflar seu próprio ego. “Sair do armário faz com que o indivíduo seja muito honesto consigo mesmo e com aqueles a seu redor”, acredita Chris McCarthy, um dos vice-presidentes da MTV Networks, fora do armário há 10 anos. Ele acredita que essa experiência tornou-o capaz de se conectar com as necessidades individuais dos sete membros de sua equipe, inclusive de dois funcionários insatisfeitos, que ele ajudou a encontrar novas posições dentro da companhia. “Acho que é muito importante dar às pessoas a oportunidade de cultivar o respeito próprio, mesmo que isso signifique ajudá-los a abandonar o emprego em seus próprios termos”, ele explica.

Esse tipo de liderança com empatia beneficia subordinados gays e héteros. Quando Brian Wachur, 23 anos, sentiu que não estava conseguindo a promoção que esperava na empresa de relações públicas em que trabalhava, ele procurou seu chefe gay, Jason Smith. “Eu estava nervoso sobre como ele iria reagir, mas recebi orientações sobre como poderia melhorar meu trabalho de maneira muito construtiva”, ele se lembra. “Foi uma diferença muito grande de outros chefes que eu tive no passado.” Não demorou muito e Wachur conseguiu sua nova posição, e hoje ele vê Smith com seu mentor profissional. “Chega a me surpreender que uma das maiores influências na minha vida seja um homem gay de 38 anos”.

Matthew Klein afirma que trabalhar para um chefe gay lhe ensinou que honestidade emocional não é sinônimo de fragilidade no ambiente de trabalho. “O homem hétero típico está programado desde garoto para ter apenas duas emoções: raiva e exaustão”, ele considera. “Essas são limitações brutais que restringem nossa habilidade de sermos grandes líderes.”

Ser gay, no entanto, não quer dizer um monopólio nas habilidades gerenciais. “Os únicos chefes que são bem-sucedidos são aqueles que têm energia, e são expansivos e interessados”, argumenta Richard Laermer, CEO de uma empresa de relações públicas, gay, e co-autor de Punk Marketing: Get Off Your Ass And Join The Revolution (“Marketing punk: se levante da cadeira e faça parte da revolução”). “Se isso faz parte da personalidade gay, então parabéns, mas eu também conheço uma grande quantidade de chefes héteros que estão em contato com as próprias emoções e se importam com as pessoas a seu redor”. E um gay vice-presidente de uma empresa de finanças aponta que suas qualidades de liderança não são relacionadas a sua orientação sexual, mas vêm de sua história de vida. “Eu fiz parte do exército, de grupos na universidade, e fiz parte de times amadores”, ele relembra. “Eu tenho a impressão de que tenho que passar a vida explicando que o que eu digo ou faço não tem nada a ver com o fato de que sou gay.”

Isto posto, se o seu novo chefe calha de ser gay, as probabilidades são maiores de que você vai ser mais feliz e mais satisfeito em seu emprego. E mesmo que você não seja, o prêmio de consolação é que há pelo menos uma área em que ele provavelmente vai mandar bem. “Nós damos as melhores festas de final de ano!”, diz Smith.

Nota do Marcio: devo dizer que minha melhor chefia era homossexual!

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