Segunda-feira, enquanto eu corria com meus trabalhos e atividades, James me mandou uma mensagem, todo empolgado: “Bi, você viu isso?”, e um link para um dos inúmeros artigos que repercutiam o vídeo em que o mergulhador britânico Tom Daley diz que está namorando um cara.
Como acontece inúmeras vezes por dia em “minirreuniões de pauta” entre nós dois, eu respondi que já sabia e que não achava que valia nota. Justifiquei: “acho que alguém sair do armário não deve ser mais notícia”. Por mais gatinho que esse alguém seja. A não ser que se trate, sei lá, d@ presidente. Maria Bello se declarou lésbica, Bob Harper (#01sonho) se declarou gay, Andrew Scott, Maulik Panchouly, Benjamin Deeds (dos X-Men)… E todos esses só nos últimos 30 dias. Já passou da hora de parar de tratar isso como grande notícia, uma atitude que só reforça que relações homossexuais são de alguma forma excepcionais.
“Vem a loca agora fazer um post esquizofrênico dizendo por que não está escrevendo sobre o assunto que está escrevendo”, pensa alguém.
Quando eu vi as reações no Twitter (e até nos comentários do Globo Esporte), quase que vim aqui chover no molhado de que esse povo homofóbico deveria ter vergonha do que diz a um medalhista olímpico apenas porque ele namora outro cara. Mas o treinamento moderando os comentários desse blog e de nossas páginas nas redes sociais já me ensinou que tem que se deixar comentário raivoso de blog morrer por falta de atenção.
O que eu acho digno de comentar é que Tom Daley é a ponta (sarada e de sunguinha) de um iceberg que vai emergir cada vez mais pelos próximos anos.
Como aconteceu com tantos outros homens, Daley pensava a respeito, mas saía com meninas, até que se apaixonou por outro cara. Mas ele é um ídolo nacional. O que ele poderia fazer?
A primeira opção, padrão e histórica: esconder. Sair escondido, quem sabe em algum ponto arranjar uma namorada de fachada, se deixar aprisionar por seus patrocinadores e por seus fãs britânicos.
A segunda opção, mais, vamos dizer isso ainda, corajosa: sair do armário batendo o pé na porta. Quantos editores de revista não entregariam seus olhos numa bandeja (junto com os da mãe inválida) para ter, em sua capa, uma entrevista exclusiva em que Tom Daley conta que está apaixonado por outro homem? Esse é o tipo de ação que faz um relações públicas gemer de prazer.
Mas o que é que o garoto faz? Encosta no seu quarto, liga o celular, e bate um papo muito sincero com o mundo. Ele dá à questão a medida certa de sua relevância: é algo importante (para ele principalmente), mas não é nada excepcional. Acaba com a diversão de toda a indústria da fofoca (que daí teve que se ocupar nos dias seguintes tentando descobrir quem é o namorado) e desarmou quem gostaria de mais uma vez tratar uma relação homossexual como um misto de circo e zoológico.
Além de tratar de seu relacionamento com naturalidade, Tom Daley evita colocar um rótulo no que está vivendo. Ele diz en passant que claro que ainda sente atração por meninas. Mas que no momento quem lhe faz feliz é outro cara. Muito da imprensa correu dizer que ele se assumia gay. Na real, como muitos outros homens em seus 19 anos, muito provavelmente a questão ainda não está encerrada para ele; pode ser que com o passar do tempo ele realmente constate que só curte de verdade homens e se sinta à vontade para vestir o chapéu gay. Pode ser que ele continue num esquema 50/50, mais pra frente faça outro vídeo dizendo que agora tem uma namorada (e daí imagina o furor dos opinadores de internet nesse dia!). Quem sabe até essa paixão nunca mais se repita e ele vire um senhor hétero casado cheio de filhos. Se o autor da declaração não está pondo um ponto final em sua orientação, não são os outros que devem fazer isso.
Sempre faço o seguinte comentário para minhas amigas: elas dizem pras mães hoje “Mas, mãe, jura que você só transou com o pai a vida inteira?? Se você casou virgem, como é que você sabia que queria casar com ele?”. Seus filhos e filhas vão dizer pra elas “Mas, mãe, jura que você só pegou homem a vida inteira?? Como é que você sabia que gostava de homem se nunca experimentou mulher?”. Muitas nunca tinham pensado a respeito. Muitas riam.
Mas tá aí Tom Daley, primeiro expoente de uma geração que vai tratar as questões de sexualidade com muito mais leveza que todas as anteriores. Um movimento que os conservadores estão tentando brecar a todo custo, sem muito sucesso. Cada vez mais as figuras conhecidas vão contar que se relacionam com alguém do mesmo sexo (vai demorar um pouco para isso acontecer aqui no Brasil, mas vai acontecer). E a decisão se aquilo é ou não notícia vai levar em conta outras características dos envolvidos além do gênero. Porque um romance homossexual vai ser algo tão carne-de-vaca entre os leitores que seus jornalistas vão ter que encontrar outro ponto de interesse para atrair seus cliques.
Isso, eu tenho certeza, é uma promessa de um futuro melhor.
Em tempo: parabéns, Tom Daley!
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Eu acho que, por enquanto, este é um assunto que precisa ser falado, sim. Até que se provasse o contrário, ele seria heterossexual. O mundo subtende-se que todos sejamos heteros e que uma minoria, distante, sempre o primo, o moço da novela, seja gay ou lésbica, que não merece atenção, e sim a invisibilidade. Quanto mais de nós existe em diferentes áreas, mais representação temos, mais visíveis nos tornamos, e consequentemente mais respeito, direitos e atenção necessária no combate ao preconceito – isso no mundo inteiro. Resumindo: o out é muitíssimo bem-vindo e merece ser notícia, ainda.
No mais, acho bobo vasculhar a vida pessoal de qualquer celebridade, mas isso não é excecionalidade de gays e lésbicas – vide o caso Cauã, Grazi e Isis. Algumas pessoas têm curiosidade, jornalistas falta de assunto. É só não dá atenção.
Não tenho tanta certeza de que nesse caso atenção e visibilidade formam o caminho ideal para o respeito, que juntamente com a aceitação (não esbarrando na questão de concordar ou não) são intrínsecos. Assim como alguém que bebe e sai dirigindo por aí, arriscando a vida de outras pessoas, deve ser altruísta e respeitar primeiro o próximo, o mesmo deve acontecer com relação à orientação sexual, ou seja, vem de dentro a vontade de pensar sobre isso e chegar à conclusão de que o respeito é indispensável (claro que um incentivo para que a questão seja refletida com mais calma seria muito bem vindo; incentivo este que – pisando em terreno instável – as igrejas poderiam muito bem dar a seus seguidores, já que alcançam um número grande de pessoas que são, na maioria das vezes, pouco flexíveis a até mesmo cogitar tocar nesse assunto. Mas aí as igrejas é que teriam que ser mais flexíveis…).
Outra coisa que não concordo é isso de se subentender que todos são héteros até que se prove o contrário (até pq isso causa bastantes mal-entendidos). Até onde sei perguntar não mata.
Ele foi bem corajoso. Por mais que o natural fosse ele não precisar fazer isso e se relacionar com quem quisesse, na hora que quisesse, no lugar que quisesse, ainda assim as celebs tem q “oficializar” a orientação de certa forma, porque, caso ele fosse “pego no flagra” ficando com outro homem, seria algo bem maior do que foi (o que poderia atrapalhar até mesmo a carreira do jovem). Portanto, parabéns a ele e força (ou coragem) para os que querem fazer o mesmo. : )
P.S.: Me admira esses homofóbicos ficarem de plantão fazendo comentários… Se eles não concordam com/aceitam nada que está escrito aqui, porque estão lendo o blog?