Teclado com arco-íris

Economista usa dados do Google para estimar população gay

Pesquisa avalia que 5% dos homens norte-americanos seja gay, mas a maioria ainda não saiu do armário

por Marcio Caparica

Qual porcentagem da população é gay? Essa é uma questão famosa pela dificuldade em ser respondida, dada a tendência em se mentir em pesquisas que abordam o assunto – e as poucas maneiras de se conferir os resultados empiricamente. Ao longo da história as pesquisas já trouxeram números que variam de 2% a 10% da população.

O economista Seth Stephens-Davidowitz, doutor em Harvard, publicou no último domingo um artigo no jornal The New York Times em que divulgava alguns resultados de suas pesquisas. O estudioso analisa, além de pesquisas tradicionais, informações sobre termos usados em mecanismos de busca como Google, redes sociais como o Facebook e informações em sites de encontro. Suas conclusões: 5% da população de homens nos Estados Unidos sente atração predominantemente por homens, a maioria vive no armário, e grande parte deles está casada com mulheres.

Stephens-Davidowitz analisou as estatísticas agregadas (e anônimas) fornecidas pelo Google dos termos utilizados por seus usuários. Ele constatou que, das buscas por termos ligados a pornografia, aproximadamente 5% continham palavras associadas a homens homossexuais – termos como “gay porn” ou “Rocket Tube”, um site de pornografia gay muito popular.Ele também aponta que a frase “Is my husband gay” (“Meu marido é gay?”) é a mais popular nessa estrutura – e surge em maior número nos estados mais conservadores. Ela está 10 pontos percentuais acima da segunda colocada, “Is my husband cheating” (“Meu marido está me traindo?”).

O economista então compara esses dados com as informações de institutos de pesquisa nacionais como o Gallup e as informações do Facebook, que demonstram que o número de homens abertamente gays varia de 1% (nos lugares mais conservadores) a 3% (nos mais liberais). Em pesquisas anônimas (que mesmo assim não são garantia de sinceridade) 3,6% dos homens se declarou homossexual. Conclusão: uma grande parcela dos gays norte-americanos continua no armário.

Stephens-Davidowitz também reforça que a avaliação pela quantidade de termos ligados à pornografia gay tem a vantagem de que os usuários as estão fazendo na privacidade do próprio lar – e, portanto, dando vazão a comportamentos que podem estar escondendo da sociedade. Enquanto o número de perfis no site Match.com de homens gays  que buscam encontros casuais, ou de anúncios no site Craigslist com o mesmo fim, variam de estado para estado – nos mais repressores o número deles cai bastante – o número de buscas por conteúdo sexual gay nos mecanismos de busca genéricos é constante por todo EUA.

Ele resume seus resultados em uma frase: “Há uma quantidade imensa de sofrimento secreto nos Estados Unidos que pode ser atribuída diretamente à intolerância à homossexualidade.”

No fim de seu artigo, ele oferece algo mais humano:

Às vezes me canso de ficar olhando para dados agregados, então pedi que um psiquiatra do Mississippi especializado em auxiliar gays que vivem dentro do armário procurasse um paciente que aceitasse conversar comigo. Um deles entrou em contato. Ele me contou que é um professor universitário aposentado, na faixa dos 60 anos, que está casado com a mesma mulher há mais de 40 anos.

Mais ou menos 10 anos atrás, tomado pelo estresse, ele procurou terapia e finalmente aceitou sua sexualidade. Ele sempre soube que sentia atração por homens, disse ele, mas pensou que era normal e algo que os homens escondiam. Pouco depois de iniciar a terapia, ele teve seu primeiro, e único, encontro sexual gay, com um de seus alunos, de quase trinta anos de idade. Uma experiência que ele descreveu como “maravilhosa”.

Ele e sua mulher não fazem sexo. Ele diz que se sentiria muito culpado se um dia encerrasse seu casamento ou se envolvesse com um homem. Ele se arrepende de todas as principais decisões que tomou na vida.

O professor aposentado e sua esposa vão passar mais uma noite sem amor romântico, sem sexo. E apesar de tanto progresso, a persistência da intolerância vai fazer o mesmo com outros milhões de pessoas.

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4 comentários

Marcos

Muito boa a matéria, entretanto há um “gap” nela…

A pesquisa não menciona os homens e mulheres que não sabem ainda que são gays.

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